Ações do setor de alimentos: o que os analistas dizem sobre JBS, BRF, Marfrig, Assaí e Carrefour

Inflação está no centro da discussão sobre o futuro desses papéis na B3

JBS (JBSS3) comercializa carne, couro e margarinas e é dona de marcas tradicionais, como Seara, Swift, Marba e Friboi - Foto: Valor Econômico
JBS (JBSS3) comercializa carne, couro e margarinas e é dona de marcas tradicionais, como Seara, Swift, Marba e Friboi - Foto: Valor Econômico

As ações do setor de alimentos tiveram resultados muito diferentes entre elas ao longo de 2022. E muito disso está relacionado ao impacto que a inflação causou em cada empresa.

Para 2023, a inflação geral, medida pelo IPCA, deve seguir acima da meta, segundo analistas do mercado.

Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS

Com a inscrição você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade e passa a receber nossas newsletters gratuitamente

Porém, existe a expectativa de que o preço dos alimentos não force tanto a inflação como aconteceu em 2022.

“A leve queda dos preços das commodities em dólares, normalização do funcionamento das cadeias de suprimentos de insumos industriais e das condições climáticas, além de estabilidade na taxa de câmbio em torno de R$ 5,30 por dólar” devem favorecer uma redução da pressão inflacionária, diz Tatiana Nogueira, economista da XP.

“Esses movimentos, em conjunto com uma desaceleração no ritmo de crescimento da atividade econômica, devem contribuir para desinflação (em alguns casos deflação) de bens industriais e alimentos”, completa.

Muito diverso, o setor de alimentos tende a sofrer menos diante de uma queda da pressão inflacionária.

Porém, a inflação acima da meta ainda tende a ser um desafio para o setor, e existem empresas que devem sofrer mais diante disso, avaliam especialistas ouvidos pela IF.

O que deve acontecer com as ações de varejo e atacarejo?

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, entre as ações do setor de alimentos, as do atacarejo, modelo do varejo alimentar, tende a continuar em destaque em 2023 com sua capacidade de segurar preços.

“No ano de 2022, tivemos 50% do marketshare do varejo alimentício capturado pelos atacarejos. A razão por trás disso é o menor repasse de preços e preços mais atrativos a famílias brasileiras”, complementa.

Ele destaca o Assaí (ASAI3) como grande aposta para o setor. A empresa registra alta de mais de 30% na bolsa nos últimos 12 meses.

Outro destaque é o Atacadão, que pertence ao Grupo Carrefour (CRFB3). A bandeira vem sendo beneficiada pela conversão de lojas dos antigos supermercados Big e Maxxi em estabelecimentos de atacarejo do Atacadão.

Na outra ponta, porém, entre as empresas que mais sofrem estão as redes de varejo de alimentos que apostam em unidades menores, com mais diversidade de produtos e preços mais altos.

“Como principal prejudicado, vemos o Grupo Pão de Açúcar, que vem apresentando números fracos, muito em razão da perda de atratividade das operações de supermercado e conveniência diante da expansão do atacarejo”, diz Cruz.

Produtores não conseguem repassar as altas nos preços

A principal dificuldade dos produtores de alimentos tem sido o repasse dos custos dos insumos. Neste ambiente, também há empresas que estão mais vulneráveis.

Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, destaca entre as que mais devem sofrer M. Dias Branco e BRF, porque estão mais expostas ao aumento dos insumos.

Em resumo, a M. Dias Branco depende muito do preço do trigo e tem dificuldades de repassar o aumento do insumo. A BRF também tem sofrido bastante com isso.

“Ela é muito focada em grãos (como insumo para produção). Além disso, é uma empresa de margem curta porque seu produto é commoditizado” explica.

Por outro lado, a Ambev (ABEV3) deve apresentar melhor desempenho pela capacidade da empresa em repassar preços porque tem produtos de maior valor agregado e uma marca robusta.

“Além disso, a Ambev tem uma pauta de insumos mais extensa. O que acontece no preço de um não afeta a empresa de forma tão determinante”, avalia Soares.

