A onda inflacionária global, com a desorganização das cadeias de produção por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia logo após a pandemia, é um dos principais fatores de risco para alocação de investimentos, diz José Alberto Tovar, sócio-fundador da Truxt Investimentos. Mas o Brasil tem a seu favor a melhora dos seus termos de troca com o impulso das exportações de produtos agrícolas e minerais, e pelo fato de ter subido os juros mais cedo. “O Banco Central veio na frente e daí o fluxo para ações de commodities e o ingresso de dólares no Brasil, com desmonte de hedges porque ficaram caros com o diferencial de juros”, afirma Tovar. “O dólar sair de R$ 5,40 para R$ 4,75 é um belo movimento para o Brasil neste momento.”
A inflação local preocupa, diz Tovar, porque ainda está alta e difusa e é um imposto que machuca os mais pobres, é impopular. Com a sinalização do BC de que fará uma pausa após elevar a Selic em 12,75% na reunião do Copom de maio, Tovar cita que os contratos de juros com vencimento em janeiro de 2025 pararam de subi. Mas, em sua avaliação, o aperto vai um pouco mais longe, até 13%, 13,25% ao ano.
O freio do BC coincide com a fase pré-eleitoral e o governo se mostrando disposto a fazer “todos os movimentos de generosidade fiscal — FGTS, auxílio gás, antecipação do 13º salário e tentando segurar o preço da gasolina para ser competitivo na eleição”. Ou seja, a autoridade monetária fica no ponto morto enquanto a política fiscal pisa no acelerador.
Apesar da dinheirama que entrou na Bolsa, a Truxt não aumentou sua alocação, não está no topo do risco, afirma Tovar. No ano passado, as posições em ações ligadas à economia doméstica afetaram a carteira, mas agora esboçam recuperação. O executivo está entre os que acreditam que o fluxo estrangeiro é uma onda para emergentes, não “uma alocação de longuíssimo prazo”, e pode ser circunstancial já que Rússia está praticamente fora do jogo, a Índia está cara e a China não pode mais ser considerada uma economia em desenvolvimento.