Como ter R$ 1 mil por mês em dividendos?
Estratégia possibilita uma remuneração regular baseada em proventos
É possível montar uma estratégia para apurar uma remuneração regular baseada em proventos pagos por empresas, levando em conta o perfil do investidor, a disciplina e a disponibilidade de fazer uma gestão ativa da carteira
Com a divulgação de pagamentos bilionários em dividendos e juros sobre capital próprio, nos últimos meses, quem não gostaria de um pedaço desse quinhão?
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Esses proventos são distribuídos aos acionistas das companhias, ou seja, aos “sócios” que investiram algum capital na empresa.
Do lucro que a empresa tem em determinado período, uma parte ou a totalidade é distribuída a esses sócios, na proporção do número de ações detidas.
É possível montar uma estratégia para conseguir uma remuneração regular baseada em proventos pagos por empresas?
Sim, mas é preciso ter em mente – como em todo tipo de investimento – o seu perfil de investidor, a disciplina e a disponibilidade de fazer uma gestão ativa de sua carteira.
O primeiro passo é montar uma carteira com ações de empresas boas pagadoras de dividendos, isto é, que pagam os maiores “dividend yields”, o rendimento, que é a proporção entre o valor pago pela ação dividido pelo valor distribuído pela empresa sob a forma de dividendos.
Petrobras paga dividendos recordes
No final de julho, a Petrobras anunciou o pagamento recorde para um único trimestre de R$ 87,8 bilhões, correspondendo a R$ 6,73 por ação ordinária (PETR3) e preferencial (PETR4).
No ano, a estatal já distribuiu R$ 136,3 bilhões aos seus acionistas.
O dividend yield/rendimento ao investidor chegou a 20%. Isso significa que, quem pagou R$ 10 numa ação da empresa (num exemplo hipotético), ganhou R$ 2 só em dividendos. Isso sem considerar qualquer valorização que a ação teve na bolsa.
Em 12 meses, o rendimento da Petrobras é de mais de 40%. Poucos investimentos proporcionam um retorno dessa magnitude.
Mas, nesse caso, o que é hoje pode não ser amanhã.
“Atualmente, a Petrobras está pagando esse dividend yield por razões circunstanciais, como momento do petróleo no mercado internacional e questões internas, como gestão, entre outros fatores, mas nem sempre ela pagou isso”, alerta Alexandre Rodrigues, planejador financeiro da Fiduc.
O planejador explica que, para ser um “investidor de renda”, é importante observar que uma empresa pode não continuar pagando o mesmo percentual de retorno.
“É um indicador passado, mas é também um orientador para você saber em quais ações alocar na carteira”, aponta.
“Apesar dos ‘yields’ [taxas de retorno] atuais bastante generosos de empresas como Petrobras, Braskem ou Gerdau, uma carteira de renda mensal idealmente deve mirar em papéis de setores perenes ou mais previsíveis e não-cíclicos, que vivem de momentos bons outros ruins, que tipicamente são mais defensivos e possuem maior previsibilidade nas distribuições de proventos”, afirma Felipe Ruiz, sócio da AGF (Ações Garantem Futuro), empresa fundada em parceria com Louise Barsi, filha do megainvestidor, Luis Barsi.
Em quais setores investir?
Entre os setores perenes e não-cíclicos que contam com empresas boas pagadoras de dividendos, Ruiz cita bancos, energia, saneamento, seguros e telecomunicações.
Rodrigo Crespi, estrategista da Guide Investimentos, reforça que ver se o setor é cíclico ou não é um fator importante para determinar quais as melhores empresas para se tornar acionista e apurar rendimentos constantes.
“Por exemplo, quando se olha petróleo, o setor é bastante cíclico, que atualmente está mais positivo por conta do choque de oferta. Após a pandemia, a demanda voltou muito mais rápida que a capacidade produtiva das empresas. Daí a alta dos preços”, ilustra Crespi.
Quais as ações que mais pagaram dividendos?