Nos últimos 12 meses, as ações da empresa registram alta de 2,50% na bolsa.

Frigoríficos

Na parte de frigoríficos, Cruz, da RB, diz que os players estão, cada vez mais, voltados para exportação. “Então, a gente precisa acompanhar bastante a perspectiva de crescimento dos EUA, Europa e China”, afirma. “Estamos vendo no mundo todo agora uma revisão positiva para as projeções econômicas”, acrescenta.

Já o analista da Órama vê como grande trunfo do segmento a carne de boi se estabelecendo como produto de luxo.

“A China vai continuar colocando dinheiro no bolso dos consumidores e a fronteira de crescimento desse segmento, que é muito intensivo em água e terra barata, é a América Latina, mais especificamente, o Brasil. Com preço crescente, vemos o setor como muito bom”, avalia.

Ademais, ações da JBS e Marfrig também devem ser observadas de perto pelo investidor, afirma Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank.

As empresas não são impactadas apenas pelo aumento da demanda no exterior, mas, também pela oferta, já que possuem grande quantidade de plantas fora do país.

“Se acontece uma seca nos EUA, por exemplo, o custo de confinamento aumenta para essas empresas. É preciso olhar para isso também”, pondera.

Vaca louca em pauta

Bresciani alerta que a doença da vaca louca, identificado em um produto no Pará, também pode afetar de diferentes formas o segmento.

“No dia em que ficamos sabendo do caso, vimos JBS subindo bastante porque a maior parte das plantas fica no exterior. Por outro lado, as empresas do mercado interno podem vir a sofrer porque vai ter de carne não exportada, isso comprime as margens. É preciso olhar caso a caso”, explica.

O analista do Andbank completa dizendo que vê depreciadas as ações do segmento, o que pode ser uma oportunidade. Mas alerta sobre a necessidade de os investidores se debruçarem sobre aspectos como custo e demanda, inflação, safras e estoques em cada caso, além da situação da renda dos seus clientes. “Tudo isso para ver se é hora de entrar ou não nesse ativo”.

“Até o momento, portanto, vendo os balanços negativos de Marfrig e BRF, tudo indica que o setor deverá ter números bem machucados ainda”, completa.

Como a inflação e os juros afetam o varejo?

Assim, um cenário de juros altos tende a prejudicar de forma bastante particular o setor de alimentos. E uma redução dos juros brasileiros, que está no horizonte, deve ser benéfica às operações do setor, especialmente do varejo, “permitindo melhores resultados e melhores margens ao setor”, diz Cruz.

Com relação à inflação, uma redução na pressão sobre os preços tende a ser benéfica principalmente para o modelo de varejo tradicional (supermercado, hiper e conveniência).

“Vemos como principais beneficiados o Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) e o Grupo Mateus (GMAT3) (em caso de queda acelerada da inflação). Este último impactado pelas suas operações em diversos segmentos do varejo e principalmente pela menor competitividade e sua liderança no Norte e Nordeste do país”, afirma o especialista da RB.

Para Soares, da Órama, há no horizonte um cenário de arrefecimento da inflação e de descompressão da política monetária.

“Já terminamos um processo de aumento de juros aqui, e lá fora, também está terminando. Isso impacta trigo, milho, soja, entre outros, e o preço desses insumos deve reduzir”, avalia.

Porém, ele pondera sobre a incidência de eventos inesperados, mais presente no setor de alimentos e que pude virar o cenário de ponta-cabeça.

“Nem sempre acontece como planejado. Em 2019, com a gripe suína, esperava-se aumento da venda de porcos, mas os chineses resolveram comprar boi. A gente esperava uma alta substancial da venda de frangos, e ela não aconteceu”, lembra.

“Além disso, diante de uma mudança de cenário, cada empresa pode ir para um lado, com umas se beneficiando ou sofrendo mais do que outras com os fatores conjunturais”, destaca o analista.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

Mais em JBS (JBSS3)


Últimas notícias

VER MAIS NOTÍCIAS