Trader x economista: o que cada um deles espera do governo?
Há uma forte preocupação com o crescimento da dívida pública no mundo, e o Brasil será protagonista neste movimento

O trader, aquele profissional que compra e vende ativos em mesas de operações no mercado financeiro, está torcendo fortemente para que os apelos do presidente Lula ecoem pelo Planalto cheguem ao Banco Central e, assim, a taxa básica de juros comece finalmente o ciclo de queda.
Já os economistas estão fazendo contas para tentar achar onde o governo encontrará receita para manter de pé o Arcabouço Fiscal que entrou esta semana na Câmara dos Deputados. Estão mais preocupados com as reais perspectivas de crescimento da economia brasileira nos próximos anos.
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Dúvida no mercado
Esta é a maior dúvida no mercado: haverá receita para sustentar o prometido no PL da nova regra fiscal?
A regra estabelece um compromisso de trajetória de alta do resultado primário até 2026; zerar o déficit das contas públicas em 2024; superávit de 0,5% em 2025 e de 1% em 2026. Todas essas metas são ancoradas principalmente na expectativa de receita. Daí a necessidade de se fazer cálculos, muitos, para tentar fechar essas contas.
Já o trader está com a carteira recheada de títulos prefixados que embutem uma gorda taxa de juro de dois dígitos. Tão logo se confirme a expectativa (ou será torcida?) de queda na taxa de juro básica, esses títulos passam a se valorizar rapidamente.
A depender da velocidade e da magnitude, os ganhos podem ser muito expressivos, acima até mesmo do rendimento do mercado de ações, em épocas de euforia, com retornos acima de 50% em 12 meses.
Mas, a julgar por dados e expectativas apresentados durante a reunião do FMI e do Banco Mundial, em Washington, que se encerrou no último fim de semana, as taxas de juro no mundo devem demorar a cair ou, se caírem, não será no ritmo esperado.
Resiliência inflacionária
A razão do movimento lento é a resiliência inflacionária que preocupa a todos. Mesmo os recentes acontecimentos no mercado bancário, com a quebra de duas instituições nos EUA, e o colapso de um banco suíço, não tiraram a inflação do radar. Há mais riscos para a moeda do que para o sistema bancário.
Por isso economistas, investidores e formuladores de políticas públicas de diversos países, que participaram do encontro, saíram convencidos de que a renda fixa permanecerá como a principal recomendação de investimento. Não esperem uma queda nas taxas e, se houver, não será de grande magnitude, inclusive no Brasil.
Conversei com o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, que participou da reunião do FMI e Banco Mundial e confirmou este diagnóstico.
E diz mais, há uma forte preocupação com o crescimento da dívida pública no mundo e o Brasil será protagonista neste movimento.
Ou seja, mais uma pressão inflacionária.