Cento e dez, 120%, 130% do CDI (certificado de depósito interbancário). O esforço das instituições financeiras para captar recursos de clientes têm levado algumas a oferecerem rentabilidades cada vez maiores para o popular CDB. Alguns deles, inclusive oferecem liquidez diária e todos contam com proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Parece um oásis, especialmente considerando que a taxa básica de juros, referência para o CDI, está subindo, podendo superar 12% ao ano no começo de 2025.
Porém, o investidor deveria não usar apenas a rentabilidade como referência para aceitar um investimento e estudar também a solidez dos emissores.
Esse foi o recado do presidente do FGC, Daniel Lima, em entrevista à Inteligência Financeira.
“Eu pediria para o investidor que, na conversa com o seu assessor ou gerente de conta, que explorasse também o risco do emissor”, disse o executivo.
Além dos depósitos em conta corrente e poupança, o FGC dá garantia de até R$ 250 mil por CPF em cada instituição, incluindo aplicações como CDBs, LCAs e LCIs.
Prestes a completar 30 anos, o órgão experimenta um período de relativa calmaria. Afinal não houve nenhuma liquidação recente de instituição financeira. Ademais, a instituição tem um patrimônio superior a R$ 130 bilhões, significativo mesmo diante de gigantesca indústria financeira do país.
Desde quando foi criado, em 1995, o FGC já atuou 40 vezes, na grande maioria das oportunidades garantindo recursos de poupadores em instituições de pequeno porte liquidadas pelo BC. A última vez que entrou em campo foi em fevereiro de 2023, com a liquidação da financeira Portocred e da BBK.
Então, as garantias fornecidas pelo órgão a clientes de ambas somaram R$ 2,2 bilhões. Receberam os valores cerca de 60 mil pessoas.
Dessa maneira, mesmo com o ambiente atual mais calmo, Lima considera que contar unicamente com o FGC como garantidor de última instância não é saudável para a saúde do sistema financeiro.
FGC: investidor deve buscar rentabilidade e solidez
Para o presidente do FGC, ao escolher uma aplicação, o investidor deveria ter uma postura parecida com a de alguém que compra um carro.
“Você não pode comprar um carro pensando que, se alguma coisa acontecer, ele tem seguro”, analisa.
“Com investimento também não é aconselhável que você saia comprando qualquer tipo de emissão somente porque tem a garantia do fundo do FGC”, acrescentou.
Dessa forma, outro alerta do executivo foi em relação aos bancos digitais, à medida que vários deles também vêm oferecendo contas de pagamento remuneradas.
Alguns deles têm licença do BC para operarem como instituição de pagamentos (IP), não como instituição financeira.
Trata-se de uma diferença sutil, mas que o cliente deve saber. Isso porque as IPs não contam com a garantia do FGC.
Pela regulação, os recursos captados por elas são aplicados em títulos públicos ou recolhidos no Banco Central.
“Então, se alguma coisa acontecer com essa instituição de pagamento e ela vier a quebrar, você simplesmente vai ter acesso àqueles títulos públicos”, explicou.
“Nesse caso, a gente acaba não precisando dessa cobertura porque o título público vai fazer frente ao risco de quebra dessa instituição”, acrescentou Lima.
FGC contra aumento dos limites para R$ 1 milhão
Órgão criado e mantido pelos bancos, o FGC foi alvo de um projeto no Congresso Nacional que prevê elevar o teto da cobertura por cliente para R$ 1 milhão. Lima se opõe.
Segundo ele, atualmente 99,6% dos depósitos e de investimentos no sistema financeiro têm valores individuais abaixo de R$ 250 mil.
Se esse limite subisse para R$ 1 milhão, as instituições financeiras sócias da entidade terão que pagar mais para cobrir o risco, argumentou.
Consequentemente, os bancos repassariam esse custo maior para os clientes, seja aumentando os juros do crédito ou pagando menos nos CDBs.
“Essa conta vai para toda a população, para a gente beneficiar uma parcela muito pequena (de clientes)”, concluiu.