Tesouro Direto: como títulos oscilam e podem ir de perdas até valorização de mais de 20% em um ano?

Fomos entender o motivo que derrubou alguns títulos; já outros renderam quase 2% ao mês

O Tesouro Direto oferece títulos atrelados à Selic, inflação e opções focadas em aposentadoria e estudos - Foto: Freepik
O Tesouro Direto oferece títulos atrelados à Selic, inflação e opções focadas em aposentadoria e estudos - Foto: Freepik

O Tesouro Direto é uma das modalidades mais conhecidas e utilizadas de renda fixa, de investir com segurança de acordo com uma rentabilidade pré-definida no momento da aplicação. Antes de começar a investir, é preciso entender como funciona o rendimento do Tesouro Direto, os diferentes tipos de títulos e os cuidados a serem tomados.

Primeiramente, é importante entender como o produto funciona. Ao investir em títulos públicos, você na prática empresta um valor ao governo, que te devolve pagando juros num prazo determinado. Entre as opções disponíveis estão títulos indexados à taxa Selic, ao IPCA ou a uma taxa pré-fixada.

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Uma das principais diferenças entre os títulos à venda é sobre a liquidez do seu investimento. Mesmo que o título comprado vá vencer só, por exemplo, em 2029, você pode vendê-lo hoje se quiser. No entanto, o que vai acontecer se você quiser vender antes do vencimento vai depender do título escolhido.

Para esta reportagem, a Inteligência Financeira ouviu Laís Costa, economista da Empiricus; e Victor Beyruti, analista da Guide. Abaixo, as explicações fornecidas pelos especialistas a respeito da variação dos títulos e de como se prevenir para acertar na hora de escolher um título.

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Investir no Tesouro Direto: o peso da marcação a mercado

O Tesouro Selic tem rentabilidade diária e liquidez. Se você for resgatar o seu investimento, vai receber de volta o que rendeu ao longo do período descontado do imposto de renda cobrado.

No entanto, se você optar pelo Tesouro IPCA+ ou pelo Tesouro Prefixado, vai estar sujeito a algo chamado de marcação a mercado. Em resumo, isso significa que os preços dos títulos mudam a cada dia e que se você quiser revender, vai receber o valor de mercado do título, independentemente da rentabilidade contratada.

“Se você mantiver o título até o vencimento, vai receber aquela taxa que foi combinada. Se valorizar e você resgatar antes, você vai ter um rendimento”, explica Victor Beyruti. “Mas se caiu e você precisar revender, você vai tirar menos dinheiro do que colocou”, completa.

Portanto, esse é um fator importante, que pode te levar tanto a rentabilidades altas, acima de 20% em um ano, quanto até a perder dinheiro. Entenda o funcionamento da marcação a mercado.

Tesouro Direto rendendo 20% ao ano? Entenda o que aconteceu

Ao analisar qual o melhor Tesouro Direto para investir, o interessado precisa tomar cuidado com as possibilidades colocadas e analisar os seus objetivos e momento de investidor. Um desses fatores é justamente o prazo do investimento.

O investimento no Tesouro Selic garante a segurança de preservar o patrimônio, enquanto as demais modalidades estão sujeitas a oscilações. Foi em uma dessas oscilações que quem comprou parte dos títulos há 12 meses atrás e resgatou a aplicação conseguiu um bom ganho financeiro.

De acordo com o último balanço do Tesouro Direto, seis títulos disponíveis à venda valorizaram mais de 20% no último ano. Os dados são de julho deste ano, publicados ao final de agosto no site do Tesouro Nacional.

No entanto, os dados merecem ser olhados com muito cuidado. Afinal, a variação de mercado no passado não é garantia alguma de valorização futura.

“É um grande erro pensar nesses 20% como uma rentabilidade prefixada. Não é incomum você ter uma oscilação tão grande dos títulos, mas é algo muito difícil de capturar”, afirma Laís Costa. Ou seja, títulos podem valorizar 20% ou mais em um ano, mas não existem títulos do Tesouro Direto com uma taxa de rendimento de mais de 20%.

Ela explica que para antecipar um movimento como esse é preciso ter uma análise muito detalhada a ponto de conseguir prever o comportamento de fatores de mercado. Portanto, uma tarefa que não está no perfil de investidores iniciantes ou mais conservadores.

Por que os títulos do Tesouro Direto variaram tanto?

Quando emite títulos da sua dívida, o governo estipula uma taxa para o rendimento daquele valor que acompanha o rumo do mercado. Quanto mais altas são as expectativas para os juros e a inflação, mais caro o governo se dispõe a pagar para quem aceitar lhe emprestar dinheiro.

Conforme as expectativas mudam, os preços e taxas dos títulos também mudam. Se a expectativa para os juros e/ou a inflação caírem, o governo passa a oferecer taxas menores. Mas isso não muda as taxas de quem comprou antes. E é aí que acontece a valorização.

