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Nvidia, bolsa na máxima e o investimento no Brasil
Estamos chegando mais perto do final da safra de balanços nos EUA. Até agora, 90% das empresas do S&P 500 divulgaram seu números. Dessas, 73% vieram em linha ou superaram as estimativas do mercado em relação à receita. Além disso, 82% vieram em linha ou superaram as estimativas do mercado em relação ao lucro.
Na semana passada, o resultado da Nvidia (NVDA) roubou a cena. Em resumo, a quarta maior empresa dos EUA reportou números melhores do que o esperado e suas ações saltaram mais de 16% no dia seguinte ao anúncio. Também não é para menos, seus números surpreenderam e superaram as estimativas do mercado, com um crescimento de lucros impressionante. Seu resultado foi forte. Assim, ao ver seu resultado, uma música antiga, lá da década de 90, me vem à mente:
Oh
What?
What… was that?
The things you say
Your purple prose just give you away
The things you say
You’re unbelievable (oh)
E isso levou os índices americanos novamente às máximas históricas. O S&P500 teve seu melhor dia desde janeiro de 2023, enquanto o Nasdaq alcançou 16.041,62 pontos, e o Dow Jones ultrapassou os 39.000 pela primeira vez.
Bolsa na máxima, e agora?
A Bolsa atingindo sua máxima tende a afugentar muitos investidores. É um pensamento normal, racional, esperado e coerente.
Mas como a Taylor Swifit canta:
I think I’ve seen this film before
And I didn’t like the ending
Já vi isso acontecer e não me agrada esse raciocínio… Vou explicar os porquês…
Olhando as estatísticas da bolsa americana, vemos que o fato de o índice atingir sua máxima não significa que ele irá passar por alguma realização (queda) no curto prazo. Obviamente, não há garantia alguma e não estamos aqui para prever o que vai acontecer.
Ao analisarmos o S&P 500 em diferentes períodos (3, 6, 12 e 24 meses), desde 1970, é interessante notar que a diferença de performance ao se investir no índice nas máximas ou em outros dias é pequena. Inclusive, em períodos maiores, observou-se melhor performance ao se investir nas máximas históricas.
Pode parecer contraintuitivo, mas a questão é que, em anos positivos nos quais a bolsa alcança máximas, o que vimos acontecer é que, tradicionalmente, tal máxima não se concentra somente em um dia. Em anos em que vimos o S&P alcançar máximas, esse patamar foi renovado em diferentes dias ao longo do ano. O mercado oferece oportunidades…
Second, third, and hundredth chances
Balancin’ on breaking branches
Pull backs e sua recorrência
Para aqueles que ainda não estão convencidos, é evidente que a bolsa não sobe em linha reta. É normal ver correções acontecerem.
Wait for now
And I’ll kneel down
Know my ground
And I will wait, I will wait for you
And I will wait, I will wait for you
Mas o quão comuns são essas correções?
Quedas de 5% no índice S&P500 são bastante recorrentes. Em média, uma queda de 5% nos preços do mercado de ações ocorreu 4,5 vezes por ano. Nos últimos anos, tivemos 3 correções de 5% em 2023, 12 em 2022, 1 em 2021 e 12 em 2020.
Já quedas de 10% no índice S&P500 são menos comuns, embora ainda ocorram.
No que acredito? Na velha máxima
Agora toda essa “conversa” a respeito do receio de investir quando a bolsa está nas máximas, ou sobre quando veremos uma correção, me lembra aquele adágio clássico do mercado, que provavelmente já comentei aqui, mas é sempre bom lembrar. A ideia de que estar no mercado, investido, é muito mais importante do que acertar o momento de entrada – na expressão em inglês “time in the market” é mais importante que “timing the market“.
Partindo do pressuposto de que não há como identificar ou estimar quais serão os dias “bons” (altas) ou “ruins” (quedas) do mercado, qual teria sido o impacto para o investidor que perdesse os dias positivos?
Como sabiamente cantavam os Stones…
You’re searching for good times
But just wait and see
…
Yeah, you you’re gonna come back baby
Knockin’, yeah, knocking right on my door
Yes
Time is on my side, yes it is
Time is on my side, yes it is
E o Brasil?
