Warren Buffet, Bill Ackman e mais: saiba como gestores renomados investem

Eles também cometem erros e têm diversas incertezas, mas, no final do dia, agem e tomam decisões de compra e venda no mercado exatamente como você

Warren Buffett — Foto: Chris Goodney/Bloomberg
Warren Buffett — Foto: Chris Goodney/Bloomberg

Aqueles que chegam ao mercado frequentemente têm a impressão de que o segredo para o sucesso é ter acesso a muitas informações, várias telas de computador, informações privilegiadas etc. No entanto, a verdade é que até mesmo os nomes conhecidos do mercado e gestores renomados enfrentam momentos de dificuldade. Eles também cometem erros e têm diversas incertezas. Mas, no final do dia, agem e tomam decisões de compra e venda no mercado exatamente como você – com a diferença de terem alguns bilhões de dólares a mais no bolso.

Refletindo sobre isso, vou falar sobre os movimentos recentes de cinco nomes conhecidos no mercado americano e global. No entanto, não acredite ingenuamente que copiar exatamente as estratégias desses gestores renomados levará ao sucesso. Existem diferenças no perfil do investidor, no patrimônio alocado, no apetite e compreensão do risco e em muitos outros aspectos. Ainda assim, sempre há aprendizado em observar o que esses investidores profissionais estão fazendo.

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Você já ouviu falar do Formulário 13F da SEC?

Antes de discutir suas carteiras, vou ensinar algo útil. No mercado americano, existe um report chamado Formulário 13F da SEC, que fornece informações interessantes sobre as movimentações dos gestores de renda variável nos EUA.

O Formulário 13F é um report trimestral que deve ser arquivado por todos os gestores de investimentos institucionais com pelo menos US$ 100 milhões em ativos sob gestão. Os fundos de hedge devem apresentar o Formulário 13F dentro de 45 dias após o fim do trimestre. Essa regra foi aprovada pelo Congresso americano em 1975 para oferecer transparência sobre a alocação de recursos dos investidores.

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O report se tornou popular por ser uma indicação de para onde está indo o chamado “smart money”, ou seja, o capital controlado por investidores institucionais, bancos centrais, fundos e outros profissionais financeiros.

No entanto, nem tudo são flores. Aqui estão alguns problemas do relatório:

  • (i) Como o report é divulgado até 45 dias após o fechamento do trimestre, as posições dos gestores podem ter mudado após a divulgação.
  • (ii) Em 45 dias, os preços dos ativos podem ter mudado, afetando significativamente a relação risco-retorno das posições dos gestores.
  • (iii) O report não inclui as posições vendidas (short) dos gestores, o que, em muitos casos, altera significativamente o panorama do portfólio.
  • (iv) Mesmo os gestores profissionais cometem erros, então o acesso às suas movimentações não garante retornos semelhantes aos deles.

Conclusão

É interessante saber o que investidores experientes e renomados estão fazendo em meio à turbulência do mercado. No entanto, toda decisão de investimento deve considerar seu perfil e compreensão do equilíbrio entre riscos e potenciais retornos de cada ativo.

Mas vamos acompanhar as mudanças nas carteiras dos gestores… lembrando que as informações aqui se referem a uma captura da carteira em 30 de setembro deste ano.

Warren Buffet

O conhecido investidor realizou algumas mudanças em seu portfólio, conforme relatado recentemente no Formulário 13F. Buffet geralmente não altera significativamente sua carteira, mas dessa vez ele zerou a exposição a sete ativos e comprou quatro novos ativos específicos.

Ainda assim, a característica principal de seu portfólio é a baixa rotatividade. Para ilustrar, o tempo médio de retenção de uma ação em seu portfólio é de 22 trimestres, ou seja, mais de 5 anos. Na data do report, suas 10 maiores posições representavam 91% de seu portfólio, que totalizava cerca de US$ 310 bilhões.

Pode-se destacar que a Berkshire Hathaway zerou sua exposição às ações da GM, vendeu mais de US$ 2 bilhões em ações da Chevron e se desfez de outros US$ 474 milhões em ações da HP. Por outro lado, em termos de compras, Buffett foi mais cauteloso, com destaque apenas para a aquisição e adição ao portfólio das ações do grupo Liberty Media.

Apesar dessas mudanças recentes, não houve alteração nas cinco principais posições de sua carteira, que são as seguinte:

  • Apple – AAPL (50,04%)
  • Bank of America Corp – BAC (9,03%)
  • American Express – AXP (7,22%)
  • The Coca-Cola Company – KO (7,15%)
  • Chevron – CVX (5,93%)

Vale ressaltar que a posição de caixa da Berkshire Hathaway, que ultrapassa os US$ 150 bilhões, assemelha-se à sua maior posição de portfólio, no caso a Apple, que representa cerca de US$ 157 bilhões.

