Se endividar é comum. Acontece com quase todo mundo, e no mundo corporativo não é diferente: as empresas tomam empréstimos para financiar pesquisas, aquisições ou ainda trocar uma dívida cara por outra mais barata. Para quem investe pensando em dividendos, olhar para a dívida das empresas é ainda mais importante, mas não há uma receita pronta e é preciso saber analisar caso a caso.
Quando a dívida da empresa chega ao seu bolso
Entender a relação do endividamento de uma empresa com a distribuição de dividendos aos acionistas é simples. Antes de tudo, é importante lembrar que o pagamento de dividendos está atrelado ao lucro líquido de uma empresa. A companhia divide parte de seu lucro com quem apostou nela.
O cenário se complica se uma empresa tem um endividamento alto e precisa pagar essa dívida, mas vê suas receitas caindo. Isto fará com que o lucro líquido da companhia seja menor, afetando a remuneração aos acionistas. Este é um cenário que faria investidores focados em dividendos correr da ação, mas há vários critérios para analisar antes de se desfazer de um papel.
Como avaliar a estrutura da dívida
Nem toda dívida é igual. Você pode pegar um empréstimo de R$ 1.000 com um parente que não te cobra nada por isto, ou pegar a mesma quantia emprestada de um banco que cobra juros de 20% ao ano, além de multa por atraso no pagamento da parcela. Há ainda o prazo em que a dívida deve ser quitada. Tudo isto deve ser avaliado em uma empresa também.
Lucas Carvalho, analista de investimentos da Toro, explica que o primeiro passo é avaliar como a empresa é financiada. O dinheiro que financia o crescimento da empresa vem de dentro da companhia? Se sim, ótimo, mas é muito comum que as empresas tomem dinheiro emprestado para financiar seus projetos. “Se uma empresa tem endividamento de curto prazo, terá que pagar mais dívida, o que vai impactar investidores que demandam mais dividendos ou juros sobre capital próprio”, diz Carvalho.
Portanto, não basta apenas saber quanto a empresa deve. É preciso saber se a companhia gera caixa para pagar a dívida, se precisa quitá-la rapidamente, se o custo da dívida é alto e o endividamento vai afetar a capacidade de geração de caixa.
Dividendos, Selic e inflação
Sua carteira de dividendos ainda pode ser afetada pela alta da taxa básica de juros ou da inflação, por isso é tão importante conhecer o perfil da dívida da empresa. “Se o endividamento estiver atrelado a algum índice de inflação ou à Selic e a receita não subir com esse índice, a distribuição de dividendos pode ser afetada”, explica Guilherme Gentile, head de análise da Dividendos.me.
Dívida é critério eliminatório?
Para os especialistas, sim: o investidor pode deixar de colocar uma ação em carteira por causa da dívida dela. Para Gentile, não existe um número mágico que pode ser aplicado em todos os casos. Para o setor elétrico, que costuma ter altos investimentos no início de projetos, ele considera saudável um indicador menor que três vezes quando a dívida líquida é dividida pelo Ebitida da companhia.
Acima de tudo, é preciso entender o momento pelo qual a empresa está passando. “Às vezes a empresa está tomando dívida projetando crescimento maior, então investe mais no negócio no curto prazo para no futuro pagar mais dividendos”, exemplifica Carvalho. Ou seja, os números falam, mas mostram apenas um ângulo do que está acontecendo com a empresa. É preciso ter um olhar mais amplo para ser mais assertivo e construir uma carteira de dividendos vencedora.