Comprar ou não Fiagro hoje passa por cenário complexo que envolve de Selic à supersafra

Mesmo com 2024 pouco favorável, Fiagro pode performar melhor neste ano

De acordo com os especialistas, investir em Fiagros ou mantê-los na carteira é indicado, mas é necessário ponderação - (Foto: Preston Keres/Escritório de Comunicações do Departamento de Agricultura dos EUA/Wikimedia Commons)
De acordo com os especialistas, investir em Fiagros ou mantê-los na carteira é indicado, mas é necessário ponderação - (Foto: Preston Keres/Escritório de Comunicações do Departamento de Agricultura dos EUA/Wikimedia Commons)

De um lado, a inflação em alta e a taxa Selic podendo ultrapassar 15% ao ano nas próximas reuniões do Comitê de Políticas Monetárias (Copom). Do outro, mudanças na legislação-base da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No meio, a supersafra esperada para 2025.

Diante de tudo isso, fica a pergunta: vale a pena comprar Fiagro neste momento? E se vale, qual deve ser o retorno esperado num horizonte de um ano? E quem já investe no produto, o que fazer? Manter e esperar ou sair neste momento?

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De acordo com quatro especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira a recomendação é que sim, pode ser uma boa investir em Fiagros em 2025.

“Acredito que 2025 será um ano de recuperação gradual para os Fiagros, com oportunidades interessantes para os investidores”, afirma Maria Levorin, diretora de distribuição e suitabilit da Multiplica Crédito e Investimentos.

Segundo Bruno Lund, sócio e gestor da Ecoagro, a rentabilidade dos Fiagros esse ano não seria um problema. “Afinal, a maior parte desses fundos é indexado ao CDI”, esclarece. Lund dá como exemplo os Fiagros-FIIs. “Esses produtos podem pagar entre CDI+2% e CDI+4% ao mês”, calcula.

Diante disso, os especialistas não acreditam que seja o momento de rebalancear a carteira diminuindo a exposição a esses fundos de investimentos. Mas é preciso atenção e análise criteriosa ao escolher um bom produto do tipo.

Um 2024 tenso

Afinal de contas, no ano passado o sinal amarelo acendeu. Parte dessa retração foi consequência também do pedido de recuperação judicial da AgroGalaxy (AGXY3). Isso de certa maneira afetou a confiança do mercado no setor.

A empresa trabalha com a comercialização de insumos agrícolas, entre outras atribuições, e registrou dívida líquida de R$ 1,5 bilhão no terceiro trimestre do ano passado. Somado a isso, houve aumento da inadimplência de produtores. O que fez com que a companhia entrasse, então, com o pedido de recuperação judicial.

Ao mesmo tempo, de acordo com um levantamento da Quantum Finance, feito a pedido da Inteligência Financeira, o retorno médio dos Fiagros no ano de 2024 ficou em -9,75%.

Apenas 8 Fiagros tiveram bom desempenho em 2024

Dese modo, ao longo do ano passado todo, somente oito Fiagros registraram bons desempenhos, foi o que também apontou o estudo da Quantum.

De acordo com o levantamento, até o dia 31 de dezembro de 2024, os Fiagros positivos foram: 

  • Nex Crédito Agro Friagro (NEXG11), com 52,36%;
  • 051 Agro Fazendas III Fiagro (FZDB11), com 15,26%;
  • 051 Agro Fiagro FII (FZDA11), com 9,34%;
  • Valora CRA Fiagro FII (VGIA11), com 7,17%
  • Inter Amerra Fiagro FII (IAAG11), com 4,39%;
  • Sparta Fiagro FII (CRAA11), com 4%;
  • Suno Fiagro FII (SNAG11), com 0,84%;
  • Riza Agro Fiagro FII (RZAG11), com 0,40%.

José Alves, professor do Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio (IBDA) e sócio do VBSO Advogados, acrescenta um alerta básico, mas sempre importante.

“O investidor deve avaliar cuidadosamente os fundos existentes no mercado, sobretudo analisando a reputação dos respectivos gestores e políticas de investimento (risco versus retorno). Com essas cautelas, certamente o Fiagro é uma alternativa de investimento interessante”, diz.

Por isso, então, é preciso levar em consideração fatores que podem ajudar ou prejudicar os fundos do agro. “Ao meu ver, o que pode ajudar os Fiagros é manter uma carteira diversificada com diferentes tipos de ativos e setores do agronegócio que tendem a ser mais resilientes a choques de mercado. E aí, vale o estudo ou conversar com um profissional”, comenta Renan Magioly, fundador da Proph3t Capital

Já alguns fatores que podem prejudicar os Fiagros são o aumento da inadimplência dos produtores rurais, por causa do alto custo de crédito. Isso pode afetar negativamente os Fiagros ligados aos Créditos de Recebíveis do Agronegócio (CRAs). “Além disso, a volatilidade do mercado financeiro pode afetar o preço das cotas dos Fiagros”, acrescenta Magioly.

Impactos da taxa Selic e da inflação

Importante saber que a atual taxa de juros e a inflação alta também trazem impactos diretos para os Fiagros, especialmente aqueles que investem em títulos de crédito do agronegócio, como os CRAs.

