Fundos de dividendos chamam atenção com a bolsa mais volátil
Idiv, indicador das pagadoras de dividendos, rende o dobro do Ibovespa
Em um ano, com os mercados tão voláteis, o bom desempenho dos fundos de dividendos chama a atenção entre os fundos de ações, que andam mal, em geral.
Boa parte deles rendeu perto do Idiv, indicador das ações que se destacam como boas pagadoras de remunerações aos acionistas. O índice acumula alta de 11% no ano até o fim de agosto, mais que o dobro do Ibovespa no mesmo intervalo.
Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS
O que são dividendos
Os dividendos são a parte do lucro das companhias distribuída aos acionistas.
A maioria das empresas estáveis distribui a remuneração como forma de atrair investidores.
Os fundos de dividendos são fundos de ações que compram os papéis dessas companhias. Eles acumulam rendimento de até 24% neste ano, conforme um estudo elaborado por Marcelo d´Agosto, consultor financeiro e blogueiro do Valor Investe, com base em dados da plataforma Morningstar.
Analistas e gestores afirmam que agora, acionistas devem ter uma parte da carteira alocada nesses papéis ou fundos, conforme o perfil e os objetivos de cada um, para diversificar os riscos. Não por causa do rendimento passado, pois nada garante que ele se repetirá no futuro, mas sim diante da expectativa de um cenário incerto para os mercados.
Quais ações pagam dividendos?
As ações boas pagadoras de dividendos são defensivas. Elas estão em alta na bolsa, em geral, porque as companhias conseguem ser mais resilientes em momentos difíceis para a economia.
As empresas atuam em setores estáveis e têm estrutura financeira sólida para lidar com a inflação e a alta de juros. Elas têm menos dívidas ou têm tranquilidade de que vão conseguir pagá-las, ou seja, o seu fluxo de caixa é previsível.
Assim, investidores estrangeiros e institucionais preferem comprar essas ações, impulsionando o seu desempenho.
“As ações avançam porque o fluxo de caixa previsível das companhias atrai os investidores. Os dividendos são apenas uma consequência”, afirma Nicolas Merola, chefe de análise de investimentos da Inv.
Gestores saem das ações de empresas de crescimento
Ele diz que muitos fundos de ações estavam com a mentalidade de apostar em ações de companhias de crescimento, aquelas cuja parte do seu valor está na expectativa de alta no futuro e com fluxo de caixa menos previsível, como as empresas de tecnologia.
Eles não se adaptaram rapidamente ao cenário e acabaram ficando em desvantagem em comparação aos fundos de dividendos.
“Ainda vejo bastante potencial nas ações pagadoras de dividendos. O desempenho delas depende das eleições, porque muitas são estatais impactadas pelas decisões políticas, mas as companhias em geral são sólidas”, afirma Merola. “O cenário ainda não é de queda de juros nem no Brasil, nem no exterior”, diz.
Ambiente segue turbulento
Marcos Peixoto, sócio da XP e gestor de renda variável da XP Asset, afirma que a aposta em boas pagadoras de dividendos continua importante neste segundo semestre, porque o ambiente segue turbulento.
“Mesmo que a alta de juros tenha chegado ao fim no Brasil, ainda há uma incerteza forte do que acontecerá com a economia em 2023. Ainda não é hora de apostar em histórias com mais risco”, diz.
A maior fatia do fundo XP Investor Dividendos, que acumula alta de 26% neste ano, está comprada em ações do setor elétrico, especialmente Eletrobras, mas também Energisa, Eneva e Equatorial. As companhias têm os contratos atrelados à inflação e acabam sofrendo menos no atual cenário, porque a energia continua sendo essencial para os consumidores.
Foco no setor bancário
A segunda maior parcela do fundo está em papéis de bancos, especialmente Banco do Brasil e Itaú, que ganham dinheiro com a alta de juros e se fortalecem em comparação às fintechs neste momento de inadimplência recorde.
E, ainda, o fundo está aumentando a posição em ações de varejistas mais estáveis, conforme Peixoto, como Renner e Vivara.
A importância do dividend yield
Roberto Lira, gestor do fundo Plural Dividendos, da Genial, afirma que, apesar da incerteza no mercado, há companhias gerando caixa como não se via há muitos anos e o “dividend yield” da bolsa, um indicador que mede a rentabilidade dos dividendos em comparação ao preço das ações, está alto.
“Estamos esperando um dividend yield perto de 12% nos próximos 12 meses. É quase uma Selic, fora o ganho de capital com a valorização das ações. Isso torna os fundos de dividendos muito atrativos”, diz. “Nossa meta é comprar ações de companhias com capacidade forte de aumentar a geração de caixa ao longo do tempo para distribuir dividendos, empresas de qualidade que não refletem a economia geral.”
Ele afirma que essa modalidade de fundo de ações pode ser o primeiro passo dos investidores na renda variável e que o objetivo não é superar o Ibovespa, e sim o rendimento dos títulos atrelados à inflação no longo prazo.
O que o investidor deve fazer
O gestor aconselha deixar o dinheiro investido nesses fundos por, no mínimo, três anos. “Acho muito provável que as ações da bolsa brasileira se valorizem em 12 meses e isso pode acontecer antes, mas não dá para saber. Esse não é um investimento de curto prazo”, diz.
O fundo da Genial também está com a maior parte alocada em ações do setor elétrico e bancos.
Do setor elétrico, as favoritas são Eletrobras e Equatorial, mas o fundo ainda tem CPFL e Engie na carteira. “Aumentamos a compra de Eletrobras após a oferta de ações, porque a companhia ainda tem muito a entregar de melhorias, e a Equatorial é a mais diversificada e eficiente do setor. Já CPFL e Engie têm muito dividend yield para distribuir nos próximos anos”, afirma Lira.
Entre os bancos, Banco do Brasil e Itaú também são os preferidos.
“O Itaú é o banco mais eficiente, que entrega os melhores resultados, tem um negócio diversificado e um controle de risco mais interessante. Já o Banco do Brasil vive um momento único de recuperação, já se equiparou aos pares privados e a ação está muito barata”, diz.