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Prêmio de risco: o que é e como calcular?
Novo governo, crise econômica que se prolonga, crise social, instabilidade política e rumores e concretizações de pedidos de recuperação judicial e falência no cenário corporativo. Esses são alguns dos ingredientes do Brasil de 2023 que elevam o chamado prêmio de risco para os investimentos.
A Inteligência Financeira conversou com especialistas que explicam o que levar em conta para saber o prêmio de risco de cada investimento está adequado, e como pode ser calculado. Mas, antes disso, é preciso entender o que significa exatamente esse conceito.
O que é prêmio de risco?
Em resumo, o prêmio de risco é um retorno adicional que um ativo ou investimento oferece em relação ao ‘ativo livre de risco’. No Brasil e na maior parte do mundo, esse ativo considerado mais seguro são os títulos públicos.
“Assim, esse conceito nada mais é que uma métrica para justificar a exposição de risco do investidor. Quanto o investidor deve ser compensado para que ele tome mais risco. Quanto maior o risco, maior se espera de retorno”, explica Eduardo Lobo, gestor de renda fixa da Somma Investimentos.
Lobo ressalta que o conceito ‘ativo livre de risco’ é apenas teórico, já que há, sim, como o investidor perder dinheiro. “Os títulos públicos são considerados os ativos menos arriscados. Porém, os títulos públicos brasileiros também possuem prêmio de risco com relação ao título público dos EUA, que são mais seguros”, diz o especialista.
E esse prêmio de risco está ligado a um fator chamado Risco-país, que será explicado mais adiante. Além do título público, o especialista menciona também a Selic e o CDI como referenciais importantes para o cálculo do prêmio de risco.
Como é escolhido o referencial?
O referencial mais utilizado para calcular o prêmio de risco são os títulos do governo americano, por ainda serem considerados os títulos mais seguros do mundo, diz Acílio Marinello, coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de negócios.
“A taxa atual de juros definida pelo Fed está na faixa entre 4,50% e 4,75% (em fevereiro de 2023). Desta forma, podemos considerar esse parâmetro como a taxa livre de risco, ou seja, o ganho mínimo garantido possível se o investidor optar por investir nos títulos americanos”, explica o especialista.
Poupança ou Tesouro Direto como referência
Sendo assim, no Brasil, a rentabilidade da poupança ou dos títulos públicos ofertados pelo Tesouro Direto são usados como referência para calcular o risco. “O referencial utilizado pode ser definido pelos bancos e assessorias de investimento ou, o que recomendo, pelo próprio investidor”, diz Acílio Marinello, Coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de negócios.
Para Marcos Iorio, gestor da Integral investimentos, no caso do mercado brasileiro, o ativo considerado ‘livre de risco’ é o título público pós-fixado de curto prazo, a LFT (Letra Financeira do Tesouro). “A partir das LFTs, portanto, a demanda pelo ativo define o chamado ‘spread de crédito’, outro nome para o prêmio de risco no mercado de crédito privado”, explica.
Como calcular o prêmio de risco?
Tendo a taxa livre de risco definida, é possível iniciar as avaliações para chegar ao prêmio de risco. A fórmula é simples.
- Prêmio de risco = retorno esperado – taxa livre de risco
“O retorno esperado é a rentabilidade estimada do ativo em que deseja investir, enquanto que a taxa livre de risco é a rentabilidade do ativo de baixo risco selecionado como referencial (que poderia ser os títulos americanos ou a nossa poupança e títulos do Tesouro Direto)”, explica Marinello.
Exemplo
Dessa forma, se o referencial for a poupança, a rentabilidade acumulada foi de 8,05% nos 12 meses até janeiro de 2023. Caso o investidor queira investir em um fundo de investimento imobiliário, com retorno esperado de 15% ao ano, por exemplo, é preciso aplicar a fórmula para comparar esses investimentos mais arriscados à referência que ele escolheu:
- Prêmio de risco = 15% (retorno esperado) – 8,05% (taxa livre de risco; poupança)
- Prêmio de risco = 6,95%
Risco-Brasil embutido
Ao adquirir qualquer título ou ação de empresas brasileiras, o investidor está exposto ao Risco-país, ou seja, às questões políticas e econômicas (como taxas de juros, riscos políticos e fiscais) que envolvem aquele território. Por isso, mesmo os títulos públicos brasileiros contêm algum risco, embora as chances de o governo não pagar seus credores sejam pequenas.
No caso de o investidor escolher emprestar dinheiro a uma empresa via crédito privado ou ser sócio dela ao comprar ações, o risco envolvido contempla as condições da empresa e do setor no qual ela atua. “Por conta desses fatores, é natural que o investidor demande um retorno adicional ao dos títulos públicos brasileiros, que só contemplam o Risco-Brasil”, afirma Lobo.
O que levar em conta para tomar risco?
A decisão por buscar um prêmio maior deve ser tomada com base em diversos fatores, segundo Lobo. “A possibilidade de tomar risco está relacionada a fatores mais objetivos como a idade, renda, o horizonte de rendimento, necessidade de liquidez, enquanto a disposição já é um fator que faz parte do psicológico de cada um”, explica o especialista da Somma.
Além disso, é preciso considerar o momento econômico e político do país. “Em momento de expansão econômica, é comum encontrar resultados em títulos públicos, ações, debêntures, isso traz uma sensação de que é proveitoso tomar risco, mas em uma eventual mudança de chave, com retração econômica, os ativos tendem a perder valor. Cenários econômicos positivos são atrelados a menores prêmios de risco”, diz Lobo.
Iorio, da Integral Investimentos, ressalta que, a conjuntura influencia bastante na decisão pela tomada de risco, mas as decisões precisam respeitar o perfil de cada investidor. “Quem tem maior apetite de risco ou mais educação financeira pode arriscar mais. Também a quantidade de dinheiro e a possibilidade de perder uma quantia maior sem afetar muito o patrimônio são questões que acabam favorecendo a busco por prêmios maiores”, afirma.
Como identificar o melhor prêmio de risco?
Dessa maneira, para achar o melhor prêmio de risco é preciso comparar investimentos disponíveis e a relação risco/retorno de cada um deles. “Aqueles que acabam tomando risco maior têm que exigir prêmio maior porque a probabilidade de não receber os proventos no futuro crescem”, diz Iorio.
Assim, para saber se o prêmio de risco está adequado, é preciso comparar empresas de um mesmo setor, no caso do crédito privado ou do mercado de ações, explica Lobo.
“É razoável esperar que empresas de um mesmo setor e mesmo porte, com eficiência e estrutura semelhantes, ofereçam uma expectativa de retorno parecida. Caso haja divergência, é um sinal de que um dos ativos não está bem precificado. Isso quer dizer que um dos prêmios de risco está abaixo do aceitável e não deve ser considerado como opção”, afirma.
Em resumo, momentos de mau humor do mercado oferecem boas oportunidades, mas é preciso conhecer as particularidades de cada empresa para reduzir as chances de erro. “As melhores pechinchas são encontradas em momento de estresse e abrangem ativos de empresas resilientes, que podem até sofrer em um momento conturbado do mercado, mas que não perdem a qualidade durante a queda”, avalia.
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