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Por que o tempo é o melhor aliado nos investimentos?
Estratégias de investimento tendem a ser discutidas até a exaustão. Há livros sobre o tema, há cursos, mestrados, doutorados, podcasts, palestras, vídeos de YouTube. Temos pessoas que fazem análise fundamentalista, growth investing, value investing, bottom-up ou top-down, as duas. Há pessoas que olham gráficos em busca de respostas místicas quase como quem joga búzios.
No meio de tanto conteúdo e tantas variáveis, principalmente num mundo cada vez mais hiperconectado e hiperestimulado, com um nível de tanta e absurda complexidade, por vezes só temos que reduzir o ruído. Porque esquecemos que poucas coisas batem uma estratégia tão simples e tão antiga. O tempo. Isso mesmo, tempo no mercado, tempo investido, deixar o famoso juro composto trabalhar a nosso favor. E, para isso, nada bate o tempo.
Estratégia de Warren Buffet
Warren Buffett, o investidor mais famoso do mundo, tem muitos méritos e alcançou muitos feitos. Mas Warren Buffett, por mais que tenha, ao longo da sua carreira, superado os resultados do S&P 500 na maioria dos seus anos no mercado, não foi pelo retorno impressionante que ele conseguiu obter que fez com que se destacasse dos restantes investidores em Wall Street.
Vários investidores, muitos deles famosos, conseguiram retornos mais elevados que Warren Buffet durante determinados períodos. Mas o que verdadeiramente distingue, entre outras coisas, Warren Buffet dos restantes é o tempo. O “Oráculo de Omaha” está investido há mais de 60 anos. E poucas coisas batem a longevidade e consistência.
Timing
Mas, talvez, ainda mais importante do que o tempo que se está investido, é a ideia de sempre estar investido. Porque investir muito tempo, mas andar sempre atrás do timing do mercado, não funciona. Alguns investidores são “caçadores” do timing. Andam atrás das correções. Os momentos certos de entrada e saída. Encontrar a otimização perfeita. Vender caro comprar barato. Encontrar a fórmula perfeita.
Pois bem: Entre 1994 e 2023, um investimento de US$ 10 mil se teria transformado em US$ 182 mil (lembrando que em 1994 US$ 10 mil eram cerca de R$ 10 mil reais e, em 2023, US$ 182 mil era quase R$ 1 milhão). Mas se, durante esses 30 anos, o investidor, na tentativa de encontrar o timing de mercado, perdeu os 10 melhores dias de performance, teria obtido um retorno 54% menor, de US$ 83 mil.
Se o investidor tivesse perdido os 30 melhores dias desses 30 anos, o seu retorno teria sido 83% menor.
Esses números para mim são gritantes quanto ao quanto ficar fora do mercado na tentativa de encontrar o timing certo ou de evitar correções de mercado está tão errado.
Dias bons em mercados maus
Vale relembrar que o investidor, muitas vezes, toma essa decisão durante os chamados bear markets. Aqueles momentos em que o sentimento está negativo e os atores do mercado esperam uma correção ou um ciclo de resultados negativos. Muitas vezes, após ciclos de euforia e boa performance, de fato o mercado tende a corrigir e pode ter um ciclo no qual a sua performance como um todo não seja tão positiva.
Mas uma análise desses últimos 30 anos (1994-2023) mostra que cerca de metade dos melhores dias destes últimos 30 anos ocorreram durante bear markets. Quem ficou fora do mercado durante os períodos de correção e sentimento negativo ficou também fora dos dias que entregaram melhores retornos.
É importante dizer que a premissa de tempo no mercado é possível extrapolar para toda a história do índice. A tentativa de encontrar as janelas de mercado não supera o tempo no mercado. O S&P 500 desde 1928 entregou quase 30.000% de retorno acumulado. Mas se removermos, para cada ano, o dia de melhor performance, estaríamos falando de um retorno de cerca de 600%. Bastaria remover/ter perdido 1 dia de cada ano e os retornos seriam drasticamente diferentes.
Outro ponto significativo é a ideia de que o juro composto funciona ainda melhor quando reinvestimos os nossos dividendos. Este aspecto é ainda mais importante para aqueles investidores que estão em uma fase de construção do seu patrimônio. Muitas vezes somos aliciados pela ideia de gerar renda passiva. Mas, para aquelas pessoas que querem ver o seu dinheiro crescer, qualquer renda passiva deveria ser reinvestida.
