Entenda por que apenas um em cada oito Fiagros tem rentabilidade que bate o CDI
Para gestores e analistas, baixa valorização das cotas explica-se por calotes de algumas empresas do agro
Dos 32 Fiagros, (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) com cotas negociadas na B3, apenas quatro rendem acima do CDI em 2024. O volume é equivalente a proporção de 1 a cada oito fundos do agronegócio rodando neste ano com mais força que seu benchmark.
Com recorte até o dia 14 de agosto, o retorno acumulado pelo CDI é de 6,47%. A taxa tem uma correlação histórica de 99% com a Selic, a taxa básica de juros. O mercado conta com a Selic em 10,50% até o final do ano.
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Quais rendem acima do CDI?
Assim, o time dos Fiagros que batem o índice de referência neste momento é composto pelo IAGG11, tocado pela asset do banco Inter, e o CRAA11, da tradicional gestora Sparta. No ano, eles acumulam retornos, respectivamente, de 29% e 23,8%.
Fecham a lista o NEXG11, da gestora goiana Nex, das poucas casas fora da Avenida Faria Lima nesse segmento. E o SNAG11, da Suno, de Tiago Reis, especializada em fundos imobiliários. Os valores das cotas desses Fiagros se valorizam, dessa forma, 15,1% e 7,9%.
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Fiagros abaixo do índice
Quanto aos demais produtos do setor, 17 Fiagros, ou 53% do total, operam com retorno negativo no ano.
Os sete que restam (22% dos fundos com capital aberto), mantém retornos que vão de 0,1%, como o BBGO11, do Banco do Brasil, a 4,4%, caso do KNCA11, da Kinea – o maior do setor, com patrimônio de R$ 2,2 bilhões.
Confira os Fiagros que rendem acima do CDI
Fiagro | Gestora | Retorno em 2024 |
IAGG11 | Inter | 29% |
CRAA11 | Sparta | 23,8% |
NEXG11 | Nex | 15,1 |
SNAG11 | Suno | 7,9% |
Efeito colateral dos calotes
A explicação para a baixa valorização no valor das cotas dos Fiagros, na opinião de gestores e analistas, tem relações com histórias de calotes de algumas empresas do agro – de médio a grande porte.
Principalmente no começo do ano, algumas companhias deixaram de quitar as parcelas dos Certificados de Recebíveis do Agronegócios (CRAs) que emitiram.
Nove Fiagros foram diretamente impactados, em maior ou menor escala, por esses eventos. Os demais, no entanto, na opinião da analista Barbara Rocha, do Itaú BBA, podem estar sofrendo de uma espécie de efeito colateral. “Muitos outros também sofreram com as noticias negativas do setor”, aponta.
O investidor, ao tomar contato com as notícias sobre os calotes, teria reduzido a demanda pelos produtos da área, com receio de novos problemas.
“Talvez eles (os outros fundos) tenham sido contaminados (pelo receio do investidor)”, aponta Marcio Takaya, gestor de Fiagros da Sparta.
Janela de investimento
Assim, para o mercado, o fato de boa parte dos fundos que operam abaixo do CDI não apresentarem portfólio problemático pode representar uma oportunidade para o investidor.
Barbara Rocha, do Itaú, pondera que é preciso analisar os riscos do setor. “Mas é uma janela (de investimento) interessante”.
Takaya, da Sparta, se diz otimista com os próximos meses. “A gente está bastante confiante. A expectativa é de que o número de emissões aumente”, diz.
No caso da Sparta, um dos quatro fundos com valorização positiva da cota, a explicação, segundo o gestor, está na estratégia por comprar exclusivamente CRAs classificados como grau de investimento.
“A gente tem (CRAs de) Minerva, a gente tem JBS, que são empresas mais conhecidas. Mas tem outras menos conhecidas e bastante robustas, como uma Integrada Corporativa. Uma Lar Cooperativa, que quem é do agro conhece”, destaca.
Oportunidades para bater o CDI
Os fundos do agronegócio (Fiagro) começaram a mostrar recuperação nos últimos meses, principalmente a partir de junho.
Para os analistas, a melhora reflete a mudança de perspectiva com relação à evolução da taxa Selic e também a depreciação do real.
Um dólar mais caro implica em preços melhores para os produtores rurais, que são exportadores. Assim, indiretamente, reduz os riscos de inadimplência.
“Os Fiagros passaram a subir em Junho, justamente quando o Copom confirmou que tinha finalizado o ciclo de corte de juros”, escreve o analista Fernando Siqueira, da Guide, em relatório distribuído para os clientes.
Além disso, ele pontua, “um dos riscos que vinha pressionando os Fiagros era o baixo preço dos produtos agrícolas, que poderiam gerar inadimplência nas operações de crédito”.
Apesar dos valores da soja e açúcar ainda estarem baixos em dólar, Siqueira destaca que em real, por força da desvalorização da divisa brasileira, os preços aumentaram em 2024. “O mesmo padrão se repete para outras commodities”, destaca.
“Vale lembrar que os Fiagros em geral são bastante diversificados. Mas soja e açúcar estão entre as principais culturas que servem de lastro para os CRAs nos quais os Fiagros investem”, conclui o analista da Guide.