“Por exemplo, se eu compro um titulo que paga uma taxa prefixada de 13%. Se a taxa de referência desse título cai para 11%, o título que eu já tinha vai valorizar, afinal eu garanti uma taxa maior, de 13%, até o vencimento. Se eu for vender, eu vou querer um valor maior do que eu paguei”, exemplifica Victor Beyruti.

O especialista explica que foi o que aconteceu ao longo dos últimos 12 meses. “A Selic estava muito alta e a perspectiva de inflação também estava alta, com a perspectiva de um governo que gastasse mais. Mas você teve uma melhora do risco fiscal, com a aprovação do arcabouço, e o arrefecimento da inflação”, completa o analista da Guide.

No dia 2 de janeiro deste ano, o governo estava oferecendo uma taxa de 12,95% ao ano de rendimento para o Tesouro Prefixado 2029. Em 21 de setembro, o governo dava quase 2 pontos percentuais a menos de rentabilidade, ou seja, uma taxa de 11,12% ao ano. Portanto, quem comprou lá atrás tem uma taxa melhor e o título está valendo mais do que valia.

Os seis títulos com maior rentabilidade em 12 meses

TítuloVencimentoRentabilidade (12 meses)
Tesouro Prefixado 202901/01/202927,05%
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 203301/01/203327,02%
Tesouro IPCA+ 204515/05/204525,88%
Tesouro IPCA+ 203515/05/203521,37%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 205515/05/205521,09%
Tesouro Prefixado 202601/01/202620,12%
Fonte: Balanço do Tesouro Direto (BTD) – Julho/2023

Vale a pena entrar agora nesses títulos?

Os especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira explicam que não é apenas porque a Selic deve continuar caindo, como antecipou o Banco Central, que o título vá necessariamente seguir valorizando.

“O Copom indicou novos cortes de 0,50 p.p., mas isso o mercado já precificou, já está considerado no preço atual. Para você ganhar dinheiro, o Copom precisaria acelerar mais do que isso”, diz Victor Beyruti. O analista da Guide vê espaço para valorização, uma vez que avalia que há possibilidade de o corte de juros ser acelerado no próximo ano.

No entanto, como dito, são apostas e análises de mercado que não são simples de cravar. “Você precisa ter convicções muito fortes para um lado ou para o outro para você poder surfar nisso”, diz Laís Costa.

Vale observar que parte dos títulos que tiveram altas em 12 meses observaram quedas no último mês registrado no balanço. É o caso do Tesouro IPCA+ Juros Semestrais 2055, que subiu 21,09% em 12 meses, mas caiu 0,11% em 30 dias, o que demonstra a volatilidade.

O que fazer se o título perder valor?

Victor Beyruti explica que se o título perder valor, a melhor indicação é evitar vendê-lo. Mesmo que o título veja uma desvalorização, se ele for levado até o vencimento pactuado no momento da aplicação, o governo garante o pagamento da taxa acordada.

“Se eu segurar até o vencimento, eu nunca vou perder dinheiro”, diz.

O Tesouro Direto reforça essa indicação no último balanço divulgado, ao mencionar um título que perdeu valor de mercado. “Por exemplo, o Tesouro IPCA+ 2035, que apresentou rentabilidade negativa no mês de julho, pagará, em seu vencimento, em torno de 5,25% a.a., acrescida da variação do IPCA no período, para aqueles que o adquiriram em 30/06/2023”, explica.

Qual o rendimento do Tesouro Direto

Agora que já falamos sobre os cenários para o resgate antecipado, vamos falar sobre qual é o rendimento do Tesouro Direto para os diferentes títulos disponíveis se forem levados ao vencimento.

Todas as taxas citadas referem-se ao rendimento do Tesouro Direto antes do desconto de Imposto de Renda e foram consultadas na quinta-feira (21) e são sujeitas a alterações diárias.

O Tesouro Selic rende a taxa básica de juros mais um pequeno percentual. A taxa atual do Tesouro Selic 2026 é soma dos juros (hoje em 12,75%) + 0,04% ao ano. Portanto, rendimento estimado em 12,79% ao ano.

Da mesma maneira, o título com vencimento em 2029 paga a Selic + 0,16 a.a. Portanto, cerca de 12,91% ao ano.

O Tesouro Prefixado tem uma opção com vencimento em 2026 e rentabilidade de 10,30% ao ano e outra com término em 2029 e rendimento de 11,12%. Por fim, há uma opção com o pagamento de juros ao longo do investimento e não apenas ao final, os cupons semestrais. Nesse caso, há um título com vencimento em 2033 e rentabilidade de 11,37%.

O rendimento do Tesouro IPCA+ (assim como o do Educa+ e o do Renda+) depende diretamente da inflação. De acordo com os dados de agosto, o índice acumulado em 12 meses está em 4,61%.

Os títulos IPCA+ atualmente disponíveis oferecem um prêmio acima da inflação que vai de 5,36% a 5,75%. Portanto, estamos falando de taxas de rendimento de apromixadamente 9,97% até 10,36% ao ano. Vale lembrar que a meta de inflação perseguida pelo governo para o próximo ano é de 3% a.a., que, se alcançada, reduzirá o potencial de rentabilidade.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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