As empresas de criptomoedas têm investido cada vez mais em uma atividade polêmica, mas regulamentada nos Estados Unidos, para defender seus interesses ante legisladores e autoridades: o lobby. De 2020 para 2021, o volume investido mais que dobrou, passando de US$ 2,2 milhões para US$ 4,9 milhões, segundo levantamento da plataforma de informação Crypto Head.
Os recursos financeiros das empresas de criptos direcionados para essa atividade deu um salto nos últimos cinco anos. Em 2017, foram apenas US$ 200 mil. De lá para fim de 2021, somam US$ 9,5 milhões. O estudo da Crypto Head projeta um montante de, pelo menos, US$ 15 milhões para este ano.
O estudo da Crypto Head analisou as empresas de criptomoedas que mais atuaram em lobby nos últimos cinco anos e apontou o “Top 3” nessa atividade. “Como regra geral, quanto mais dinheiro uma empresa ou organização pode gastar em lobby, maior o efeito que pode ter nas políticas públicas e na tomada de decisões”, ressalta a plataforma, em seu documento.
Lidera o ranking, a Ripple Labs, desenvolvedora de protocolos de pagamento e câmbio em blockchain (espécie de banco de dados compartilhado e inviolável que utiliza criptografia para garantir a segurança e a confiança nas informações registradas), com um gasto total de quase US$ 2 milhões, desde 2017. “Possivelmente é a empresa de criptomoedas mais influente nos EUA em se tratando de políticas e regulamentações governamentais”, avalia a Crypto Head.
A segunda maior lobista é a plataforma popular de investimentos Robinhood, registrando uma despesa total em lobby de US$ 1,6 milhão, apesar de ter passado a oferecer operações com criptomoedas apenas em janeiro de 2018.
Na terceira posição, a Blockchain Association investiu US$ 1,5 milhão, nos últimos cinco anos. Segundo a Crypto Head, a atuação da entidade de líderes do setor aponta para a intenção de, por meio de um movimento conjunto, ampliar a utilização das tecnologias de blockchain para “transformar serviços digitais e financeiros, colocando os EUA na vanguarda desse movimento”.
Na atuação somente em 2021, esse ranking se altera um pouco. A Robinhood assume a liderança, com um aporte de US$ 1,3 milhão, e a a Ripple Labs fica em segundo, com US$ 900 mil. Na terceira posição, a Coinbase, maior plataforma de negociação de criptomoedas do mundo, com US$ 785 mil investidos em lobby junto a autoridades dos Estados Unidos.
As equipes formadas pelas empresas de criptos para defender seus interesses também mostram seu poder de fogo. Além do lobista tradicional, as companhias contam com a figura dos chamados ‘revolvers’, ex-funcionários de agências reguladoras, do Congresso ou de órgãos do governo que passaram a prestar serviços para a iniciativa privada e levam consigo todo o conhecimento e conexões que construíam em suas atividades anteriores.
A empresa com a equipe mais estruturada nesse sentido é a Coinbase, com 23 lobistas, sendo 19 ‘revolvers’. A Robinhood possui 16 lobistas, dos quais dez são considerados ‘revolvers’. E a Ripple Labs, com 12 profissionais para representar seus interesses em Washington, oito deles com formação e informação privilegiadas.
“Embora possa parecer eticamente duvidoso para alguns, o lobby é um processo perfeitamente legal que é até protegido pela lei dos Estados Unidos, tornando-se parte integrante da prática do governo”, observa a Crypto Head, em seu estudo. “O lobby é muitas vezes necessário para indústrias que empregam novas tecnologias, como é o caso de criptomoeda e blockchain, para ganhar uma posição no mercado e garantir seu lugar na economia em geral.”