LCA ou Tesouro Direto: qual rende mais com a queda dos juros?
Entenda qual investimento é mais rentável no atual cenário, LCA ou Tesouro Direto, e as diferenças fundamentais de pós-fixado e prefixado
A taxa de juros no Brasil está em queda desde o começo do segundo semestre do ano passado, o que muda a dinâmica no mundo dos investimentos. Destaque especialmente para o impacto sobre a renda fixa. Nesse sentido, uma das perguntas do momento é: qual investimento rende mais hoje, LCA ou Tesouro Direto?
A queda dos juros é importante nesse caso porque ela impacta diretamente a rentabilidade das Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e do Tesouro Direto (TD). Além disso, há opções que devem ser consideradas, como as prefixadas e pós-fixadas, que têm comportamento opostos a depender do caminho projetado para os juros nos próximos meses ou anos.
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Nesse sentido, veja o que os analistas consultados pela Inteligência Financeira falam sobre qual investimento rende mais: LCA ou Tesouro Direto. Saiba também qual submodalidade (pré ou pós) é mais interessante.
O que é LCA?
Antes de descobrir a rentabilidade de cada opção mencionada, vale entender o que elas são.
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A LCA, ou Letra de Crédito do Agronegócio, é um título de emissão bancária em que ‘emprestamos’ dinheiro para um banco e contamos com o FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que justamente garante o pagamento do recurso investido mesmo se o banco quebrar, mas com limite de R$ 250 mil por emissor.
As taxas praticadas pelas LCAs, geralmente, vão de 92% a 98% do CDI, mas isso não significa que são retornos menos interessantes que títulos que pagam 100% ou mais que o CDI. Isso porque ela possui vantagens fiscais que serão mencionadas a seguir.
O que é Tesouro Direto?
O Tesouro Direto é um investimento em que o interessado ‘empresta’ dinheiro ao governo e recebe o pagamento ao longo de um período (extenso, se levado até o final) com juros.
“Por conta disso, o Tesouro Direto tem o que chamamos de ‘Risco Soberano’”, diz Luis Guingo, planejador financeiro e CFP pela Planejar, ao mencionar o risco atrelado à saúde financeira de um país e à capacidade de o governo central pagar suas dívidas no prazo.
Ele classifica o Tesouro Direto como o “investimento mais seguro do país“. E por isso, em geral “tem a menor taxa dos títulos de renda fixa, acima apenas da poupança”, dado que o risco geralmente caminha na direção oposta à rentabilidade.
Vantagens e desvantagens da LCA
Entre as vantagens da letra de crédito agrícola estão a fiscal, citada anteriormente. Nesse sentido, a LCA tem isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas.
Além disso, há também a já mencionada garantia do FGC de até R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira.
Entre as desvantagens da LCA estão risco e baixa liquidez.
Com relação ao risco, mesmo com FGC, o dos títulos de emissão bancária é maior que os de títulos públicos. Quanto à baixa liquidez, ela está relacionada ao prazo de vencimento dos títulos: mínimo de 9 meses.
Vantagens e desvantagens do Tesouro Direto
O Tesouro Direto tem o menor risco de crédito possível, já que é emitido pelo governo, que tem grande capacidade arrecadatória para pagar o que deve. Além disso, o TD oferece liquidez diária. Ou seja, é possível resgatar os valores sem grandes impedimentos.
Por outro lado, há tributação (Imposto de Renda) que pode chegar a 22,5% sobre a rentabilidade dependendo do prazo da aplicação. O valor mínimo de IR cobrado é de 15%. Além disso, a rentabilidade é baixa, dado o risco ser menor.
Impactos dos juros
O cenário brasileiro aponta para uma queda dos juros.
A taxa básica de juros (Selic) está em queda desde o ano passado e, segundo analistas do mercado, a trajetória deve seguir sendo essa pelo menos até o final do ano.
“O Tesouro Direto 2027, que é um dos primeiros produtos de entrada, como um prefixado, você sabe antecipadamente, e a taxa de juros agora é de 10,63%. Contudo, quando eu falo de LCA, ele normalmente é um percentual em cima do CDI. E esse percentual varia de produto para produto”, diz Luís Carlos Cambaúva, mestre em finanças e professor da Universidade Tiradentes.
Dessa maneira, a redução da Selic resulta em diminuição dos rendimentos dos investimentos de renda fixa como um todo, e isso também serve para TD e LCA.
“Portanto, se a taxa de juros cai, a rentabilidade nominal dos investimentos tende a diminuir”, diz Marcelo Bolzan, planejador financeiro, CGA e sócio da The Hill Capital.
