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Quais aprendizados ficam da Black Friday americana deste ano?
A economia do maior mercado do mundo é dinâmica e tem vários participantes que acabam funcionando como termômetros do cenário atual. Quais aprendizados ficam da Black Friday deste ano? Como medir a temperatura do mercado imobiliário, inflação, recessão e outros indicadores e temas que podem ser interessantes para seus investimentos no exterior?
O termômetro Black Friday…
Começando pelo tema da Black Friday, essa data possui uma relevância considerável, pois marca o início de uma temporada importante para o varejo americano. Mais do que apenas uma data de vendas expressivas, muitos enxergam a Black Friday como um indicador da confiança do consumidor e da disposição para realizar compras. Por essa razão, essa data é amplamente observada pelo mercado financeiro, atuando como um termômetro para a economia.
Inicialmente, grande parte do mercado acreditava que esta temporada de compras seria menos vigorosa, prevendo vendas essencialmente estáveis em comparação com o ano anterior, devido a uma economia mais fraca, preocupações com inflação e incertezas em relação ao futuro. No entanto, considerando esses primeiros dias, é possível que tenhamos surpresas. O feriado de compras gerou um recorde de US$ 9,8 bilhões em vendas online nos EUA, representando um aumento de 7,5% em relação ao ano anterior, de acordo com o Adobe Analytics.
Tendências e curiosidades
Adicionalmente, algumas tendências e curiosidades se destacam:
- Maior uso de dispositivos móveis: cerca de US$ 5,3 bilhões em vendas online (54%) foram realizadas por meio de dispositivos móveis. Há previsões de que essa forma de compra ultrapassará o tradicional “desktop” pela primeira vez, segundo informações da Adobe.
- Influência brasileira nos EUA? Uma modalidade de compra que ganhou espaço foi o “buy now, pay later”, algo equivalente ao crediário ou parcelamento tão comum no Brasil. O uso desse método aumentou em 47% em relação ao ano anterior nos EUA.
- Declínio no uso de cartões de marca própria: de acordo com o Wall Street Journal, as vendas com cartões de marca própria – aqueles utilizados para obter descontos no momento da compra – continuam em declínio. Isso pode ser explicado pelas altas taxas de juros, que podem chegar a 30% em alguns cartões, além de refletir uma menor fidelidade do consumidor, que busca descontos independente de marcas específicas.
Agora, as atenções se voltam para as vendas da Cyber Monday. O Adobe prevê que a “Cyber Week” (do Dia de Ação de Graças à Cyber Monday) acumulará US$ 37,2 bilhões em vendas online nos EUA, representando quase 17% de todas as vendas no período de férias. Já a Salesforce é mais otimista, afirmando que a Cyber Monday será responsável por 25% de todas as compras de fim de ano este ano e alcançará um total de US$ 53 bilhões em vendas globalmente.
E a temperatura do mercado imobiliário…
E a temperatura do mercado imobiliário… Falando em termômetro, a semana passada foi atípica devido a um feriado importante, o Thanksgiving, que impacta significativamente a liquidez dos mercados. Em breve, falarei mais sobre os diferentes mercados, incluindo renda fixa e variável. Apesar de ter sido uma semana mais curta, com menor liquidez, tivemos dados relevantes do mercado imobiliário que merecem comentários.
As vendas de casas caíram em outubro, atingindo uma nova mínima em 13 anos! As vendas de casas existentes, que representam a maior parte do mercado imobiliário, diminuíram 4,1% em relação ao mês anterior, registrando uma taxa anual ajustada sazonalmente de 3,79 milhões. Esse número é o mais baixo desde agosto de 2010, conforme relatado pela Associação Nacional de Corretores de Imóveis na terça-feira da semana passada.
E o normal seria supor que, com vendas mais fracas, os preços caiam, correto? Sim, no entanto, não é isso que está acontecendo. O estoque de casas disponíveis para venda permanece baixo. Além disso, as taxas de juros elevadas estão fazendo com que os atuais proprietários de casas optem por não trocar de residência e se mudar, a fim de não abrir mão de taxas de hipotecas muito mais baixas do que as oferecidas atualmente.
Pressão da oferta limitada
A oferta limitada continua exercendo pressão sobre os preços das casas, que seguem aumentando em grande parte dos Estados Unidos.
Portanto, temos altas taxas de juros e preços das casas que não cedem. Esses dois fatores combinados estão tornando a acessibilidade à compra de casa próxima do seu nível mais baixo em décadas, afastando muitos potenciais compradores do mercado. A acessibilidade, medida como a divisão da renda pelo custo de aquisição de uma casa, está no pior nível para os compradores desde pelo menos 1985, de acordo com a John Burns Research & Consulting. Em resumo, esses fatores estão travando o mercado imobiliário.
Além disso, essa situação está exercendo pressão sobre o mercado de aluguel. Considerando que o pagamento médio da hipoteca (prestação da casa) está cerca de 52% superior ao custo mensal do aluguel, segundo a corretora imobiliária CBRE, muitas pessoas optam por alugar em vez de comprar. Apesar da queda após o pico no pós-pandemia, a desaceleração dos preços dos aluguéis de casas parece estar diminuindo.
