O que é melhor: investir em títulos atrelados a juros no Brasil ou nos EUA?

Atualmente, investir em títulos atrelados a juros no Brasil tem uma diferença de quase 10 pontos percentuais em relação aos mesmos produtos nos Estados Unidos. Enquanto por aqui, a Selic está em 13,25% ao ano, lá os juros giram entre entre 4,25% e 4,50%.
Diante disso, será que é melhor investir em títulos atrelados aos juros no Brasil ou nos EUA? Para algumas pessoas, a resposta pode parecer óbvia, mas não é bem assim.
Isso porque, de acordo com Lais Costa, analista de renda fixa da Empiricus, essa diferença por si só não deveria ser tomada como o fator preponderante para decidir entre uma alocação aqui ou em terras norte-americanas.
Diferencial de juros entre Brasil e EUA

“O mercado brasileiro paga juros altos porque a percepção de risco aqui é maior. O Banco Central Brasileiro precisa elevar a Selic para tentar ancorar as expectativas de inflação que estão muito longe do centro da meta da autarquia”, explica a especialista.
Títulos atrelados a juros no Brasil ou nos EUA?
Então, o melhor seria investir apenas em títulos atrelados a juros nos Estados Unidos? Nada disso.
“Investir em um ou em outro mercado não precisa ser uma estratégia excludente. Portanto, em um cenário em que ambos juros estão atrativos, não existe um melhor que outro, mas sim dizer que os dois fazem sentido em uma carteira de investimentos diversificada”, acredita José Maria da Silva, coordenador de alocação e inteligência na Avenue.
Para José Maria, tanto um papel de renda fixa no Brasil como nos EUA vai gerar um retorno ao investidor que o protege da inflação. “O único ponto é que o papel em dólar vai ajudar a proteger também frente à volatilidade cambial”, comenta.
Prefixado ou pós-fixado?
Já que o ideal é investir em títulos atrelados a juros tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, quais são os melhores para compor um portfólio vencedor?
“No Brasil é mais interessante investir em títulos pós-fixados devido à perspectiva de direção de política monetária. No Brasil, os juros devem continuar subindo até pelo menos a reunião do Copom de maio. Já nos EUA, embora os dados de atividade e emprego indiquem que os juros devem se manter inalterados até o fim de 2025, a próxima mudança ainda deve ser de corte”, analisa Lais.
Por outro lado, nos Estados Unidos, a analista da Empiricus afirma que os títulos prefixados parecem mais atrativos ao investidor. “E isso por estarmos, muito provavelmente, na maior taxa de juros deste ano no país norte-americano”, diz.
Diferenças e semelhanças entre títulos atrelados a juros no Brasil e nos EUA
Vale saber, aliás, que a grande vantagem do mercado norte-americano é seu tamanho, liquidez, forte e demanda.
“Por exemplo, para uma empresa brasileira que precisa emitir uma dívida no valor de US$ 500 milhões, é muito complicado que o mercado local de dívida (debêntures) consiga absorver uma emissão dessa escala. Mesmo para emissões mais longas, de 10, 15 ou 30 anos, o mercado local tende a não ter capacidade para absorver esse tipo de dívida. Afinal, é um mercado mais profissionalizado e com mais players”, explica José Maria da Silva, da Avenue.
Porém, vale saber que os produtos de renda fixa nos EUA tendem a ser majoritariamente prefixados. Mas também há produtos pós-fixados semelhantes aos do Brasil.
“Da mesma maneira que aqui há CDI+ e IPCA+, lá nos EUA tem algo parecido. Para o CDI+, seria um título atrelado à taxa SOFR. No caso do IPCA+, seriam os TIPS, que são os títulos atrelados à inflação nos EUA”, esclarece.
Para finalizar, Silva afirma que a diferença entre títulos atrelados a juros no Brasil e nos Estados Unidos é que por aqui a nossa moeda não é forte. “Ou seja, não há títulos que protejam contra desvalorização cambial. Mesmo títulos atrelados à inflação acabam não compensando totalmente essa variação”, conclui.
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