Anbima vai revisar as certificações de profissionais do mercado financeiro
Mudanças devem impactar meio milhão de pessoas
No momento em que completa 20 anos desde a primeira prova de certificação para profissionais que atuam junto a investidores, a Anbima anuncia mudanças e novas diretrizes em relação às certificações. Tido como um dos cinco grandes projetos da Anbima para 2022, a revisão da arquitetura das certificações busca, entre outros objetivos, contemplar novos territórios e atividades não cobertas e deve impactar, em menor ou maior escala, a rotina de quase meio milhão de profissionais já certificados. E de tantos outros interessados que têm levado a um crescimento contínuo no volume de provas realizadas anualmente em cada uma das categorias.
A ideia também é aproximar a entidade do público, que mudou muito a partir de 2016, segundo Marcelo Billi, superintendente de Comunicação, Certificação e Educação de Investidores da Anbima. “Desde o início, o foco da área de Certificação era o relacionamento com as instituições associadas, o B2B. Hoje, temos jovens a partir dos 14 anos, estudantes, e profissionais que nem precisam da certificação e procuram as nossas provas pela distinção que elas representam. A relação cresceu muito, o que nos coloca numa operação de varejo e exige essa revisão crítica”, explica em entrevista Valor Investe.
Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS
Estudo vai orientar a revisão das certificações
Sendo uma das principais certificadoras de um dos três maiores mercados em número de profissionais, só atrás de China e dos Estados Unidos, a entidade começa a executar um amplo estudo para identificar se os escopos das certificações compreendem esse novo cenário tão mais democrático do mercado de capitais brasileiro. Atualmente, a Certificação Profissional Anbima (CPA) está dividida em: Série 10; Série 20; de Especialistas em Investimento; de Fundamentos em Gestão; de Gestores; e para Fundos Estruturados. Com o Brasil incorporando as soluções que partem de mercados mais maduros – como o uso de inteligência artificial para balancear carteiras e aumentar as possibilidades de ganhos com menores perdas -, ao mesmo tempo em que ocorre uma acelerada diversificação de agentes “dentro de casa” – com fintechs, assets , e plataformas de investimentos independentes e lançadas pelos bancos tradicionais – a Anbima avalia que é preciso rever as titulações.
Para isso, o perfil e a estrutura da distribuição de investimentos, e quais são as funções dos agentes do mercado (o “job analysis”) estão na primeira etapa desse estudo. “A ideia é fazermos entrevistas com os profissionais e as instituições para identificar os perfis, as ‘hard e softskills’ necessárias para trabalhar em cada cenário, e também aplicar testes com grupos qualitativos para validar as informações. Com base nisso, apontaremos quais mudanças podem ser necessárias em cada certificação já existente ou se será necessário criar novas”, diz o executivo.
Billi destaca exemplos do que motiva o debate, como os profissionais que atuam diretamente com soluções e ferramentas tecnológicas para orientar a tomada de decisão dos investidores. “Precisamos entender qual é a certificação que precisamos dar para essa pessoa que agora trabalha apoiada em robôs e algoritmos, uma função que não existia no passado”, pondera.
Outros territórios não cobertos por licenças específicas distribuídas pela Anbima estão em compliance; gestão de regimes de previdência de Estados e Municípios; e certificação de profissionais que trabalham em redes de atendimento de telemarketing das instituições, por exemplo.
É um trabalho de longo prazo, mas visto como urgente diante desse novo mundo da distribuição, como define o representante da entidade. “Essas são algumas sinalizações que já chegaram dos parceiros sobre a necessidade de CPAs com conteúdos mais específicos, mas também é possível que haja outras e que só o estudo vai possibilitar identificar”.
Validade da certificação também deve mudar
As diretrizes para orientar essas mudanças sobre as certificações já foram definidas e incluem ampliar a oferta e a frequência de ações educacionais à distância, e promover o aprendizado contínuo por meio de cursos mais curtos e constantes que levem a uma atualização mais rápida.
Para isso, a aposta da Anbima é a agenda de cursos para o ano, que já foi lançada, e potencializar a plataforma de estudos já disponível e que desde a pandemia passou a ser de acesso gratuito. “Esse será o canal permanente de educação continuada, com o conteúdo de qualquer mudança do mercado disponibilizado de forma rápida para a atualização ao longo da carreira e não só próxima do prazo de revalidar a certificação”, sustenta.
Isso deve reduzir a validade da certificação, que hoje é, na maior parte das licenças, de 5 anos para profissionais com vínculo e de 3 anos para quem ainda não atua na área. Essa orientação de aprendizado não obrigatório, permanente e para a vida, o chamado “lifelong learning”, se ampara em outra diretriz: incluir a ética no processo de certificação, algo que difere da teoria cobrada até agora nas provas realizadas.
“O que buscamos olhar agora é o histórico do profissional para saber se a conduta dele é ética dentro das instituições. Identificar os potenciais erros e os acertos em sua trajetória. No futuro, a ideia é que os investidores possam ter acesso a esse histórico para que se sintam seguros em relação ao profissional, a exemplo do que acontece em experiências internacionais como nos Estados Unidos, que permitem checar as informações do profissional de investimentos [brokercheck]”, argumenta.
Mesmo com a experiência de 11 anos na Anbima, o atual superintendente de Comunicação, Certificação e Educação de Investidores admite que essa deve ser a etapa mais difícil e que vai requerer mais energia dentro de todas as mudanças estruturais, algo que não desmobiliza o planejamento em curso.
“Tudo isso precisa passar por uma grande discussão sobre formas de viabilizar esse compartilhamento de informações, mas a ideia é começar aplicando as questões de ética primeiramente para a certificação mais complexa, que é o CGA, voltada aos profissionais ligados ao dever fiduciário” aponta Billi. “Cada vez mais, as licenças da Anbima serão uma distinção no mercado”, finaliza.