É importante acompanhar isso porque tem um impacto direto sobre a taxa de inflação. Em outras palavras, dado que os aluguéis representam mais de 30% do índice de inflação, a resiliência desse indicador, sua resistência em ceder, pode exercer pressão sobre os índices de inflação e, consequentemente, limitar quedas maiores nas taxas de juros.
O termômetro da inflação…
Falando sobre inflação, na semana passada tivemos um indicador que trouxe preocupações nesse aspecto. A Universidade de Michigan mostrou que os consumidores americanos ainda estão preocupados com a inflação. Mais do que isso, as expectativas inflacionárias ainda não estão ancoradas como o Federal Reserve talvez desejasse.
Nesta semana, na quinta-feira, teremos o anúncio do PCE, o indicador de inflação utilizado pelo Fed para orientar sua política monetária. E, na sexta-feira, Jerome Powell irá discursar, então podemos esperar volatilidade nas taxas de juros americanas.
O termômetro da recessão
O ano de 2023 foi marcado pelo grande equívoco de diversos indicadores em relação à possibilidade de uma recessão nos EUA. Estamos nos aproximando do final do ano e não vimos os cenários mais negativos se concretizarem. Graças a Deus!
No entanto, ainda gosto de observar e acompanhar o que está acontecendo. Em geral, os dados econômicos americanos têm surpreendido negativamente, ou seja, mostrando números que reforçam a ideia de uma desaceleração na atividade. Um exemplo é o Bloomberg Economic Surprise Index.
Além disso, na semana passada, o principal índice econômico do Conference Board de outubro caiu 0,8% em relação ao mês anterior, registrando sua 19ª queda consecutiva. O Leading Economic Index (LEI) agrega vários indicadores diferentes – como pedidos de auxílio-desemprego, licenças de construção e spreads de taxas de juros – com o objetivo de estimar o estado da economia americana. Pois bem, apesar de vários dados econômicos promissores, o indicador aponta para uma recessão nos EUA. O LEI diminuiu em outubro pelo 19º mês consecutivo. Esta sequência de 19 meses só ocorreu durante o período de recessão de 2008 e durante a recessão de 1974.
Em diversos momentos em que observamos a variação anual do índice caindo para território negativo, presenciamos uma recessão. Como costumo dizer, não há indicador infalível, mas do ponto de vista econômico, existe alguma lógica na predição. Uma combinação de inflação ainda elevada, altas taxas de juros e a redução da poupança dos consumidores tende a impactar os gastos destes últimos, o que pode ser potencialmente prejudicial para a economia. A boa notícia é que, pelo menos olhando para a variação anual, o índice parou de acentuar sua queda e parece ter se estabilizado… mesmo que permaneça em território negativo.
E o termômetro dos mercados?
Na renda variável o otimismo persiste, apesar de alguns riscos que mencionei anteriormente. Os índices estão caminhando para fechar em um “novembro azul”, registrando alta nos quatro principais índices (Nasdaq Composite; S&P500; Russell 2000; e Dow Jones).
Para quem lê esta coluna, vai se lembrar que comentei sobre essa perspectiva positiva em “Ponto de inflexão: Rali de Natal pode ser antecipado?”. Parte dessa perspectiva também deriva da estatística favorável desses últimos meses do ano, quando observamos o histórico.
Mas, nesse sentido, três coisas me preocupam:
- Conforme comentei anteriormente, temos observado indicadores que indicam uma certa desaceleração na economia americana, o que, em última análise, não é positivo para as empresas e seus lucros.
- Em consonância com o que mencionei anteriormente, notamos uma revisão para baixo nos lucros das empresas após a divulgação dos resultados e projeções delas.
- Após a forte alta recente, é comum que o mercado “faça uma pausa para respirar”. Em outras palavras, sabemos que o mercado de ações não segue uma trajetória linear e enfrenta algumas turbulências de tempos em tempos. Apesar disso, o índice Fear and Greed da CNN indica que estamos atualmente em um nível de ganância, o que historicamente pode não ser um bom momento para iniciar posições em ações.
Renda fixa
Na renda fixa, observamos uma correção nas taxas de juros de longo prazo depois de terem atingido mais de 5%. Contudo, a realidade é que o patamar atual das taxas de juros encontradas nos títulos de renda fixa americanos é o mais elevado em décadas, o que continua motivando um grande fluxo de recursos para essa classe de ativos.
Em novembro, notamos que o fluxo de compra para os títulos investment grade e high yield atingiu recordes novamente. E os fundos Money Markets estão caminhando para o melhor ano em termos de volume de capital alocado.
Seguimos enfatizando que o momento atual nos rendimentos dos títulos do governo americano (ou seja, as atuais taxas de juros) continua sendo favorável para quem busca fazer alocações globais, garantindo taxas de retorno em dólar historicamente elevadas na renda fixa.
Para terminar…
Enquanto a temporada de divulgação de balanços termina, teremos uma semana movimentada em termos de indicadores econômicos, além do discurso do presidente do Fed na sexta-feira. Isso, combinado com o atual patamar do VIX (índice de volatilidade), pode repercutir no mercado.
Fiquem atentos…
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