Ronaldo, Roberto Carlos, Beckham, Figo e Zidane. Quem gosta de futebol certamente acompanhou a trajetória em campo dos galáticos, o time de estrelas que o Real Madrid montou no início dos anos 2000. Hoje, a trajetória extracampo de um dos galáticos é a inspiração para um negócio bilionário no mercado financeiro.
A Galaticos Capital surgiu em 2024, em uma união da Galapagos Capital com a R9, a empresa de gestão de patrimônio de atletas de um dos maiores galáticos, Ronaldo Fenômeno. Neste momento, a empresa conta com cerca de 40 atletas utilizando seus serviços e R$ 1,5 bilhão sob gestão. A meta é bater R$ 5 bilhões nos próximos 12 meses.
Entre os clientes estão o goleiro Cássio, ex-Corinthians e hoje no Cruzeiro; Tamires, lateral do Corinthians; o atacante Arthur Cabral, do Benfica, e o também centroavante Gabriel Jesus. Por sinal, o atleta do Arsenal é sócio da Galaticos junto com Ronaldo, a CEO Viviane Leal e Carlos Fonseca, fundador da Galapagos.
“Ao longo do tempo, nós vimos muitos amigos do Ronaldo tendo problemas por essa falta de uma gestão efetiva, de um escritório que fizesse toda a parte financeira e toda a parte jurídica, onshore e offshore”, afirma Viviane Leal, CEO da Galaticos.
Em entrevista exclusiva à Inteligência Financeira, Viviane Leal e Arnaldo Curvello, sócio diretor da Galapagos Capital, explicam como funciona a gestão patrimonial e jurídica dos clientes, que chamam de “astros”. O nome se deve ao fato de que o plano é expandir para o entretenimento.
Por que galáticos?
“A Galapagos está completando 5 anos. Crescemos organicamente mas também inorganicamente, com algumas aquisições e algumas parcerias. E a gente sempre buscou estar na excelência em cada um dos seguimentos que a gente escolhe atuar e a gente sempre enxergou na R9 o pioneirismo e a capacidade da entrega no setor”, afirma Arnaldo Curvello.
Do lado da R9, a sociedade ajudou a diversificar os produtos oferecidos. “A gente escolhe a Galapagos por tudo que nós podemos oferecer para o nosso cliente ali dentro. Hoje nós temos a gestão de ativos, uma equipe incrível tanto offshore quanto onshore, a parte contábil, administrativa, financeira e uma parte que é super importante para a vida dos astros, que é o concierge”.
O nome da Galaticos Capital, é claro, não é nenhuma coincidência. A inspiração é nos galáticos do Real Madrid, além de um bom trocadilho com a Galapagos.
“A gente teve que pedir autorização para os outros galáticos, para que a gente pudesse usar o nome”, conta Curvello. Nessa frente, a lista de contatos e relações de Ronaldo ajudou bastante, é claro, para que o “sim” das demais estrelas viesse sem complicações.
Os galáticos, portanto, são “os atletas e também estrelas do entretenimento que a gente brinca que não estão entre nós, que estão no Olimpo” emenda o gestor, já apontando para qual caminho pretendem crescer.
Atletas ganham cada vez mais dinheiro, mas têm muito medo de falir
A união veio do movimento de ver um mercado em crescimento. Antes, menos atletas ganhavam salários tão altos quanto os de Ronaldo. Hoje, o mercado cresceu, as ligas europeias e asiáticas pagam valores altíssimos a atletas ainda muito jovens.
No meio disso tudo, muitos conselhos errados e muitos gastos que podem complicar o futuro financeiro, ainda mais em uma carreira tão breve. Para Viviane, o grande medo do atleta é o de muitos meros mortais: falir.
“Todos eles vêm com uma dor principal: ‘eu tenho muito medo de falir, eu tenho muito medo de virar um caso como todos os outros viram'”, afirma a CEO da Galaticos.
