Como investem os grandes atletas? Conheça estratégia da Galaticos, gestora que tem Ronaldo como sócio e administra R$ 1,5 bi de jogadores
Para CEO da gestora, maior medo dos atletas é falir e carreira curta pesa na gestão das finanças e dos investimentos
Ronaldo, Roberto Carlos, Beckham, Figo e Zidane. Quem gosta de futebol certamente acompanhou a trajetória em campo dos galáticos, o time de estrelas que o Real Madrid montou no início dos anos 2000. Hoje, a trajetória extracampo de um dos galáticos é a inspiração para um negócio bilionário no mercado financeiro.
A Galaticos Capital surgiu em 2024, em uma união da Galapagos Capital com a R9, a empresa de gestão de patrimônio de atletas de um dos maiores galáticos, Ronaldo Fenômeno. Neste momento, a empresa conta com cerca de 40 atletas utilizando seus serviços e R$ 1,5 bilhão sob gestão. A meta é bater R$ 5 bilhões nos próximos 12 meses.
Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS
Entre os clientes estão o goleiro Cássio, ex-Corinthians e hoje no Cruzeiro; Tamires, lateral do Corinthians; o atacante Arthur Cabral, do Benfica, e o também centroavante Gabriel Jesus. Por sinal, o atleta do Arsenal é sócio da Galaticos junto com Ronaldo, a CEO Viviane Leal e Carlos Fonseca, fundador da Galapagos.
A ideia é ampliar o negócio que a R9 faz desde 2016, de oferecer a gestão patrimonial e jurídica que era aplicada aos negócios do Fenômeno para outros atletas. A razão era simples: Ronaldo via muitos dos seus amigos fazendo bobagem, sem idade e condição física para ganhar tudo de novo.
Últimas em Renda fixa
“Ao longo do tempo, nós vimos muitos amigos do Ronaldo tendo problemas por essa falta de uma gestão efetiva, de um escritório que fizesse toda a parte financeira e toda a parte jurídica, onshore e offshore”, afirma Viviane Leal, CEO da Galaticos.
Em entrevista exclusiva à Inteligência Financeira, Viviane Leal e Arnaldo Curvello, sócio diretor da Galapagos Capital, explicam como funciona a gestão patrimonial e jurídica dos clientes, que chamam de “astros”. O nome se deve ao fato de que o plano é expandir para o entretenimento.
Por que galáticos?
“A Galapagos está completando 5 anos. Crescemos organicamente mas também inorganicamente, com algumas aquisições e algumas parcerias. E a gente sempre buscou estar na excelência em cada um dos seguimentos que a gente escolhe atuar e a gente sempre enxergou na R9 o pioneirismo e a capacidade da entrega no setor”, afirma Arnaldo Curvello.
Do lado da R9, a sociedade ajudou a diversificar os produtos oferecidos. “A gente escolhe a Galapagos por tudo que nós podemos oferecer para o nosso cliente ali dentro. Hoje nós temos a gestão de ativos, uma equipe incrível tanto offshore quanto onshore, a parte contábil, administrativa, financeira e uma parte que é super importante para a vida dos astros, que é o concierge”.
O nome da Galaticos Capital, é claro, não é nenhuma coincidência. A inspiração é nos galáticos do Real Madrid, além de um bom trocadilho com a Galapagos.
“A gente teve que pedir autorização para os outros galáticos, para que a gente pudesse usar o nome”, conta Curvello. Nessa frente, a lista de contatos e relações de Ronaldo ajudou bastante, é claro, para que o “sim” das demais estrelas viesse sem complicações.
Os galáticos, portanto, são “os atletas e também estrelas do entretenimento que a gente brinca que não estão entre nós, que estão no Olimpo” emenda o gestor, já apontando para qual caminho pretendem crescer.
Atletas ganham cada vez mais dinheiro, mas têm muito medo de falir
A união veio do movimento de ver um mercado em crescimento. Antes, menos atletas ganhavam salários tão altos quanto os de Ronaldo. Hoje, o mercado cresceu, as ligas europeias e asiáticas pagam valores altíssimos a atletas ainda muito jovens.
No meio disso tudo, muitos conselhos errados e muitos gastos que podem complicar o futuro financeiro, ainda mais em uma carreira tão breve. Para Viviane, o grande medo do atleta é o de muitos meros mortais: falir.