Bridgewater Associates

Fundada pelo renomado investidor e gestor Ray Dalio, a Bridgewater foi criada com uma abordagem mais macro e uma visão de longo prazo em termos de ciclos econômicos, apesar de Dalio não estar mais envolvido nas decisões do dia a dia. As movimentações da empresa ainda atraem atenção em Wall Street. A carteira de investimentos da gestora reflete essa abordagem, com uma maior participação de ETFs em setores, geografias e temas.

Em geral, a carteira é bastante ampla em quantidade de posições e é igualmente diversificada. As 10 maiores posições representam 33,8% da carteira, e a média de retenção de suas posições é de 7,5 trimestres, quase 2 anos. Vale a ressalva de que para os 10 ativos de maior participação na carteira, nos quais ele supostamente tem maior convicção, esse período de retenção se estende para mais de 13 trimestres, ou seja, mais de 3 anos.

Neste relatório recente, a Bridgewater comprou 130 novos ativos, aumentou posição em 388, vendeu 86 e reduziu posições em outros 215. A maior posição da gestora ainda é um ETF que oferece exposição a mercados emergentes, o iShares Core MSCI Emerging (IEMG), representando 5,52% da carteira.

O índice S&P500 surge como a segunda posição através do ETF iShares Core S&P 500 (IVV), com 5,31% do portfólio. Entre as cinco maiores posições também estão a Procter and Gamble, com 4,2%; Johnson & Johnson Co., Coca-Cola com 3,04% e Costco com 2,83%.

Ao analisar a carteira total, percebe-se uma presença significativa de ativos do setor de consumo básico (Staples) e do setor de saúde (HealthCare). Também é notável a baixa exposição ao setor de tecnologia.

Bill Ackman

William Ackman é co-gerente de investimento do grupo de hedge funds Gotham Partners LP e fundou a Pershing Square Capital Management em 2003, inicialmente com US$ 54 milhões provenientes de apenas três investidores.

Conhecido por ser um gestor ativista, ele mantém participações nas empresas em que investe, influenciando suas decisões. Sua gestão também engloba operações de estratégias de long e short, sendo esta última uma técnica que envolve a venda de ativos que você não possui, apostando na queda do preço, enquanto simultaneamente compra outros ativos que se acredita que possam se valorizar. Ackman ganhou notoriedade com seu short nas ações da Herbalife e sua controvérsia com outro investidor famoso, Carl Icahn.

A carteira da Pershing Square totaliza US$ 10,5 bilhões e está concentrada em 8 ativos, dos quais os 3 maiores são Google, representando 17,2% do portfólio considerando as 2 ações nas quais a gestora possui exposição; Chipotle, com 16,6%; e Restaurant Brands International, com 14,8%.

Entre as mudanças mais significativas recentemente, houve um aumento na participação e nas compras de ações do Google e dos hotéis Hilton, além de uma redução na exposição à Lowes. No que diz respeito ao giro da carteira, historicamente, Ackman mantém suas maiores posições por cerca de 21 trimestres, o que equivale a pouco mais de 5 anos.

Cathie Wood

Cathie ficou conhecida por sua gestora de ETFs, a ARK. A empresa e seus fundos focam seus investimentos em inovações consideradas disruptivas. Eles adotam uma abordagem bastante aberta em relação a setores, tamanhos de empresas e geografias. Focam em identificar oportunidades de grande escala e em inovações tecnológicas centradas no sequenciamento de DNA, robótica, inteligência artificial, armazenamento de energia e tecnologias de blockchain. Por outro lado, seus investimentos são altamente voláteis, e, nos últimos anos, seus ETFs apresentaram quedas significativas, evidenciando esse maior risco associado ao estilo de investimento que adotam.

Em relação à sua carteira, a ARK possui cerca de US$ 13 bilhões sob gestão. No último relatório 13-F, foi informado que adicionaram 14 novas ações, aumentaram posições em 82, venderam 10 e reduziram posições em 127 ações. Suas 10 maiores posições representam 47,5% da carteira, e eles geralmente mantêm posições em média por mais de 14 trimestres, ou seja, um pouco mais de 3 anos. A gestora possui diversos ETFs com exposições a diferentes ativos.

