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Robôs são programados para analisar relatórios e notícias. Como isso afeta seu bolso?
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Os fundos “quantamentals” usam estatísticas e informações
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O robô calcula a probabilidade de um ativo ter melhor e maior performance
Gestoras investem em algoritmos sofisticados para procurar, ler e consolidar informações sobre empresas em balanços, comunicados, relatórios, notícias e até redes sociais para montarem suas carteiras de ações. A quantidade total de dados criados, capturados, copiados e consumidos no mundo, em 2020, foi de 64,2 zetabytes, de acordo com a plataforma internacional de dados Statista. Estima-se que, até 2025, deverá chegar a 180 zetabytes. Cada zetabyte equivalente a um trilhão de gigabytes. Difícil alcançar tamanha proporção.
E o que isso tem a ver com investimentos?
Conforme o mercado de ações vai crescendo e amadurecendo no Brasil, com um número cada vez maior de empresas com ações listadas em Bolsa, a quantidade de informações aumenta vertiginosamente, incluindo balanços financeiros, comunicados ao mercado, fatos relevantes, bem como relatórios de análises de bancos, gestoras e corretoras e até repercussões e discussões em redes sociais.
É a partir dessa quantidade gigantesca de informações e dados que algumas gestoras de fundos quantitativos estão desenvolvendo uma nova estratégia de gestão, utilizando programação computacional para varrer, consolidar e estabelecer padrões e montar carteiras de ações e multimercado.
Os fundos quantitativos “puros” utilizam modelos estatísticos e matemáticos para “estudar” o comportamento das ações. Esse levantamento de dados e construção de modelos é realizado por algoritmos (ou robô, para ficar mais fácil de entender). O robô, então, calcula a probabilidade de um determinado ativo ter a melhor e maior performance no mercado, normalmente, acima da média do referencial adotado, como o Ibovespa.
A novidade são os fundos batizados de “quantamentals” (que é a junção de quantitativo com ‘fundamental’, fundamento em inglês), que utilizam estatísticas e desempenho passado dos ativos e informações e dados da tradicional análise fundamentalista. A grande diferença aqui é que essa análise é feita pelo robô, que consegue processar uma quantidade muito grande de dados, algo humanamente impossível. Outro diferencial proposto por essa estratégia de gestão é eliminar o “fator emocional” que sempre pesa em momentos de pânico ou de euforia, principalmente no mercado de ações.
Desvendando a “caixa preta”
“Essa estratégia de gestão nada mais é do que abordar a análise fundamentalista que os investidores já conhecem no mercado por meio de algoritmo, que faz a leitura dos relatórios de análise, das informações que as companhias publicam na plataforma da B3 e da CVM”, detalha Juliana Machado, analista de fundos do BTG Pactual. “Ou seja, ao invés de ser um analista que vai fazer isso, você vai ter um ‘robô’, que vai colher essas informações e transformar em dados”.
Juliana ressalta que a participação dos fundos quantitativos no mercado doméstico ainda é pequena, mas “é natural, já que o Brasil sempre responde com atraso a iniciativas lançadas no mercado internacional”. “Já teve um avanço muito grande no Brasil e, naturalmente, uma nova abordagem tende a favorecer a evolução do próprio mercado”.
Mas o que são os robôs?
Outro fator de resistência em relação à abordagem quantitativa e sistemática é a percepção de “caixa preta”, em que o investidor não consegue saber e entender como funciona a gestão do seu fundo de investimento. “É preciso desmistificar que ali tem um robô que age por conta própria e, em algum momento, ele vai fazer alguma coisa errada”, afirma Juliana.
Segundo a analista, é preciso esclarecer para o investidor que aquele robô foi configurado e programado por seres humanos – vários, já que é necessário uma equipe muito qualificada para desenvolver um algoritmo eficiente, analisando uma quantidade muito grande de dados, com muita velocidade.
Time de robôs, técnicos humanos
A “humanização” dos robôs chegou na Itaú Asset operados pela Quantamental, gestora incorporada em abril do ano passado, e tem um “time” formado por Eddie, Joel, Wace, entre outros algoritmos desenvolvidos para rastrear, analisar e sugerir ações para compor os fundos da gestora.