“Todos eles vêm com uma dor principal: ‘eu tenho muito medo de falir, eu tenho muito medo de virar um caso como todos os outros viram'”, afirma a CEO da Galaticos.
“Às vezes eles podem vir com uma demanda financeira que seja simples, mas no todo o maior medo é de perder todo o dinheiro e virar estatística”, diz Viviane. “Não sei se isso é muito claro, mas mais de 90% deles na aposentadoria não tem nenhuma liquidez”
Com a diferença que conforme o tempo passa, a chance de recuperar o tempo perdido vai ficando cada vez menor.
“Eles têm um período de captação de recursos de 15 anos, mais ou menos. O atleta começa a ganhar um valor maior entre 18 e 20 anos e vai até os 35 anos com um bom salário. E depois? Então a maior parte da vida do atleta é gastando, não é ganhando”, comenta Viviane.
“Aquela carreira que, em geral, em qualquer outro segmento vai tendo uma curva de ascensão constante até você se aposentar no final da sua vida profissional, para o atleta é quase constante por um tempo e depois tem uma queda abrupta. Por isso o planejamento financeiro é tão importante”, afirma Arnaldo Curvello.
Qual é o perfil de investidor de grandes atletas?
Justamente por essa preocupação com a aposentadoria, afirma Curvello, a alocação das carteiras mira especialmente a proteção do poder de compra. Isto é, investimentos que protejam o patrimônio dos clientes da alta da inflação.
“Vivemos em um país que tem um mercado financeiro bastante sofisticado e vários instrumentos para se proteger do que para mim que é o mais importante na vida de todo mundo quando a gente está falando de gestão patrimonial, principalmente do atleta, que é manter o seu poder de compra. Ou seja, você conseguir ter seu rendimento acima da inflação”, afirma o sócio diretor da Galapagos.
Para o gestor, a mudança recente nos fundos exclusivos e offshores afetou, mas seguem existindo boas opções para compor carteiras atreladas à inflação. Citando produtos acessíveis a todos os investidores, ele menciona os títulos do Tesouro Direto que são IPCA+. Ou seja, rendem a inflação mais uma taxa prefixada.
“A gente tem sempre uma visão mais conservadora, então boa parte da nossa carteira é atrelada à inflação, num período, um prazo médio no meio da curva, de 8 anos. Se for transformar isso em um ativo, são os títulos do Tesouro de 2030, 2032”, afirma.
Por que atletas quebram e o que a Galaticos faz para evitar isso?
“O erro começa lá no início”, diz Viviane Leal. “Quando você tem a falta do conhecimento, você acaba cometendo um erro. Você compra o imóvel errado, você faz maus investimentos, seja ele financeiro ou de empresas, tem muitas pessoas que oferecem [oportunidades]”.
O calcanhar de aquiles, muitas vezes, é o jogador não saber quanto ele de fato ganha e o quanto ele de fato gasta. Geralmente, os atletas percebem que não sabem o valor real nas duas pontas.
“Ele diz que ganha R$ 500 mil por mês e que gasta no máximo R$ 70 mil. Na verdade, a gente descobre que ele ganha R$ 370 mil, R$ 380 mil, com os descontos e os impostos. Quando ele gasta, ele gasta R$ 600 mil”, comenta.
Para Viviane, “gestão é consolidar”. O grande diferencial da gestora que tem Ronaldo como sócio, portanto, seria unificar todas as frentes, jurídica, a contábil e a operacional de pagamentos. A CEO diz ainda que a empresa exige que os clientes façam uma reunião mensal, em que vão ser informados sobre tudo que envolve a movimentação.
Viviane Leal ganhou o apelido de “senhora não”, conta Arnaldo Curvello. “Ela blinda o atleta, até para não ser ele quem fala não todo tempo”, completa. A CEO da Galaticos muitas vezes fica responsável por desaconselhar os clientes de aceitarem propostas de investimentos desvantajosas, que muitas vezes chegam a eles por pessoas no entorno, como amigos e parentes.
“A gente traz para dentro de casa, a gente faz essa análise, explica pro atleta o porquê daquilo não fazer sentido às vezes com a marca dele, com o momento da vida dele. E às vezes, na grande maioria, não ser um investimento seguro”, afirma Viviane Leal.