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Crise na China e lançamento do novo iPhone: vale a pena comprar ações da Apple?
Só se falou em Apple (AAPL) nesta semana, para o bem ou para mal. Ao mesmo tempo em que a empresa revelava sua nova linha de iPhone, dúvidas sobre acesso ao mercado na China seguem rondando a empresa de capital aberto mais valiosa do mundo. Diante desse cenário, será que vale comprar ações da Apple agora?
A seguir, a Inteligência Financeira explica o sucesso da marca da maçã e traz a avaliação de alguns analistas em relação à gigante de tecnologia.
Maior empresa do mundo em valor de mercado
Depois de sete anos, a Apple retomou, em julho, a liderança entre as 100 marcas mais valiosas do mundo. De acordo com ranking da Kantar Brandz, o valor da marca da empresa de tecnologia cresceu 55% frente a 2021, chegando a US$ 947 bilhões. São quase US$ 130 bilhões a mais que o Google, segundo colocado no levantamento.
Além disso, a Apple se tornou a primeira empresa do mundo a atingir um valor de mercado de US$ 3 trilhões.
“Destaco que a peça fundamental desse sucesso é a criação de uma marca poderosa, que desperta desejo e admiração entre todos os seus clientes. Eles optam por adquirir todos os produtos periféricos da empresa. E, muitas vezes, se tornam verdadeiros fãs da marca, dificilmente migrando para produtos de outras empresas”, afirma Thiago Armentano, analista-chefe de ativos globais do Simpla Club.
De acordo com o especialista, a Apple conquistou o título de maior empresa do mundo devido a uma gama de fatores cruciais: diferenciais competitivos, margem de lucro e ganho de escala. “A empresa possui um histórico muito forte de lançamento de produtos inovadores à frente de seu tempo. Além disso, a Apple construiu um ecossistema integrado que facilita a interconectividade entre todos os seus produtos”, pontua Armentano.
Ecossistema
A palavra-chave para definir o sucesso da empresa é ecossistema, de acordo com um executivo que trabalhou quase uma década na gigante de tecnologia. “O Steve Jobs (fundador da companhia) dizia: ‘A Apple é uma empresa de software que faz aparelhos bonitos’. O grande segredo é a combinação de produtos de alta tecnologia que conversam entre si automaticamente, promovendo um nível elevado de experiência de uso”, opina o ex-funcionário da marca da maçã.
Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue e colunista da Inteligência Financeira, a Apple é uma empresa com perfil de receitas global, que não fica restrita aos Estados Unidos. “Quando você tem uma recessão específica num país, ela não sofre tanto. Isso porque ela tem mecanismos e alternativas de contornar esses possíveis cenários mais complexos em outros lugares do mundo”, diz Castro Alves.
Crise com a China
De acordo com informações do Wall Street Journal, autoridades governamentais da China teriam ampliado as restrições de uso de iPhones por funcionários do Estado. Além disso, empregados de agências consideradas centrais teriam sido orientados a não usar os celulares da Apple durante o trabalho.
As supostas medidas têm relação com a crescente escalada de tensões entre a China e os EUA, marcada também por movimentos como as sanções contra a gigante Huawei. Da mesma forma, estas restrições também levam em consideração as preocupações com privacidade dos usuários.
Recentemente, este caso ganhou um novo capítulo após o lançamento do chip Kirin 9000s, desenvolvido pela própria Huawei. O componente foi anunciado com suporte para 5G e tecnologia acima do que seria considerado possível utilizando apenas a infraestrutura chinesa. Por isso, foram abertas investigações oficiais por parte dos EUA.
“Essa questão envolvendo a China merece muita atenção. Além disso, o mercado americano, na média, parece estar bem precificado no momento. Assim, o investidor que desejar ter exposição em Apple diversificar sua carteira em outras classes de ativos. Produtos substitutos do iPhone podem abalar a empresa porque a dependência dele ainda é muito grande dentro da sua receita total”, pontua Hulisses Dias, analista CNPI e mestre em finanças.
Momento desafiador
Na avaliação de Thiago Armentano, o momento atual do mercado, não só da Apple, é desafiador. “O mundo está enfrentando uma série de incertezas, com taxas de juros elevadas para combater a inflação global que veio por conta da pandemia e um possível problema com a China. O país asiático hoje representa em torno de 18% das receitas da Apple, que é um número expressivo. O governo chinês, entretanto, sinalizou que a empresa continuará podendo vender no país”, diz o analista-chefe de ativos globais do Simpla Club.
“O receio que se teve ou o impacto nas ações da Apple foram muito mais em decorrência da percepção em relação ao futuro, de como esse negócio vai avançar e de outras proibições que poderiam acontecer em relação ao uso de produtos da Apple, não somente funcionários do governo, mas de toda a população da China”, avalia Castro Alves.
De acordo com Thomas Monteiro, analista do Investing.com, “embora a questão relacionada à China não seja tão relevante para as vendas de fato, ela representa apenas mais um dos muitos riscos, em meio a uma série de desafios por conta da desaceleração esperada do consumo nos EUA, China e Europa como fator central”.
