Copom vem aí: veja os setores e as ações que podem ganhar com a Selic subindo a 14,25%

Empresas citadas na reportagem:
A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que acontece nos dias 18 e 19 de março, promete mais um aumento na taxa Selic. Assim, os juros devem subir 1 ponto percentual. Saindo de 13,25% para 14,25% ao ano. E esse aumento pode impactar, novamente, as empresas listadas na bolsa de valores.
“O que acontece é que o aumento da taxa de juros mexe com o custo do crédito, o que torna os empréstimos e financiamentos mais caros”, comenta Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos.
E isso pode afetar as empresas listadas positivamente. Ou negativamente. Tudo vai depender do setor em que essas companhias atuam.
Bancos, seguros… empresas listadas que saem ganhando
Bancos e seguradoras são empresas que se beneficiam com a Selic aumentando novamente. Isso na opinião dos quatro especialistas consultados pela Inteligência Financeira.
“Os bancos tradicionais e instituições financeiras tendem a se beneficiarem com a alta da Selic. E isso ocorre porque sua principal fonte de receita vem do spread bancário”, segundo análise de Ian Toro. Ele é head de renda variável da Melver. Spread nada mais é do que a diferença entre as taxas de captação de recursos e a ofertada nos empréstimos. “Então, com a taxa de juros elevada, essa margem tende a aumentar, favorecendo a lucratividade das instituições financeiras”, completa.
As seguradoras também podem obter melhores retornos sobre os prêmios investidos em títulos de renda fixa, melhorando a rentabilidade.
“O que acontece é que os prêmios recebidos dos clientes, via apólices de seguro, são investidos em renda fixa. Até porque, tal capital não pode correr risco, já que pode haver a sua utilização em casos de sinistros”, pontua Fábio Chiaparini, analista da Nova Futura Investimentos.
Energia elétrica também ganha
E aí, o setor de energia elétrica também se beneficia da atual política monetária. “Isso porque as empresas desse setor geralmente possuem contratos de concessão de longo prazo com receitas ajustadas pela inflação. E com a alta da Selic, elas podem obter melhores retornos em seus investimentos de renda fixa”, argumenta o mesmo planejador financeiro.
Empresas listadas em destaque
E entre as companhias desses três setores, aquelas que merecem maior atenção positivamente são:
Bancos e seguradoras
- Itaú Unibanco (ITUB3, ITUB4) e Bradesco (BBDC3, BBDC4): “Possuem grande capacidade de repasse da alta dos juros para os clientes e se beneficiam do aumento nas receitas de crédito”, afirma Toro.
- BTG Pactual (BPAC11): atua no segmento de investimentos e pode se beneficiar da demanda crescente por ativos de renda fixa.
- BB Seguridade (BBSE3): “Pode obter melhores retornos sobre os prêmios investidos em títulos de renda fixa, beneficiando-se do cenário de juros altos”, diz Jeff Patzlaff.
- Porto Seguro (PSSA3): possui forte atuação no setor de seguros patrimoniais e automotivos e também tende a melhorar seus resultados com a Selic mais alta.
Varejo, construtoras… quais empresas perdem com a Selic alta?
Do outro lado da mesa estão as companhias que podem ter resultados não tão positivos com a taxa de juros em ascensão.
Os primeiros setores que os especialistas apontam são: varejo e imobiliário. Mas não param por aí. A área de papel e celulose também tende a sofrer com a Selic em alta.
“No caso do varejo, o que acontece é que o encarecimento do crédito faz com que os consumidores comprem menos. E isso também impacta diretamente os bens duráveis. Afinal de contas, as características desses tipos de produtos (que possuem vida útil longa) fazem com que as pessoas posterguem as decisões de compra ou de troca por um bem mais novo e moderno por conta dos custos de financiamento”, esclarece José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School.
Já o “problema” do setor imobiliário é que ele depende fortemente do financiamento habitacional. “E com a Selic elevada, os juros dos financiamentos imobiliários também sobem, reduzindo a demanda por imóveis. Além disso, empresas do setor muitas vezes têm alto endividamento. O que torna mais oneroso o custo da dívida”, analisa Patzlaff.
E eu com isso? Preste atenção nessas duas informações |
Recentemente, o governo federal mexeu nas regras do saque-aniversário do FGTS. Com isso, estima-se que R$ 12 bilhões podem entrar na economia também por meio do consumo. Ainda recentemente, o principal banco que concede crédito imobiliário no País, a Caixa Econômica Federal, anunciou que vai segurar os juros da casa própria. Mesmo assim, a taxa atual, de 11,5% ao ano, é superior aos 10% cobrados no ano passado. |
Sinal amarelo para…
Com isso, os especialistas destacam algumas empresas desse setor em que é preciso atenção. Ou seja, sinal amarelo. São elas:
Varejo e bens duráveis
- Magazine Luiza (MGLU3): fortemente dependente do crédito ao consumidor, pode enfrentar dificuldades com a retração do consumo e aumento do endividamento dos clientes.
- Lojas Renner (LREN3): atua no segmento de moda, que costuma ser sensível a reduções no poder de compra da população. Afinal, geralmente quando esse poder de compra cai, as pessoas buscam gastar menos com roupas, por exemplo.
- Grupo Casas Bahia (BHIA3): assim como outras varejistas, é afetado pelo encarecimento do crédito e pela redução do consumo parcelado.
- Weg (WEGE3): “Fabricante de equipamentos para eletroeletrônicos, como motores, por exemplo, pode enfrentar redução na demanda devido ao encarecimento do crédito”, comenta Jeff Patzlaff, especialista em investimentos.
Imobiliário
- MRV Engenharia (MRVE3): “Sendo uma das maiores construtoras do Brasil, a empresa pode ter o impacto negativo pela diminuição na demanda por imóveis devido ao encarecimento do crédito imobiliário”, afirma o planejador financeiro.
- Eztec (EZTC3): mesmo sendo uma empresa mais voltada a empreendimentos de alto padrão, Ian Toro, da Melver, acredita que a companhia pode sofrer com a elevação do custo de capital.
Papel e celulose
Suzano (SUZB3): líder na produção de papel e celulose, a empresa pode ver seus custos financeiros aumentarem devido à alta dos juros. “Embora seja uma exportadora e, apesar de importar alguns insumos, ela tende a ser mais impactada negativamente pela valorização do real, já que suas receitas são majoritariamente em dólar”, argumenta Patzlaff.
Sem grandes aventuras nesse momento
Por fim, Fábio Chiaparini, da Nova Futura, afirma que enquanto a Selic ainda proporcionar ganhos aproximados (ou maiores) de 1% ao mês em renda fixa, não tem por quê arriscar demais em bolsa.
“O ideal, portanto, é diversificar em blue chips sólidas, como bancos, seguradoras e elétricas. Setor de varejo, imobiliário, construção civil e outros, são para ganhar dinheiro com Selic bem mais baixa”, conclui.
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