E toda essa discussão sobre o longo prazo me faz ter que citar a realidade do mercado brasileiro.
Apesar do otimismo que vimos no mercado em relação à alocação em ativos brasileiros no final de 2023, o que temos visto até agora em 2024, diferente do que aconteceu em 2023, foi uma saída relevante de recursos da bolsa brasileira.
Em 2023, o fluxo de investimento estrangeiro foi de quase R$ 45 bilhões. No entanto, de acordo com os dados da B3, os investidores estrangeiros retiraram R$ 16,901 bilhões da bolsa brasileira até o dia 20 de fevreiro.
Isso me lembra a música de Leandro e Leonardo…
Cadê você
Que nunca mais apareceu aqui?
E não voltou pra me fazer sorrir
E nem ligou
Não por acaso, temos visto uma discrepância de desempenho entre a bolsa brasileira, em leve queda no ano, e a alta observada nos índices americanos até o momento.
Investir a longo prazo na bolsa brasileira faz sentido?
A verdade é que a ideia de investir a longo prazo na bolsa brasileira não se mostrou um bom negócio. Fomos ensinados que o investimento em ações requer tempo, afinal, ao comprar uma ação, você se torna sócio de um negócio… e negócios não geram retornos da noite para o dia. Faz sentido, não é mesmo?
A questão é que, quando estudamos o mercado de ações, grande parte da literatura, conhecimento e casos que validam essa ideia do investimento a longo prazo são exemplos que aconteceram nos EUA.
Ao compararmos o desempenho do Ibovespa em dólar com o do índice S&P500 e o Nasdaq, ao passarem 10 anos (2014-2024), o retorno do investimento na bolsa brasileira foi negativo em cerca de 12%. Em outras palavras, o carrego de uma posição a longo prazo em ações no Brasil destruiu o patrimônio do investidor.
Como diria o Rappa, será que somos “pescadores de ilusões”? Só que nesse caso, não valeu a pena… não valeu a pena.
Nada garante que o retorno dos índices americanos será assim no futuro, mas o passado não mente, não é mesmo?!
Pontualmente, tomar risco no Brasil foi bom em certos momentos, desde que você acerte o momento e o ciclo certo. Mas isso só confirma a nossa tese de que o investimento no exterior em moeda forte pode ser considerado um investimento estrutural, de carrego e longo prazo.
E na economia?
E para não deixar passar batido, na economia, vimos mais do mesmo. Em geral, os dados reportados (PMI, vendas de casas usadas, pedidos de seguro-desemprego) só reforçaram aquilo que temos visto este ano, ou seja, a resiliência da economia americana.
Como canta a Beyoncé…
Where else can I go? Where else can I go?
…
Runnin’, runnin’, runnin’, runnin’
Runnin’, runnin’, runnin’
Os números de atividade, do mercado de trabalho e de vendas de casas vieram mais fortes. Não por acaso, a ferramenta do Fed de Atlanta (GDP Now), que faz uma estimativa do PIB a partir dos dados divulgados, aponta para um crescimento de 2,9% para o primeiro trimestre de 2024 (1T24). Com isso, vimos uma redução significativa nas expectativas de cortes de juros, concentradas atualmente na reunião de junho.
E a ata do Federal Open Market Committee (Fomc), o Copom dos EUA, repetiu aquilo que os oficiais do Fed já vinham comentando em suas declarações públicas nas últimas semanas. Ou seja, a parcimônia e cautela com mudanças na política monetária.
Em outras palavras, o Fed não tem pressa para cortar os juros nem para encerrar seu “aperto quantitativo”, e segue observando os dados da economia para avaliar se a queda da inflação é consistente ou derivada de fatores temporais ou reversíveis. O mercado continua apostando em cortes de juros ao longo do ano, mas agora, com os cortes começando em junho e a taxa encerrando o ano em um intervalo de 4,25% a 4,50%, ou seja, o mercado aposta em 100 pontos base em cortes ao longo do ano.
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