“Quando a Selic sobe, os CRAs tendem a oferecer retornos maiores, o que pode aumentar os dividendos distribuídos pelos Fiagros. No entanto, uma Selic alta também pode aumentar o custo do crédito para os produtores rurais, elevando o risco de inadimplência e impactando negativamente esses fundos”, explica o fundador da Proph3t Capital.

Já a inflação elevada, segundo o especialista, pode aumentar o custo de produção dos produtores rurais, reduzindo a rentabilidade do ativo financeiro. “Por outro lado, a inflação também pode impulsionar os preços dos produtos agrícolas, beneficiando os Fiagros que investem em empresas do setor”, pondera.

Regulação da CVM deve reduzir riscos aos Fiagros

De acordo com Maria Levorin, a nova Resolução CVM 214, que entrará em vigor em 3 de março de 2025, pode proporcionar maior flexibilidade e segurança jurídica aos Fiagros.

“Ao permitir que um único Fiagro invista em uma variedade de ativos, como imóveis rurais, direitos creditórios e participações em empresas do agronegócio. Ou seja, a norma facilita a diversificação das carteiras. Esse cenário, portanto, mitigará riscos associados a um único tipo de ativo, tornando os fundos mais resilientes a adversidades específicas de um setor”, explica Levorin.

Além disso, Maria conta que a regulamentação definitiva substitui normas temporárias anteriores, “oferecendo um arcabouço jurídico mais sólido e confiável para investidores e gestores.

“Sem esquecer que com essa nova resolução será permitida a inclusão de créditos de carbono e créditos de descarbonização (CBIOs). “O que abre portas para investimentos alinhados às práticas de sustentabilidade, atraindo investidores interessados em responsabilidade ambiental”, analisa Maria.

Quais são as mudanças?

Vale saber que a Resolução CVM 214 traz as seguintes mudanças principais:

  • Diversificação de investimentos: “ao permitir que um único Fiagro invista em diferentes tipos de ativos relacionados ao agronegócio, funcionando como um fundo ‘multimercado’ do setor”, afirma a diretora da Multiplica.
  • Aplicação subsidiária de regras: se a política de investimento do Fiagro permitir alocar mais de 50% do patrimônio líquido em ativos que também são objeto de outra categoria de fundo, ele deve seguir, de forma subsidiária, as regras aplicáveis a essa categoria.
  • Participação no mercado de carbono: a nova regra, então, autoriza os Fiagros a investirem em créditos de carbono relacionados ao agronegócio e CBIOs. “O que amplia as oportunidades de investimento sustentável”, comenta a especialista.
  • Definição ampliada de imóvel rural: a regulamentação inclui imóveis localizados em áreas urbanas, desde que destinados a atividades do agronegócio e devidamente registrados, ampliando o escopo de investimentos possíveis.

Supersafra pode valorizar Fiagros

Outro ponto que pode ajudar os fundos do agronegócio são as expectativas para uma safra promissora. O que, segundo Maria Levorin, da Multiplica, pode impulsionar tanto a valorização de seus ativos quanto a rentabilidade para os investidores.

“Com um volume maior de produção agrícola, os produtores rurais aumentam sua receita devido à maior comercialização de commodities, como soja, milho e algodão. Esse crescimento reduz o risco de inadimplência dos produtores que tomam crédito via Fiagros, tornando os recebíveis agrícolas e os CRAs mais seguros para os fundos”, diz.

Além disso, muitos Fiagros investem em terras agrícolas, infraestrutura rural e imóveis ligados ao agronegócio.

E aí, com a safra maior, a demanda por terras e logística tende a crescer. O que pode valorizar esses ativos no portfólio dos fundos.

“E mais, Fiagros que investem diretamente em empresas do setor agropecuário também podem se beneficiar do crescimento do faturamento dessas companhias, tornando-se mais atrativos para os investidores”, acrescenta a diretora.

De olho no Plano Safra

Outro ponto que chama a atenção de quem investe em ativos financeiro do agronegócio, como os Fiagros, é a suspensão do Plano Safra pelo Governo Federal, que segundo as fontes, pode ter impactos significativos no setor, “uma vez que ele é uma das principais ferramentas de apoio ao setor agrícola no Brasil, oferecendo linhas de crédito com juros subsidiados e condições favoráveis para o financiamento de produtores rurais”, afirma Renan Magioly.

Alguns dos principais efeitos, não somente nos Fiagros, mas no agro como um todo, são o aumento no custo de crédito, a redução da capacidade de investimento e a incerteza no planejamento das empresas. Por isso, é importante ficar de olho nos próximos passos desse programa de financiamento.

Custo de oportunidade

Diante desse cenário de Selic em alta, muito se pergunta sobre o custo de oportunidade dos Fiagros. Afinal de contas, será que ao investir nesses fundos de investimentos, a pessoa pode renunciar a rendimentos melhores em outras aplicações?

Para Maria Levorin, com os descontos nos fundos listados e a isenção de Imposto de Renda, “os Fiagros conseguem oferecer um potencial de ganho superior a outras aplicações com rentabilidade semelhante, mas tributadas.”

Além disso, a diretora afirma que com a nova regulamentação da CVM, esses fundos de investimentos terão diversificação ainda maior, abrindo novas possibilidades para os investidores.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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