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Mulheres: como elas estão investindo hoje?
As mulheres têm ocupado cada vez mais o papel de destaque em ambientes e cargos que um dia foram designados como estritamente masculinos. No empreendedorismo, por exemplo, grandes nomes femininos têm chamado a atenção por meio de projetos e lideranças inovadoras. Por outro lado, nos investimentos, o cenário se difere um pouco, principalmente em quantidade.
Isso porque, segundo dados da Anbima, 72% das mulheres ainda não investem, contra 62% dos homens. E há diversas razões para isso, mas três são as principais:
- A falta de dinheiro, que impede 62% delas de realizar qualquer tipo de aplicação financeira;
- O desconhecimento do mundo dos investimentos, que é visto socialmente como masculino;
- A responsabilidade de cuidar de cônjuges e filhos.
A situação é ainda mais crítica ao analisarmos, como pontuado por Bia Santos, CEO da Barkus, que mulheres costumam ganhar menos do que homens, apesar de mulheres brancas, em média, ganharem mais do que homens negros.
“A realidade financeira também pode ser um limitador quando pensamos em investimentos, principalmente levando em consideração o perfil mais cauteloso das mulheres, explica Bia.
Sabia, por exemplo, que metade das mulheres brasileiras são responsáveis financeiramente pelos filhos e 35% pelo cônjuge? Por isso, se investir for um campo desconhecido, elas dificilmente irão arriscar perder estabilidade financeira.
E ao mesmo tempo que o medo de não ter as finanças estáveis é uma justificativa para muitas mulheres não investirem, também é a principal razão para elas terem, em sua maioria, um perfil de investidor em comum: o mais conservador.
Perfil de segurança
Para Bia, “por terem um perfil conservador, as mulheres costumam optar mais pelos investimentos em renda fixa e pela diversificação, porque são mais cautelosas quando fazem a gestão dos seus recursos”.
Essa cautela, pontuada pela especialista, é traduzida não só em investimentos mais seguros, mas também em escolhas de produtos com retornos financeiros a longo prazo. E isso se dá justamente pelas responsabilidades financeiras que elas possuem. “Desse modo, as mulheres acabam sendo mais pacientes com seus ativos, mantendo-os rendendo por mais tempo”, analisa Bia.
E foi essa a estratégia adotada por Thatiana Faria, 38, gerente de comunicação do Grupo Comerc Energia. Ela conta que aos 9 anos de idade já tinha uma poupança criada pelos pais, e que começou, definitivamente, a investir, quando conseguiu um estágio em uma empresa que tinha um programa de educação financeira que a apresentou, principalmente, à previdência privada, investimento que a acompanhou durante bons anos.
Ao longo do tempo, Thatiana adquiriu conhecimento e experiência. Deixou de lado a previdência privada pelas burocracias que, na época, dificultavam sua manutenção e passou a direcionar boa parte de seus investimentos na Comerc Energia, empresa que atua no momento em sociedade.
“Ano passado, ao passar por um processo de abertura de capital e venda para uma grande empresa de energia, minha participação foi convertida em ações da empresa, que poderão ser liquidadas com a aquisição total pelo acionista majoritário atual ou por algum outro evento de liquidez, como um IPO”, conta.
Mas, a gerente de comunicações sabe, após muito estudo, que investir em apenas um ativo não é uma opção segura. Por isso, ela ainda possui uma reserva de emergência no Tesouro Direto, em Fundos Imobiliários e algumas ações na Bolsa. Mas seu principal investimento ainda é na empresa de energia.
Investir? Sim, mas só quando tiver certeza
Outra característica da investidora atual é a autocobrança e a insegurança com seu conhecimento sobre o setor. “Mulheres demonstram menos segurança sobre os seus conhecimentos em relação ao mercado financeiro. Isso faz com que elas estudem mais até sentirem que estão aptas para realizar operações mais arriscadas”, afirma Bia.
No caso da Mônica Meyer Serra Zimpeck, 64, aposentada do serviço público estadual do Rio de Janeiro, não é diferente. Após o falecimento do marido, ela resolveu pegar o dinheiro recebido e investir em um banco. Depois disso, não parou mais. Tomou as rédeas da situação e foi autodidata: comprou videoaulas e um e-book online para aprender sobre investimentos.
Foi assim que, hoje, ela consegue ter uma carteira bem diversificada, como a da Thatiana. Mônica investe em ações brasileiras, americanas, ETF, Tesouro Direto IPCA+ e Selic e CDB de liquidez a curto prazo. “Aprendi com os educadores a ter uma carteira equilibrada com renda fixa e variável”, conta.
Com o foco nos estudos, Mônica não investe até entender plenamente sobre o assunto e se sentir segura no processo, assim como a maioria das mulheres brasileiras. Por isso, embora ela pense em investir em REITs americanos (um investimento do mercado imobiliário dos EUA), sabe que é uma meta para o futuro, porque, segundo ela, ainda precisa estudar muito sobre o assunto.
O receio de alguns ativos mais arrojados é comum: no caso de Mônica, a falta de um órgão regulador das criptomoedas não a atrai. Já para Thatiana, a insegurança envolve os altos e baixos do mercado de ações e também do setor de moedas digitais.
“Acredito que eu preciso estudar melhor para me sentir com segurança suficiente para investir mais. Cheguei a comprar um pouco de bitcoin também, mas deixei parado e não fui adiante”, conta a gerente de comunicação.
O círculo social: um processo
E por mais que existam alguns exemplos incríveis de mulheres investidoras, como é o caso da Thatiana e da Mônica, infelizmente elas ainda são poucas dentro do mercado de aplicação financeira, como pudemos ver nos dados da Anbima.
Inclusive, existem algumas mulheres que ainda acreditam que investir é o oposto de aproveitar a vida, como é o caso de familiares da Mônica.
“Acho que as mulheres da minha família gastam tudo o que tem e não poupam nada. Uma me disse que prefere viver e gastar bem pois não quer morrer sem aproveitar a vida. Mas podemos fazer tudo: poupar, crescer o patrimônio e aproveitar a vida também. É só ter critério”, pontua a aposentada.
Mas, esse tipo de pensamento tem mudado gradualmente. No círculo da Thatiana, por exemplo, o movimento já é diferente: o de buscar a informação.
“Vejo que há um movimento das mulheres no sentido de querer aprender mais sobre o tema. Eu mesma sempre compartilho livros e vídeos com amigas que querem aprender ou entender um pouco melhor. É uma mudança de comportamento”, acredita.
Classe social é impeditivo para a mulher investir
Entretanto, independente de quão avançadas no mercado, é importante que comportamentos financeiros saudáveis sejam disseminados, principalmente por meio da educação. É importante lembrar, além disso, que mesmo entre os 28% de mulheres que investem, há um recorte de classe.
Segundo Bia, “são as mulheres das classes A, B e C as que mais investem. Elas têm mais recursos para equilibrar as escolhas de hoje e do amanhã. Quando pensamos nas classes D e E, a falta de recurso é comum, o que faz com que essa população priorize, em geral, a compra de itens mais necessários ou urgentes do que o investimento deles no médio e longo prazo”.
Isso significa que facilitar o acesso e o entendimento a conteúdos do mercado financeiro, por exemplo, como acontece aqui na Inteligência Financeira, são um ótimo meio de dar o primeiro passo para que, em um futuro breve, o número de mulheres investidoras cresça cada vez mais.
Colaboração: Daniel Navas
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