“Eu sou o técnico de um time de robôs, muito bem treinados – são 12 ao todo -, cada um com uma função bem definida e suas próprias habilidades”, afirma Victor Dweck, gestor e co-fundador da Quantamental. “Dessa atuação, é apresentada a carteira para o cliente. E o objetivo é o mesmo no futebol: marcar o gol, ou seja, entregar a rentabilidade para o cliente.”
Dweck detalha a “posição nesse campo de futebol” do robô Eddie, por exemplo, que faz a arbitragem estatística e procura divergências no mercado de ações que irão convergir em um curto período de tempo. Em outra área do campo, Joel estuda o balanço das companhias listadas na B3, construindo uma carteira de ações que deve bater o Índice Bovespa.
O gestor conta que, todos os dias, os algoritmos fazem uma varredura, pela manhã, antes de o mercado abrir, nos comunicados e fatos relevantes divulgados pelas empresas, no que está publicado nos principais sites de notícia e, mais recentemente, em todas as contas das empresas brasileiras no Twitter.
“Esses dados formam um ranking de relevância que deve ser observado pelo gestor pessoa humana”, explica. Não ficam de fora também os relatórios divulgados por analistas, principalmente os setoriais, assim como toda a análise interna e decisão tomada pela equipe humana também é transformada em dados e contribuem com a “opinião” dos robôs. “Até o momento, a base de dados construída a partir de relatórios tem quatro anos, já a base de dados estatísticos tem 15 anos”, conta Dweck, acrescentando que já há informações de empresas que podem ser estudadas de até 20 anos atrás.
Ressalva aos algoritmos
Um dos questionamentos em relação à abordagem quantitativa é o “bug” que acontece em eventos atípicos, como crises econômicas – como a de 2008 – ou uma pandemia, por exemplo. Dweck explica que é possível fazer “ressalvas” na atuação dos algoritmos em situações como essas, já que provocam um comportamento de mercado que não deve se repetir inúmeras vezes.
“Nesse casos, é preciso orientar os robôs a terem posturas mais conservadoras”, afirma. Ele conta que o Wace, por exemplo, foi desligado a partir da terceira semana de março de 2020, porque os analistas pararam de distribuir relatórios – material que o robô acompanha. “O Wace ficou um mês e pouco desligado – justamente em função do caos gerado pela pandemia”, explica.
Avaliação das ações
Cassiano Leme, presidente da Constância Investimentos, explica que a gestora adota um trabalho sistemático todo baseado em fundamentos. “Usamos computação para efetuar uma análise que na sua raiz é fundamentalista, que poderia ser feita manualmente, mas é totalmente automatizada”, reforça.
Ele explica que a modelagem de dados é a base para construir as carteiras da gestora, avaliando a atratividade relativa de todas as ações no mercado brasileiro. “Esse modelo contém critérios para construir efetivamente uma carteira, inclusive com o percentual de alocação para cada um dos ativos”, detalha, acrescentando que é o “humano” que define todos os parâmetros que serão utilizados nessa modelagem.
“O processo de investimento é construído inicialmente identificando características que as ações podem ter que estão associadas a retornos melhores que a média”, explica Leme. “A gente tem um banco de dados com todo o histórico financeiro, todos os balanços, dados de preço, de liquidez de mercado, das empresas”, acrescenta. “Finanças não tem laboratório. Seu laboratório é a História.”
“A ação dos sonhos de todo investidor é aquela de empresa que tem qualidade, está crescendo, em processo de valorização do preço, com aumento de liquidez e que apresenta baixo risco”, ilustra Lema. “Mas essa ação não existe”.
O processo sistemático é voltado para construir uma carteira bastante diversificada, mas que tenha o maior conteúdo possível dentro das características dos sonhos do investidor. “O algoritmo roda todos os dias buscando identificar essas características”, conta. Com esse processo automatizado, a composição da carteira é avaliada a cada 15 dias, hierarquizando a atratividade dos papéis de todas as empresas listadas, com disciplina e baseada em evidências.
Com reportagem do Valor Investe
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