Veja na tabela abaixo os papéis que mais distribuíram lucro nos últimos 12 meses, terminados em 23 de agosto – valores em %:
Posição | Empresa | Ativo | Dividend Yield |
1 | SYN Prop & Tech | SYNE3 | 196,68 |
2 | Petrobras | PETR4 | 48,63 |
3 | Celgpar | GPAR3 | 46,06 |
4 | Petrobras | PETR3 | 43,69 |
5 | Braskem | BRKM5 | 27,90 |
6 | Marfrig | MRFG3 | 27,45 |
7 | Braskem | BRKM3 | 24,82 |
8 | Metalúrgica Gerdau | GOAU3 | 24,09 |
9 | Metalúrgica Gerdau | GOAU4 | 22,87 |
10 | Vale | VALE3 | 21,73 |
Como a queda do preço do petróleo afeta os dividendos
Não à toa a Petrobras vem reportando lucros bastante acima da média e, consequentemente, distribuindo dividendos recordes.
No entanto, o preço do petróleo pode perfeitamente entrar num movimento de baixa, levando junto o lucro das petrolíferas, consequentemente, dos dividendos.
Já o setor de energia, notadamente de geração e transmissão, é mais previsível, uma vez que atuam em um mercado regulado por contratos, após a realização dos leilões realizados pelo governo.
“Não são empresas que vão pagar 40%, mas também não vão pagar 2%”, afirma Crepi.
“Têm mais consistência no pagamento dos dividendos.” Além disso, a cotação dos papéis negociados na bolsa não sofre tanta oscilação.
Invista na previsibilidade dos setores
A previsibilidade desses setores bons pagadores de dividendos vem também da própria característica da atividade que exercem, com um consumo muito menos sujeito a mudanças.
O setor de energia se encaixa bem nisso.
Se o preço da tarifa da conta de luz sobe, você pode economizar numa coisa ou outra dentro da sua casa, mas dificilmente vai trocar as lâmpadas por um lampião, certo?
Rodrigues sugere montar um portfólio de ações com 8 a 12 empresas. “Menos que oito, aumenta o risco, e mais que 12 fica muito difícil de acompanhar”, explica.
O que é o IDIV
Para essa “lição de casa”, uma boa fonte de consulta, segundo os especialistas, é a carteira teórica Índice Dividendos (IDIV), elaborada pela B3.
“O IDIV é composto por empresas com a característica de boas pagadoras de dividendos”, descreve. “Essa carteira teórica, no entanto, possui quase 50 empresas. É a parte desafiadora: garimpar quais são as melhores entre essas 50.”
Nesse sentido, além de olhar a característica do setor (é cíclico ou não), outros critérios específicos para escolher uma empresa são lucros recorrentes – e crescentes -, baixo nível de endividamento (alavancagem) e regularidade na distribuição de dividendos ou juros sobre capital próprio (JCP).
“Tem empresas que pagam uma bolada de dividendos em um ano específico, mas fica outros cinco, dez anos sem pagar nada”, alerta Rodrigues, acrescentando que um bom horizonte de tempo para checar essas informações é dos últimos cinco anos.
“Quando você compra uma ação está se tornando sócio daquela empresa”, ressalta Rodrigues. “Precisa saber como vai a saúde financeira dessa companhia e precisa ter disposição e disciplina pra isso.”
Como ter investimentos com dividendos
Entendido o conceito de como compor uma carteira de ações que proporcione rendimentos regulares, é possível fazer algumas simulações para ter uma ideia de quanto investimento deve ser feito para receber R$ 1 mil, mensalmente, só sob a forma de dividendos.
Rodrigues, da Fiduc, observa, no entanto, que são muito raras as empresas que pagam proventos mensais.
“A maioria paga trimestralmente e algumas semestral ou anualmente”, afirma. Mas é possível estabelecer uma métrica que corresponda a esse valor.
Grosso modo, a conta é: para uma renda mensal de R$ 1 mil é preciso calcular o valor anual, ou seja, R$ 12 mil de retorno em dividendos.
Assim, para uma ação que pague 12% de dividend yield ao ano, o valor investido deve ser de R$ 100 mil.
Para a que paga 5% ao ano, são R$ 240 mil. Lá no topo da lista, para a que paga 20%, são R$ 60 mil em ações, segundo Rodrigues.
