Existem CDBs que superam o CDI. Mas qual é o risco?

É sempre bom considerar fatores que vão além da rentabilidade; saiba também como comparar CDBs com outros ativos

Na busca por aplicações seguras e rentáveis, os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) se destacam como uma das opções mais populares entre investidores de perfis variados. No entanto, saber como escolher o melhor CDB vai muito além do percentual do CDI estampado na oferta.

Fatores como liquidez, prazo de vencimento, solidez da instituição emissora e até a incidência do Imposto de Renda podem transformar uma aplicação aparentemente vantajosa em uma escolha menos eficiente para o seu portfólio.

Como escolher um CDB que supere o CDI?

Para Josias Bento, especialista em investimentos e sócio da GT Capital, a liquidez do CDB é um dos pontos importantes nessa avaliação. “É preciso verificar se o ativo tem carência para resgate. Ativos sem liquidez podem prender o investidor até o vencimento, o que não é interessante se houver necessidade de resgate antecipado”, explica.

O risco do emissor também é fundamental. “Investimentos acima de R$ 250 mil não terão a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Créditos). Por isso, é importante aplicar em bancos médios ou de primeira linha, e considerar se o prazo está alinhado ao objetivo do investimento”, complementa Josias.

Felipe Arend, head de renda fixa da Faz Capital, reforça esse ponto. “Quanto maior o risco do banco emissor, maior a taxa que ele precisa oferecer para captar recursos. Em muitos casos, um percentual mais alto do CDI atrai o investidor para uma aplicação com altíssimo risco, fugindo do seu perfil de investidor.”

Além disso, impostos e prazos devem ser considerados. Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP, lembra que o Imposto de Renda sobre os CDBs segue uma tabela regressiva: “Aplicações de até 180 dias são tributadas em 22,5%, enquanto investimentos acima de 720 dias têm alíquota de 15%. Esse impacto pode reduzir a rentabilidade líquida”, explica.

O rendimento mais alto nem sempre é o melhor caminho

Embora pareça contraditório, um CDB que rende 100% do CDI pode ser mais vantajoso que outro de 110% em determinadas situações. “Em termos de rentabilidade nominal, não. Mas um CDB com risco menor, emitido por uma instituição financeira de maior solidez, pode compensar a taxa menor, oferecendo mais segurança para a carteira”, explica Josias Bento.

Felipe Arend concorda e destaca o ponto da liquidez também como um diferencial: “CDBs com liquidez diária ou prazos curtos geralmente oferecem taxas menores em relação ao CDI, mas fazem mais sentido para o investidor que prioriza flexibilidade. Em contrapartida, um CDB de 110% do CDI pode ser de um banco com maior risco ou ter um prazo longo, o que pode não ser vantajoso.”

Jeff Patzlaff complementa. “Na prática, são poucos os bancos que pagam menos de 100% do CDI hoje. Porém, dependendo da sua necessidade de liquidez e perfil de risco, um CDB com rentabilidade menor pode ser a escolha certa.”

Como comparar CDBs com outros ativos?

Outro ponto importante é comparar CDBs com outras opções de renda fixa, como LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio). “A principal diferença é a tributação”, explica Josias Bento. “LCIs e LCAs são isentas de Imposto de Renda para pessoa física, o que pode torná-las mais vantajosas, mesmo com taxas nominais menores.”

Felipe Arend sugere um cálculo simples para comparar. Resumindo, é o seguinte:

Taxa líquida = (taxa do CDB) x (1-Imposto de Renda)

Então, um CDB a 100% do CDI, aplicado por dois anos (ou seja, que pague 15% de IR), terá uma rentabilidade líquida de 85% do CDI.

Assim, a conta seria:

Taxa líquida = 100 (taxa do CDB) x 0,85 (1-0,15 de alíquota)

Neste caso, uma LCI que pague 90% do CDI pode parecer render menos, mas há a vantagem da isenção fiscal. No entanto, ele alerta para as diferenças de liquidez: “Geralmente, LCIs e LCAs têm prazos mais longos de carência para resgates, o que pode não ser ideal para todos os investidores.”

Segurança e diversificação são fatores importantes

A proteção do FGC também é um fator relevante. Tanto CDBs quanto LCIs e LCAs contam com a cobertura de até R$ 250 mil por CPF e por instituição. No entanto, como destaca Jeff Patzlaff, “mesmo com o FGC, é importante diversificar entre diferentes bancos e produtos para reduzir riscos.”

Por fim, Marcelo Boragini, sócio da Davos, lembra que o perfil do investidor deve guiar a escolha. “Além da rentabilidade, o investidor precisa considerar sua tolerância a riscos, o prazo que pode manter o dinheiro investido e a necessidade de liquidez. Cada produto tem suas características e pode ser mais ou menos adequado, dependendo do objetivo financeiro.”

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