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O que esperar dos resultados no quarto trimestre de 2023 nos EUA?
Na sexta-feira (12), iniciou-se a temporada de divulgação de balanços dos resultados nos EUA. Trata-se da Earnings Season, na qual as empresas publicam seus balanços e demonstrativos de resultados. Nesse período, elas anunciam ao mercado seus lucros, prejuízos, custos, despesas, fluxo de caixa, entre outros. É uma declaração pública oficial da empresa sobre o momento vivido pela companhia e eventuais perspectivas para o futuro.
O que são os arquivos 10-Q e 10-K?
Assim, as empresas públicas são obrigadas a apresentar o relatório chamado 10-Q (trimestral) e o 10-K (anual) à Securities and Exchange Commission (SEC). Os principais componentes do 10-Q incluem a demonstração de resultados, o balanço patrimonial, a demonstração dos fluxos de caixa e os comentários da administração.
Não supervalorize os números apresentados
É importante ressaltar que os balanços e números apresentados se referem ao período de 30 de setembro a 31 de dezembro de 2023. Ou seja, trata-se de um retrospecto da empresa, englobando vendas e lucros que já ocorreram, sem garantia de repetição.
Agora, por que, então, a Earnings Season é um evento importante para o mercado?
Porque fornece uma imagem de como a empresa tem se comportado no cenário atual e quais são seus planos e pensamentos para o futuro. Juntamente com os lucros passados, muitas empresas apresentam previsões (guidance) sobre seus resultados futuros e/ou realizam reuniões públicas, nas quais a diretoria da empresa se comunica com o público.
Mas o que esperar dessa safra de balanços?
Em geral, as estimativas de mercado apontam para um crescimento de 3,1% das receitas das empresas do S&P500 e de 1,3% para os lucros em relação ao 4T22. Tal crescimento de lucro representa um declínio em relação ao crescimento de quase 5% do 3T23 versus o 3T22.
Setorialmente…
O mercado estima que oito setores registrem crescimento anual nos lucros, sendo o principal destaque os setores de consumo discricionário e serviços de comunicação. Por outro lado, espera-se que três setores registrem um declínio anual em seus lucros: Energia, Materiais e Cuidados de Saúde.
Vai ser importante…
Com tantos números e indicadores divergentes ou ambíguos referentes à economia americana – ora mostram desaceleração, ora mostram resiliência –, será importante observar a visão das empresas sobre a inflação, pressão de custos, sua capacidade de repassar preços, perspectivas para resultados futuros e a capacidade das empresas protegerem suas margens de lucratividade.
Essa importância se dá porque a economia guarda relação com os resultados das empresas, especialmente suas receitas, e, mesmo com indicadores divergentes, a tendência recente tem sido de desaceleração.
Expectativas…
Seguindo o que comentei acima, as preocupações com a economia foram sendo colocadas nas expectativas em relação aos resultados que serão divulgados. Durante o quarto trimestre, os analistas reduziram as estimativas de lucro por ação (EPS) em 6,8% de 30 de setembro a 31 de dezembro.
Para fins de comparação, nos últimos 10 anos, o declínio médio nas estimativas de lucro por ação durante o trimestre foi de 3,3%. Apesar da boa performance da bolsa (S&P500) de setembro para cá, os analistas têm revisado para baixo os lucros projetados.
Conclusão
A safra de balanços é sempre um momento importante para averiguar a saúde da economia real. A julgar pelos ajustes em expectativas recentes alinhadas ao baixo crescimento de receitas e lucros projetados, penso que existe uma chance não desprezível de vermos tais números sendo superados, tal como temos visto nos últimos trimestres. Isso é relevante, especialmente considerando o movimento recente (últimos 2 meses) de forte apreciação dos mercados de renda variável.
Mas como sempre, tão importante quanto os números divulgados serão as expectativas e os guidances que as empresas fornecem, uma vez que, de forma agregada, as expectativas consensuais de crescimento dos lucros para 2024 parecem elevadas (cerca de 12% na comparação anual).
E na economia…
Além das expectativas quanto aos resultados, esta semana havia uma grande expectativa com os dados de inflação (CPI – índice de preços ao consumidor) que foram divulgados na quinta-feira pela manhã. O índice de inflação americano veio acima do esperado, tanto em seu índice cheio quanto no núcleo:
- Expectativa Índice cheio: +0,2% m/m e +3,2% a/a. Índice veio em +0,3% e +3,4%, respectivamente.
- Expectativa do Núcleo: +0,3% m/m e +3,8% a/a. Núcleo avançou +0,3% e +3,9%, respectivamente.
Abrindo os dados, vimos que grande parte do aumento foi decorrente dos custos com moradia, que seguem pressionando o dado de inflação, subindo 0,5% no mês e sendo responsável por mais da metade do aumento do núcleo do CPI.
No ano, a categoria apresentou um aumento de 6,2%, ou cerca de dois terços do aumento da inflação. Os preços dos alimentos aumentaram 0,2%, mesmo valor de novembro, e o custo de energia aumentou 0,4%, após uma queda de 2,3% em novembro.
Cortes de juros a partir de março?
Diante desse número mais forte que o esperado, seria razoável supor que os yields (juros) dos títulos americanos deveriam subir, não é mesmo? Sim. No entanto, o que observamos foi uma queda adicional. Os juros voltaram a ceder nesta semana, e as expectativas do mercado continuam sendo as de que podemos ter cortes de juros já a partir de março.
No entanto, essa interpretação contrasta com as recentes declarações de dirigentes do Fed, como John Williams, do Federal Reserve de Nova York, que disse na quarta-feira que a inflação diminuiu e está fazendo progressos sólidos, mas insistiu que a política “restritiva” provavelmente permanecerá em vigor por algum tempo.
Michelle Bowman e a presidente do Fed de Dallas, Lorie Logan, também seguiram a mesma linha, expressando ceticismo e reforçando, inclusive, que poderiam aumentar os juros caso a inflação subisse.
Temos observado um certo descompasso entre as expectativas do mercado e as declarações dos dirigentes do Fed, com os preços dos ativos sendo guiados essencialmente pela visão otimista em relação à inflação e à flexibilização da política monetária.
ETF’s de cripto
E, para encerrar, na semana passada tivemos um marco emblemático para o mercado. No dia 10 de janeiro (quarta-feira), o regulador do mercado de ações americano, a SEC (Securities and Exchange Commission), aprovou a listagem de produtos negociados em bolsa lastreados em bitcoin.
A SEC aprovou 11 pedidos de listagens para ETFs lastreados em bitcoin.
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