Vale a pena comprar ações da Apple?
As ações da Apple caíram 2,9% no dia 7 deste mês após os relatos de que a China planejaria expandir a proibição do uso de iPhones para agências e empresas apoiadas pelo governo. Na véspera (6), a gigante de tecnologia registrou sua maior queda diária em mais de um mês. A empresa perdeu cerca de US$ 200 bilhões (quase R$ 1 trilhão) em dois dias.
Em relação à indicação de compra de ações da Apple, Armentano salienta que se trata de “uma empresa sólida em termos de fundamentos, com um histórico de crescimento muito forte e uma excelente capacidade de gerar caixa, o que acaba se refletindo em um preço de suas ações mais elevado”.
“Quando você quer comprar algo de qualidade, é natural o preço mais elevado. E não é diferente no mercado de ações”, afirma o especialista.
Para William Castro Alves, as ações da Apple, apesar da queda recente, ainda se encontram em altos patamares.
“Há outros setores que não tiverem a mesma performance pujante do setor de tecnologia que podem ser alternativas para começar a investir no exterior. Isso não quer dizer que a empresa seja ruim ou que a Apple, como investimento, seja um mau investimento. Acho que tudo é uma questão de preço e, eventualmente, nesse atual patamar, há menos margem de segurança. O ideal seria esperar alguma realização que faça com que a ação seja negociada a um patamar de múltiplo mais justo, que faça sentido você entrar e investir nas ações”, avalia o estrategista-chefe da Avenue.
Thomas Monteiro destaca que a empresa continua sendo uma das maiores e mais resistentes do mercado. “No entanto, os investidores terão que ser pacientes com as ações no segundo semestre do ano”, diz o analista do Investing.com.
Novos preços do iPhone
Em relação aos lançamentos divulgados na última terça-feira (12), Monteiro afirmou que a Apple tomou a decisão acertada ao não aumentar os preços do iPhone. “Os riscos eram simplesmente muito elevados, especialmente considerando o fator cambial. Ainda mais se o Fed decidir manter as taxas de juros mais altas por um período prolongado, o que poderia fortalecer o dólar”, pontua o analista.
Na terça, a empresa anunciou o aumento o preço de apenas um modelo de iPhone. O top de linha Pro Max subiu US$ 100, para US$ 1.199. Por outro lado, deixou inalterados os preços de lançamento tradicionais dos outros três novos modelos.
“O fato é que isso vai manter as margens sob pressão nas operações feitas nos EUA. Mas penso que o que Tim Cook (CEO da Apple) percebeu é que o foco da empresa pelo restante do ano precisará se concentrar na Ásia. Especialmente na China e na Índia, onde o risco e a recompensa parecem ser mais promissores no momento”, salienta Monteiro.
Pontos de atenção ao comprar ações ou BDRs da Apple
Quem deseja investir na Apple pode adquirir BDRs da empresa na B3 ou então comprar ações da gigante de tecnologia diretamente na Nasdaq por meio de uma instituição financeira internacional.
Os Brazilian Depositary Receipts (BDRs) são certificados que representam ações emitidas por empresas no exterior, mas negociados aqui no pregão local. Ou seja, esses papéis existem lá fora e precisam ficar depositados e bloqueados em um custodiante. O responsável por garantir o funcionamento dessa estrutura é a instituição depositária que emite os BDRs no Brasil.
Em relação aos pontos de atenção para quem está pensando em comprar ações ou BDRs da Apple, Armentano aconselha “ficar atento com o que pode acontecer com a empresa em relação ao mercado asiático e, principalmente, lembrar que é importante diversificar a carteira de forma estruturada”.
Já o estrategista-chefe da Avenue pontua que “nunca vale a pena investir em BDR”, tendo em vista que é possível acessar o investimento estrangeiro direto por meio de uma conta internacional. “Não faz sentido eventualmente pagar taxas embutidas para comprar um BDR na bolsa brasileira”, diz Castro Alves.
ETFs ou fundo de tecnologia
Outra forma de alocar parte de seu dinheiro em Apple é por meio de ETFs ou fundos que invistam nas maiores empresas de tecnologia do mundo. “Sempre vale a pena sob o ponto de vista da diversificação. Investir em um único ativo é sempre um risco mais elevado”, afirma o especialista da Avenue.
Já Armentano avalia que investir em ETFs é “uma forma de montar carteira, especialmente para pessoa física que tem menos tempo pra ficar acompanhando mercado e escolhendo ações.”
“Em vez de você selecionar uma ação que pode não ser a vencedora, mesmo num setor vencedor, você pode surfar nele através de um ETF. Se o setor todo vai crescendo, você se apropria disso por meio de um ETF”, defende Castro Alves.
De acordo com Hulisses Dias, os ETFs permitem diversificação, baixo custo e alta liquidez. “A reciclagem dos ativos da carteira do fundo que é feita de tempos em tempos é uma grande vantagem para o investidor. É preciso ter cuidado porque ETFs temáticos (tech, cripto) tendem a performar abaixo da média em períodos de crise”, explica o analista.
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