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Com a alta das taxas de juros nos EUA, quais são os caminhos para a renda fixa e a variável?
Há vários fatores que podem influenciar e ditar a tônica do mercado, que, somados à atual alta das taxas de juros nos EUA, geram incertezas e até mesmo pessimismo no investidor. Qual vem sendo o impulsionador do mercado e quais as possibilidades de caminhos a seguir na renda fixa e renda variável do maior mercado do mundo?
Taxa de juros nos EUA: desvendando tendências e oportunidades
Depois de uma semana de pessimismo nos mercados, seguimos vendo uma semana em que ativos de risco, como as ações, têm dificuldades.
O que explica isso, e qual tem sido o principal impulsionador do mercado?
O que está conduzindo o mercado? A meu ver, a alta das taxas de juros de longo prazo nos EUA. A meu ver, a precificação dos títulos americanos de 10, 20 e 30 anos. Deixe-me explicar.
Um pouco de teoria
Para quem não sabe, o Tesouro Americano vende títulos com vencimentos de 1, 2, 5, 10, 20 anos, entre outros. Cada um desses títulos possui uma taxa específica, afinal, quando você empresta seus recursos para alguém, faz diferença em termos de risco, o período e o “quando” você vai receber seu dinheiro de volta.
No curto prazo (títulos de até 3 anos), a política monetária exerce a maior influência sobre a precificação dos títulos. Ou seja, a taxa de juros definida pelo Fed e sua comunicação acerca dos juros conseguem parametrizar o que deveriam ser essas taxas negociadas dia a dia. Afinal, se o Fed diz que a taxa vai ser x% em 12 meses, é muito provável que ela venha a ser de fato, pois é ele quem as determina.
Já no médio a longo prazo, a incerteza em relação ao futuro fala mais alto, e o fator confiança entra em campo. A confiança de que mesmo daqui a 10, 20 ou 30 anos o credor vai lhe pagar tem uma influência importante na definição da taxa do título. Essa confiança é influenciada por diversos fatores como crescimento econômico, risco político, déficits fiscais, as nuances de humor do mercado e, obviamente, a quantidade de compradores e vendedores de títulos no mercado.
Curva de juros
Dessa interação de diferentes prazos e taxas surge o que chamamos de curva de juros, que nada mais é do que um gráfico formado a partir das diferentes taxas e diferentes prazos. Como sempre digo, os juros nada mais são do que o preço do dinheiro, e o juro americano estabelece o preço do dólar. Ou seja, quanto custa tomar dólar emprestado. Ou ainda, olhando de outra forma, qual é o custo de oportunidade de investimentos em dólar.
Como assim custo de oportunidade em dólar?
Se eu tenho um ativo considerado livre de risco (títulos de dívida do governo americano) que remuneram meu capital em 5% ao ano, as demais alternativas de investimento deveriam me retornar um valor maior do que esse, para que o risco que estou correndo compense o investimento.
Logo, você exige um retorno maior para correr o risco de investir em ações, ou em um bond de uma empresa, ou ainda em um título de dívida de algum outro país com pior qualidade de crédito, por exemplo. Portanto, a elevação das taxas de juros torna menos atrativo, ou exige um retorno maior, para investir em outras classes de ativos.
E o que está acontecendo atualmente?
Temos visto um aumento das taxas de juros no médio e longo prazo (mais de 5 anos). Por que isso ocorre? A meu ver, isso acontece por três motivos.
Primeiro, o mais óbvio: a ideia de que o mundo mudou e iremos conviver com uma inflação maior por mais tempo. A resiliência do crescimento econômico só reforça essa percepção de que os juros devem permanecer altos por mais tempo. A própria comunicação do Fed influenciou essa “correção” das taxas nesses “vértices mais longos”.
Segundo, um ponto importante. O elevado endividamento americano, a indisciplina fiscal e a dificuldade dos dois partidos em negociar e definir um orçamento, um teto de dívida e um equacionamento da expansão dos gastos geram preocupação no mercado, que passa a cobrar juros mais altos. Ora, se não houver uma maior disciplina fiscal, o risco em prazos mais longos aumenta.
Então, por um lado, não há “falta de demanda” para os títulos americanos nem risco efetivo no curto prazo; por outro lado, a extrapolação desse nível de endividamento e déficits fiscais em 20 ou 30 anos preocupa, e os investidores exigem um retorno maior.
Forte pressão vendedora
Terceiro, uma questão mais técnica. Após a forte expansão monetária ao longo dos últimos anos, o Fed vem buscando reduzir o seu balanço. O que isso significa? Significa que ele vende títulos e retira dinheiro do mercado. Isso é um instrumento comum de política monetária e já esperado. O resultado prático disso é um grande agente de mercado (o Fed) vendendo títulos.
Ora, uma forte pressão vendedora empurra os preços dos títulos vendidos para baixo. Como em renda fixa a taxa (yield) é inversamente proporcional ao preço do título, temos um fator que empurra os yields para cima.
