Como os dividendos, a recompra de ações pode beneficiar o acionista. Entenda os prós e contras
Desde o início deste ano, os anúncios de recompra na B3 chegam a 57, o que equivale a mais da metade da quantidade de todo o ano de 2021
A forte correção nos preços de ações diante de mercados voláteis e sensíveis ao cenário econômico global tem levado companhias de diversos setores, no Brasil e em outros países, a lançar mão de programas de recompra de seus próprios papéis.
No mercado doméstico, os anúncios de recompra aceleraram o ritmo em maio, quando 21 empresas deram início a programas para adquirir papéis de sua própria emissão. O número quase quadruplicou em relação aoT mesmo mês do ano passado e reflete o desempenho fraco da bolsa nas semanas anteriores – o Ibovespa caiu 10,1% em abril, no segundo pior desempenho desde o início da pandemia.
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Maio deste ano foi o segundo mês com mais programas abertos desde março de 2020, quando o coronavírus deflagrou uma crise mundial sem precedentes.
Desde o início deste ano, os anúncios de recompra na B3 chegam a 57, o que equivale a mais da metade da quantidade de todo o ano de 2021, quando 108 empresas realizaram Oferta Pública de Aquisição (OPA). O número também supera em 63% o anunciado entre janeiro e maio do ano passado, que teve boa parte das aberturas concentradas no segundo semestre.
Os programas adotados em 2022 podem movimentar até R$ 72 bilhões, levando-se em conta a cotação atual das companhias, caso todo o volume seja exercido. Somente as operações anunciadas no mês abrangem um volume que pode superar R$ 17 bilhões caso plenamente executadas. Gerdau, CSN, Suzano, JBS, Bradesco, XP, Cosan e Hapvida são alguns dos grupos que deram a largada em rodadas de aquisição de seus próprios papéis no mês de maio.
O que é a recompra de ações?
Recompra de ações é um mecanismo muito útil para as empresas de capital aberto e que tem se popularizado muito nos últimos tempos. Se você investe em ações já deve ter recebido um comunicado de recompra de ações.
A recompra de ações é um método em que a empresa compra ações no mercado para custodiá-las em sua tesouraria ou cancelá-las. Em geral, a ação é feita quando a companhia considera que o preço de suas ações está abaixo do seu valor.
“Então ela compra abaixo do valor que o mercado estava pagando. É uma maneira de as empresas diminuírem o custo de capital. Toda empresa analisa quanto custa deixar suas ações no mercado e o valor dessa dívida. Se não vale a pena, ela muda de estratégia”, afirma Caio Camargo, especialista em investimentos do Itaú Unibanco.
Como funciona recompra ações?
De certa forma, a intenção de recomprar ações é vista pelo mercado como uma sinalização da empresa de que acredita no potencial de suas ações.
Caso as ações sejam canceladas, o número de acionistas diminui. Logo, o lucro total da companhia é dividi-lo por menos pessoas. O que significa que a empresa retém mais o lucro pelas ações que possui.
Já se as ações forem mantidas pela empresa em sua tesouraria, ela irá esperar o melhor momento para vendê-las. Como acredita que o seu preço irá subir, terá um lucro com a operação. Dessa forma, a empresa realiza essa ação por ser lucrativa para ela.
A recompra de ações beneficia o acionista?
Para o acionista, a recompra de ações pode ser vantajosa. Isso porque mesmo o acionista minoritário passa a ser dono de uma porcentagem maior da empresa, aumentando assim seu patrimônio.
Por exemplo: se o investidor tem 1% das ações de uma empresa e essa campanha recompra 10% de suas ações disponíveis no mercado, o investidor que mantiver seus ativos terá 1,11% do total da companhia.
A analista do Inter Gabriela Joubert observa que, para o investidor, o plano de recompra contribui para segurar as perdas do papel num primeiro momento.
“Estamos [maio de 2022] entrando em ‘bear market’ [nível técnico que indica tendência negativa, definido por uma queda de 20% do pico recente], então, faz sentido as companhias anunciarem suas recompras”, diz a analista.
A Vale, no fim de abril, pavimentou o caminho de programas mais robustos com o anúncio de recompra de até 500 milhões de ações – equivalente a mais de R$ 40 bilhões. A operação está prevista para durar até o segundo semestre do próximo ano.
Em teleconferência com analistas sobre os resultados trimestrais, o vice-presidente executivo de finanças e relações com investidores, Gustavo Pimenta, declarou que a recompra de ações “é o melhor investimento” que a empresa tem. E, de acordo com o executivo, isso não quer dizer que a mineradora não pagará dividendos extraordinários. “Vai depender do fluxo de caixa. Podemos fazer ambos [dividendo e recompra], mas a recompra tem ótima perspectiva”, afirmou.
Joubert afirma ter discordado da recompra anunciada pela companhia em outubro do ano passado, de até 200 milhões de papéis – programa concluído neste mês, com aquisição de todas as ações, antes da abertura da atual recompra. Na avaliação da analista, a operação poderia ter sido convertida em dividendos para os acionistas.
De acordo com ela, a Vale quis transmitir uma mensagem de confiança na companhia. “As empresas continuam pagando dividendos, mas também compram ações passando a ideia de que estão investindo nelas mesma. A mensagem é unânime. Estou com excedente de caixa, vou te pagar dividendos. Mas também vou comprar ações da minha empresa e façam o mesmo, acionistas”, diz a analista do Inter ao descrever essa lógica.
Pontos negativos da recompra de ações
Para a analista do Inter, é preciso olhar para o pós-recompra e entender o objetivo de cada companhia ao fazer esse tipo de operação. “Precisamos nos atentar para o que a empresa fará com a aquela quantidade de papel que comprou. Vai cancelar, vai manter em tesouraria ou vai fazer follow-on [uma oferta subsequente de ações] para capturar o para capturar o dinheiro novamente?”, diz Joubert.
Pontos negativos da recompra de ações
O sócio e analista da Nord Research Guilherme Tiglia observa que as recompras podem refletir negativamente na liquidez das ações. “Tem programas que não alteram, enquanto outros mexem bastante com a liquidez”, diz.
Recompra de ações vem acontecendo em toda América Latina
A recompra é mais comum nos EUA, mas vem acontecendo em toda América Latina. “Pela ótica do investidor, é uma redução do custo de capital que pode melhorar os indicadores da companhia. É um bom indicativo das empresas porque é uma correção de curto prazo”, disse Caio, do Itaú.