Volatilidade e tensões geopolíticas
Por que trazer este tema agora? Porque acho importante relembrar os investidores constantemente deste ponto. Principalmente em momentos como o que temos agora, onde há volatilidade, tensões geopolíticas, mercados nas máximas, valuations esticados, dólar em alta etc. Nesse tipo de cenário, o investidor tende a se sentir tentado a mitigar risco, desmontar a posição, vender os seus ganhos. E é exatamente nestes momentos que o investidor tem que ser relembrado que nada vai bater o fato de ele seguir investido.
O investidor tem que ser relembrado nas máximas, tem que ser relembrado nas mínimas e não se pode esquecer em todas as fazes do caminho. Porque parece por vezes que, se não estamos fazendo nada, estamos fazendo algo errado. Que se não rodarmos o portfólio, ou realizarmos ganhos ou perdas, se não formos ativos, algo está errado. Mas quase sempre, não fazer nada é a coisa certa. Nada ganha ao tempo se nesse tempo nada fizermos.
Resultados das empresas
A semana que passou foi repleta de acontecimentos. Do lado corporativo tivemos resultados de empresas como Tesla, Meta, Microsoft e Alphabet (4 das “7 Magníficas”), entre outros gigantes, como IBM, Visa, GE, Chevron e Exxon. Os resultados positivos de Alphabet e Microsoft acabaram por ser o destaque da semana, sendo as empresas que mais contribuíram para o índice.
Abaixo, alguns pontos de resumo da temporada de resultados do 1T24, agora que quase 50% das empresas publicaram os seus números:
- Resultados: Para o 1º trimestre de 2024 (com 46% das empresas do S&P 500 já reportado), 77% das empresas do S&P 500 relataram uma surpresa positiva nos lucros por ação e 60% das empresas do S&P 500 relataram uma surpresa positiva na receita.
- Crescimento dos Lucros: Para o 1º trimestre de 2024, a taxa de crescimento dos lucros combinada (ano contra ano) para o S&P 500 é de 3,5%. Se 3,5% for a taxa de crescimento real para o trimestre, marcará o terceiro trimestre consecutivo de crescimento dos lucros a.a. para o índice.
- Revisões de Lucros: Em 31 de março, a taxa de crescimento dos lucros estimada para o S&P 500 para o 1º trimestre de 2024 era de 3,4% a.a. Oito setores estão relatando lucros maiores hoje (comparado a 31 de março) devido a surpresas positivas nos lucros por ação.
- Guidance de Lucros: Para o 2º trimestre de 2024, 19 empresas do S&P 500 emitiram perspectivas negativas de LPA e 20 empresas do S&P 500 emitiram perspectivas positivas de LPA.
- Avaliação: A relação P/L prospectiva de 12 meses para o S&P 500 é de 20,0. Esta relação P/L está acima da média de 5 anos (19,1) e acima da média de 10 anos (17,8).
Dados macroeconômicos
A semana também foi recheada de divulgações de dados macroeconômicos. Tivemos dados de PMI, dados de moradia, criação de emprego, PIB e inflação. Os dados foram mistos com algumas leituras melhores que outras, mas o tema de resiliência econômica parece persistir, tal como o da inflação mais resiliente.
Em resumo, PMI pior que o esperado, PIB pior que o esperado. Emprego melhor que o esperado, dados de construção de novas moradias melhor que o esperado. Inflação acima do esperado.
Em cima dessa semana, que oferecia tantos dados e possivelmente tanta volatilidade, a bolsa acabou por se recuperar após a correção de cerca de 5% na semana anterior. Os já mencionados bons resultados de Alphabet e Microsoft ajudaram nessa performance.
A curva de juros teve uma semana de bastante volatilidade, mas a maioria dos vértices acabaram por fechar no zero a zero. Ainda assim o cenário é de correção na expectativa de juros, com as probabilidades de corte de juros por parte do Fed em 2024 caindo cada vez mais.
Juro segue alto, com a curva de 10 anos a cerca de 4,7% e a de 2 anos agora acima dos 5% (ambos corrigindo quase 1 ponto percentual desde as mínimas que haviam registado no início do ano). Para os investidores, nada mais há que a fazer do que aproveitar a correção para travar os juros altos.
A semana que aí vem: mas uma semana de eventos-chave
A semana que aí vem não ficará atrás no quesito de entrega de resultados. Mais duas das “7 Magníficas”, Amazon e Apple, reportarão os seus resultados nesta semana. Mas teremos também gigantes como Coca-Cola, Lilly, McDonalds, Starbucks, Pfizer. Qualcomm ou Novo Nordisk. Teremos também, no sábado, os resultados de Berkshire Hathaway, a reunião de acionistas da empresa de Warren Buffet, que desta vez não terá o seu melhor amigo, Charlie Munger, do seu lado.
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