Michael Burry

Michael Burry, fundador da Scion Capital, ficou conhecido por ser um dos poucos gestores que previu a crise de 2008 e se beneficiou dela por meio de seu fundo. Esse reconhecimento aumentou ainda mais com o lançamento do filme “The Big Short” (A Grande Aposta), que narra a história de Burry e como ele lucrou com a crise imobiliária nos Estados Unidos. No filme, ele é interpretado por Christian Bale.

Três características relacionadas a Burry e à Scion Capital são:

  • O total de ativos sob gestão é significativamente menor do que o dos demais gestores mencionados neste artigo. Atualmente, a Scion Capital tem pouco mais de US$ 237 milhões em ativos sob gestão, e a estratégia específica apresentada no 13-F se refere a um total de pouco menos de US$ 100 milhões. Ou seja, gerenciam um volume muito menor em comparação com outros gestores, o que oferece a ele maior liberdade para alocar em empresas de menor porte e alterar posições.
  • Refletindo o mencionado acima, sua carteira normalmente apresenta muitas mudanças. Em geral, o tempo médio de permanência de uma posição em sua carteira é de pouco mais de 3 meses.
  • Burry normalmente mantém um número reduzido de posições e estas são bastante concentradas. Em 30/09/2023, sua carteira contava com um total de 9 ativos.

E neste último relatório, o que chamou mais atenção foi a mudança e reposicionamento de mercado do gestor. Como foi noticiado recentemente, Burry encerrou suas posições “short”, ou seja, aquelas que apostavam na queda do mercado americano. Por ora, ele mudou a exposição, mas não a direção; isto é, ele continua apostando na queda, mas desta vez focado nas ações do setor de semicondutores e da Booking.com.

Minha opinião

Cada gestor possui suas características individuais, tomando suas próprias decisões, seguindo seu modelo de gestão e apetite pelo risco. Aqui, busquei apenas trazer insights e ideias sobre o que alguns gestores têm feito. Em resumo, penso que a replicação pode ser um grande desastre. Isso, inclusive, me lembra a história da restauração da figura de Cristo Flagelado que adornava a parede do Santuário de la Misericordia, na cidade espanhola de Borja. Quando Cecilia Giménez, uma senhora de 81 anos, tentou restaurar a obra, certamente tinha excelentes intenções, mas, basicamente, acabou por arruinar o Cristo de Elías García Martínez.

Portanto, foque em investir naquilo em que você se sinta confortável, adequando-se ao seu perfil e entendendo os riscos envolvidos. Parafraseando Buffett: “O risco vem de não saber o que você está fazendo ou onde está investindo”.

Falando do mercado…

De forma breve, a semana foi marcada pelos índices de inflação nos EUA, os quais trouxeram boas notícias. Ambos os índices (consumidor e produtor) mostraram dados abaixo do esperado pelo mercado, indicando uma evolução favorável. Em suma, os dados do CPI (índice de preços ao consumidor) e do PPI (índice de preços ao produtor) indicam uma evolução benigna, apesar de estarem bem acima da meta de inflação estipulada pelo Fed.

Os números reforçaram a ideia de que talvez tenhamos chegado ao pico do aumento das taxas de juros. Isso não significa que o Fed tenha espaço para cortar os juros, uma vez que os índices, especialmente seus núcleos, ainda se mantêm significativamente acima das metas estipuladas pelo Fed. Mesmo assim, ao longo da semana, observamos um aumento nas especulações de que as taxas de juros não subirão mais e de que, em algum momento de 2024, poderemos ver cortes nos juros.

Independentemente de quando, talvez seja mais importante considerar o fato de que, atualmente, parece haver um amplo consenso de que haverá uma mudança na política monetária em 2024. Em consonância com isso, uma pesquisa do BofA Global Research revela que mais de 60% dos gestores acreditam em um corte de juros em 2024.

Semana positiva na renda variável

Como reflexo dessa percepção mencionada anteriormente sobre os juros nos EUA, tivemos uma semana positiva nos mercados de renda variável, com os principais índices americanos acumulando ganhos. Em resumo, o mercado está antecipando, nos ativos de risco, uma potencial redução de juros no futuro. Tanto é que, pela primeira vez em mais de um ano, vemos os gestores com uma exposição positiva, ou acima da média, em ações.

Como sempre, o mercado é muito dinâmico e busca antecipar-se a movimentos que podem ocorrer. É importante ressaltar o uso do verbo “PODEM” aqui. Para o investidor com foco no longo prazo, sempre destacamos a importância de uma carteira estruturada que possa atravessar os diferentes cenários e nuances da economia.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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