Qual é o segredo para investir em dividendos
Mas, lembrando que o ideal é não concentrar os recursos em um único papel, o “segredinho” da cesta é combinar setores, empresas, o valor da ação e o dividend yield anual que alcancem essa média.
“É recomendável não colocar todo investimento em uma única empresa. É preciso diversificar a carteira”, reforça Rodrigues.
Outro detalhe é quanto o investidor pagou pela ação, complementa Rodrigues.
“O dividend yield é calculado a partir da cotação da ação. Se você paga muito caro em alguma ação, esse rendimento cai. Enquanto que, quando o preço das ações cai, ou seja, quando o mercado está em queda, o dividend yield das empresas costuma subir”, explica. “Se você é um investidor de renda, fique feliz quando o mercado cai”.
Fundos imobiliários também pagam dividendos
A obtenção de uma renda regular por meio de distribuição de dividendos ou juros sobre capital próprio em um determinado período não é exclusividade de ações.
Outros tipos de investimento também permitem essa estratégia, como fundos imobiliários (FII) e títulos do Tesouro Direto, que se adequam a cada perfil de investidor.
Os FIIs, diferentemente das ações, pagam dividendos mensais, como observa Alexandre Rodrigues, planejador financeiro da Fiduc.
“São boas opções para quem quer usufruir de renda, porque fazem pagamento mensal, são menos voláteis, têm risco menor do que as ações”, ressalta.
Por outro lado, aponta Rodrigues, os fundos imobiliários estão atrelados a unidades de imóveis, que têm um limite de crescimento.
“Geralmente, eles andam próximos da inflação, o que é positivo porque protege o investidor, mas não têm grandes potenciais de multiplicação.”
Por que investir em renda fixa
Para quem tem um perfil conservador, a renda fixa também oferece a possibilidade de ganhos regulares, ainda que não sejam mensais.
“Menos riscos ainda estão com o Tesouro Direto IPCA, as NTN-Bs, que pagam juros semestrais, podendo complementar a renda”, explica o planejador da Fiduc, acrescentando que, como esses títulos têm vencimento, é interessante reaplicar parte do recebido no mesmo título, com vencimento mais distante, renovando a aplicação para novos recebimentos de juros.
Investidores em ações são classificados com perfil entre o moderado (com exposição mínima) e o arrojado e agressivo (para maiores exposições), dependendo do nível de risco que aceitam tomar em troca de maior rentabilidade.
Ainda assim, dentro desse perfil podemos classificar sub-perfis, como aponta Felipe Ruiz, sócio da AGF (Ações Garantem Futuro).
Mesmo entre os investidores que aceitam os riscos de um mercado muito volátil, há os mais conservadores e os mais arrojados.
Para ambos é possível construir um portfólio de ações que gerem renda mensal.
Conheça a melhor estratégia
Ruiz explica que a melhor estratégia para esse objetivo é combinar empresas boas pagadoras de dividendos com outras de maior potencial de valorização da ação em si.
“A diferença entre a carteira de investidores de diferentes perfis se dá pelo mix entre ações boas pagadoras de dividendos e ações de oportunidades”, explica.
“Oportunidades – ou as ‘pimentinhas’ da carteira – são ações com alto poder de valorização e baixa distribuição de dividendos. A ideia é que, no momento em que elas se valorizem, sejam vendidas para alocar o recurso em mais ações de dividendos melhores.”
Para o investidor em ações mais ‘conservador’, Ruiz recomenda construir um portfólio com 100% de ações boas pagadoras de dividendos ou, no máximo, adicionar um percentual pequeno de ações de oportunidades (de 5% a 10%) na carteira.
“Quanto mais ‘agressivo’ o investidor, maior a representatividade das oportunidades na sua carteira”, explica. “Ainda assim, estas não devem ultrapassar os 25% a 30%. Independentemente do perfil do investidor, as ações boas pagadoras de dividendos devem predominar.”
Por fim, quanto maior for o reinvestimento dos dividendos recebidos, maior é a bola de neve (ou de dinheiro), já que os recursos recebidos compram novas ações que, por sua vez, também vão gerar um montante maior de dividendos no futuro e por aí vai.