Antes de compreender qual investimento é mais rentável neste cenário entre LCA e Tesouro Direto, é preciso entender como os títulos são indexados.
Nesse sentido, se destacam as opções pós-fixada e prefixada.
Pós-fixado e prefixado: qual se beneficia da queda dos juros?
Luis Guingo, planejador financeiro CFP pela Planejar, explica algumas opções dentro da renda fixa.
- Pós-Fixado: atrelado ao CDI (por exemplo, 100% do CDI; 110% do CDI; 120% do CDI etc.). Esta taxa acompanha de perto a Selic;
- Prefixado: uma taxa fixa ao ano que é determinada no momento de investir.
Quais opções se beneficiam com a queda dos juros
- No caso do pós-fixado, há perda de rentabilidade com a queda dos juros;
- Já o prefixado, em tese, irá se beneficiar.
“Imagine que você fecha uma taxa prefixada a 11% hoje para 5 anos e os juros recuarem para 5% ao longo dos anos. Você receberá 11% fixo ao ano durante todo esse período”, destaca Guingo, ainda que a taxa de juros caia aquém da metade do combinado no prefixado.
Redução da rentabilidade na renda fixa
Até junho de 2023, o Brasil tinha uma taxa básica de juros (Selic) de 13,75% ao ano “e, nesse período, foi possível investir com esse patamar de rentabilidade”, lembra Bolzan.
Atualmente a taxa é de 10,75% ao ano e a expectativa é que nesta quarta-feira (08/05) o Banco Central faça mais uma redução dos juros.
“Em menos de 1 ano, houve uma redução de 3 pontos percentuais nas taxas praticadas. Portanto, quem fez uma aplicação ano passado de R$ 100 mil está conseguindo R$ 3 mil de rendimentos a mais por ano se comparado a quem acabou de aplicar. Isso porque os juros da economia foram reduzidos”, acrescenta o especialista.
Isso ilustra bem a diferença de rentabilidade entre as opções prefixadas e pós-fixadas em um momento de queda dos juros.
Afinal, LCA ou Tesouro Direto, qual rende mais?
Planejar | “Ao analisarmos uma LCA e um Tesouro Direto de mesmo indicador e para o mesmo prazo é esperado que a LCA renda mais, com o benefício adicional de ser isento de IR para pessoa física” |
The Hill | “Em um cenário de queda de juros, sugiro alocar parte dos investimentos em estratégias prefixadas, de forma a travar taxas de juros mais elevadas hoje, enquanto o Banco Central não faz novos cortes na Taxa Selic” |
FIA | “Fazendo uma busca rápida por corretoras, não é difícil encontrar LCAs que entreguem uma rentabilidade maior do que a do Tesouro Direto. Porém, mais uma vez, reforço o prazo de investimento” |
Os especialistas consultados pela Inteligência Financeira são unânimes em dizer que a LCA rende mais que o Tesouro Direto no atual cenário.
Dessa forma, Bolzan sugere “alocar parte dos investimentos em estratégias prefixadas. Com isso, é possível ‘travar’ taxas de juros mais elevadas hoje, enquanto o Banco Central sinaliza novos cortes na Selic”.
Para Guingo, da Planejar, “ao analisarmos uma LCA e um Tesouro Direto de mesmo indicador e para o mesmo prazo, é esperado que a LCA renda mais. Isso levando em conta o benefício da LCA ser isenta de IR para pessoa física”.
Quanto rendem R$ 100 mil em LCA
Instituição consultada | Rating do título mencionado pelos analistas | Rentabilidade líquida ao ano | Valor total |
The Hill | Rating AAA | 9,23% | R$ 109.230,00 |
The Hill | Rating B- | 9,60% | R$ 109.600,00 |
Planejar | Rating AAA | 9,90% | R$ 109.900,00 |
Quanto rendem R$ 100 mil em Tesouro Direto
Com a taxa de 10,75% ao ano, se um investidor alocar R$ 100 mil no tesouro Selic, o resultado líquido será de R$ 108.868,75. Isso equivale a cerca de 86,23% do CDI.
“Para valer a pena trocar esse investimento por uma LCA, deve-se buscar por um ativo que pague mais que esses 86,23% do CDI. Fazendo uma busca rápida, não é difícil encontrar LCAs que entreguem rentabilidade maior”, diz Marcos Milan, professor da FIA Business School.
Porém, é preciso considerar o prazo de investimento. “Nesta comparação (entre Tesouro e LCA), temos um ativo que o investidor pode movimentar a qualquer momento (Tesouro). Por outro lado, um em que o investidor abre mão do dinheiro por ao menos 9 meses. São bons produtos, mas que atendem estratégias diferentes”, diz o professor.