Consequências
Ações
Como resultado desse movimento, temos visto menos apetite por ativos de risco. Não por acaso, as bolsas norte-americanas têm apresentado quedas nos últimos dois meses (desde a máxima do final de julho). Ora, ações nada mais são do que ativos de duration longa (em teoria, infinita, dado que são títulos que não vencem).
Ou seja, seu valor deriva do fluxo de caixa e/ou dividendos futuros em 5, 10, 15 anos à frente; com a alta de juros, eleva-se o custo de oportunidade do investidor para assumir o risco de se expor a um negócio que pode eventualmente gerar menos caixa e/ou dividendos no futuro. Não obstante, o custo de financiamento para as ações também se eleva, o que pode impactar sua capacidade de crescimento no futuro.
Emergentes
Da mesma forma, o custo de se expor a mercados emergentes também se eleva e, sendo ativos de risco que são, temos visto um desempenho fraco da classe.
Dólar
Ora, se os juros aumentam, torna-se mais interessante comprar tais títulos. Se muitos investidores pensarem assim, aumenta a demanda por dólares e o dólar se valoriza. Aliás, é exatamente o que temos visto e algo que já tinha chamado a atenção aqui há duas semanas.
E como sempre digo, o Brasil não é uma ilha… cedo ou tarde, correções acontecem. Por isso, sempre sugerimos aos investidores manterem uma estratégia de média de dólar, com aportes constantes e comprando dólar de forma recorrente e disciplinada.
E na economia
Na economia, a grande preocupação reside na possibilidade de que essas taxas de juros elevadas gerem impactos na atividade econômica, contraindo-a e levando a uma recessão. Nada de novo aqui… ao longo de 2022, o mercado “apostava” que os EUA passariam por uma recessão já em 2023. Não aconteceu.
Pode acontecer? Sempre pode. Vai acontecer? Não há como saber.
Mas, fazendo essa nossa leitura semanal de mercado, nas últimas semanas vimos um conjunto de notícias reforçando a probabilidade de que venhamos a ter uma recessão num futuro próximo. Destacaria as seguintes:
- Elevação dos preços de petróleo (algo que já chamei atenção algumas vezes), seu impacto inflacionário na economia e potencialmente redutor de crescimento;
- Greve dos trabalhadores da indústria automotiva, o que obviamente afeta esse setor e, por consequência, a atividade como um todo.
- A retomada dos pagamentos dos empréstimos estudantis, o que poderia reduzir o montante disponível no bolso dos americanos para o consumo. Desde março de 2020, o Departamento de Educação havia concedido a possibilidade de interrupção do pagamento dos empréstimos como forma de ajudar a amortecer os efeitos financeiros da Covid-19. Isso, obviamente, libertou as pessoas para gastarem dinheiro de outras formas à medida que se recuperou, ajudando a impulsionar o crescimento.
- E o próprio impacto desses juros na economia. Nada de novo aqui, mas quanto mais as taxas longas sobem, mais caro se torna financiar um imóvel ou um carro, por exemplo.
Elementos no liquidificador…
Ao reunir todos esses elementos e colocá-los em um liquidificador, o que obtemos como suco é o seguinte: a probabilidade de uma recessão ainda persiste e não é baixa.
Por outro lado, é importante ressaltar que, de modo geral, as projeções ainda indicam crescimento para a economia norte-americana. A noção de uma recessão representa uma probabilidade e não uma certeza. Além disso, na maioria dos casos, a concepção de uma recessão não constitui o cenário principal.
Conclusão: dois lados da mesma moeda
Acredito que na vida, tudo tem dois lados. Essa análise de cenário pode parecer um tanto negativa, destacando as incertezas e possivelmente afastando os investidores.
No entanto, investir envolve assumir riscos para proteger e/ou aumentar o patrimônio. Nesse contexto, apesar dos desafios, o cenário se torna ainda mais atraente para investimentos internacionais!
Toda essa análise de cenário resultou nas conclusões a seguir:
- As maiores taxas de juros das últimas décadas estão disponíveis para investidores interessados em títulos de renda fixa. Além disso, o recente aumento nas taxas dos títulos de longo prazo criou a possibilidade de obter esses retornos não apenas por 1 ou 2 anos, mas por períodos mais longos. Estou me referindo à compra de títulos mais longos, que agora estão sendo negociados com taxas mais elevadas. Não tínhamos visto tal oportunidade em anos!
- Na renda variável, a recente correção fez com que o mercado passasse a negociar 8% abaixo das máximas do ano, aproximando-se mais das suas médias de preços de longo prazo (como médias de mais de 100 dias, por exemplo) e atingindo níveis de “Fear”. É exatamente em momentos como esses que podem surgir oportunidades no mercado. A partir desses momentos, o investidor pode considerar investir ou alocar parte do seu portfólio em ações. É nesse momento que o investidor que compreende os riscos associados aos investimentos em ações deve sentir-se mais incentivado a explorar oportunidades no mercado. Para investir em ações, é necessário exercer nossa capacidade de adotar uma abordagem contrária e assumir riscos quando o mercado está em pânico. Lembre-se sempre de que o investimento em ações envolve um nível maior de risco.
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