“Às vezes eles podem vir com uma demanda financeira que seja simples, mas no todo o maior medo é de perder todo o dinheiro e virar estatística”, diz Viviane. “Não sei se isso é muito claro, mas mais de 90% deles na aposentadoria não tem nenhuma liquidez”
Com a diferença que conforme o tempo passa, a chance de recuperar o tempo perdido vai ficando cada vez menor.
“Eles têm um período de captação de recursos de 15 anos, mais ou menos. O atleta começa a ganhar um valor maior entre 18 e 20 anos e vai até os 35 anos com um bom salário. E depois? Então a maior parte da vida do atleta é gastando, não é ganhando”, comenta Viviane.
“Aquela carreira que, em geral, em qualquer outro segmento vai tendo uma curva de ascensão constante até você se aposentar no final da sua vida profissional, para o atleta é quase constante por um tempo e depois tem uma queda abrupta. Por isso o planejamento financeiro é tão importante”, afirma Arnaldo Curvello.
Qual é o perfil de investidor de grandes atletas?
Justamente por essa preocupação com a aposentadoria, afirma Curvello, a alocação das carteiras mira especialmente a proteção do poder de compra. Isto é, investimentos que protejam o patrimônio dos clientes da alta da inflação.
“Vivemos em um país que tem um mercado financeiro bastante sofisticado e vários instrumentos para se proteger do que para mim que é o mais importante na vida de todo mundo quando a gente está falando de gestão patrimonial, principalmente do atleta, que é manter o seu poder de compra. Ou seja, você conseguir ter seu rendimento acima da inflação”, afirma o sócio diretor da Galapagos.
Para o gestor, a mudança recente nos fundos exclusivos e offshores afetou, mas seguem existindo boas opções para compor carteiras atreladas à inflação. Citando produtos acessíveis a todos os investidores, ele menciona os títulos do Tesouro Direto que são IPCA+. Ou seja, rendem a inflação mais uma taxa prefixada.
“A gente tem sempre uma visão mais conservadora, então boa parte da nossa carteira é atrelada à inflação, num período, um prazo médio no meio da curva, de 8 anos. Se for transformar isso em um ativo, são os títulos do Tesouro de 2030, 2032”, afirma.
Por que atletas quebram e o que a Galaticos faz para evitar isso?
“O erro começa lá no início”, diz Viviane Leal. “Quando você tem a falta do conhecimento, você acaba cometendo um erro. Você compra o imóvel errado, você faz maus investimentos, seja ele financeiro ou de empresas, tem muitas pessoas que oferecem [oportunidades]”.
O calcanhar de aquiles, muitas vezes, é o jogador não saber quanto ele de fato ganha e o quanto ele de fato gasta. Geralmente, os atletas percebem que não sabem o valor real nas duas pontas.
“Ele diz que ganha R$ 500 mil por mês e que gasta no máximo R$ 70 mil. Na verdade, a gente descobre que ele ganha R$ 370 mil, R$ 380 mil, com os descontos e os impostos. Quando ele gasta, ele gasta R$ 600 mil”, comenta.
Para Viviane, “gestão é consolidar”. O grande diferencial da gestora que tem Ronaldo como sócio, portanto, seria unificar todas as frentes, jurídica, a contábil e a operacional de pagamentos. A CEO diz ainda que a empresa exige que os clientes façam uma reunião mensal, em que vão ser informados sobre tudo que envolve a movimentação.
Viviane Leal ganhou o apelido de “senhora não”, conta Arnaldo Curvello. “Ela blinda o atleta, até para não ser ele quem fala não todo tempo”, completa. A CEO da Galaticos muitas vezes fica responsável por desaconselhar os clientes de aceitarem propostas de investimentos desvantajosas, que muitas vezes chegam a eles por pessoas no entorno, como amigos e parentes.
“A gente traz para dentro de casa, a gente faz essa análise, explica pro atleta o porquê daquilo não fazer sentido às vezes com a marca dele, com o momento da vida dele. E às vezes, na grande maioria, não ser um investimento seguro”, afirma Viviane Leal.