Sob nova regra, primeira lista de fundos sustentáveis da Anbima divide opiniões

Mudança na classificação passou a valer este ano para as mais de mil instituições

Foto: Divulgação
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A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) divulgou na semana passada a primeira lista com 22 fundos sob as novas regras da classificação dos fundos sustentáveis, que passaram a valer este ano para quem adere ao “Código ANBIMA de Regulação e Melhores Práticas para Administração de Recursos de Terceiros”, que chega hoje a 1.075 instituições, entre gestoras de investimentos e patrimônio.

Do total, 17 foram colocados na categoria Investimento Sustentável (IS), que se refere, de acordo com parâmetros estabelecidos, àqueles que tem o objetivo de ser 100% sustentável. Os outros cinco entraram na categoria integração ESG, que observa se a gestão usa métricas ESG em seus processos de análise e seleção, mas não há restrição do tipo de ativos — a carteira pode ter parte com e outra parte sem foco sustentável.

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Os nomes dividiram, porém, opiniões no setor. Fabio Alperowitch, fundador da Fama Investimentos, por exemplo, não escondeu sua contrariedade. “Entendo que este fundo IS deveria ser exclusivamente para fundos de impacto, fundos temáticos, como água, energias renováveis, em que todos os ativos tivessem essa adicionalidade positiva.”

Ele acrescenta que o próprio fundo que administra tem em carteira empresas consideradas responsáveis, mas que não podem ser tratadas como companhias de impacto positivo, citando a Renner, como exemplo. “A Anbima está oficializando o greenwashing. Não podiam ter feito pior.”

Já para Alexandre Gazzotti, analista de ESG da Itaú Asset, a iniciativa da Anbima tende a combater o greenwashing uma vez que define critérios robustos que os gestores devem cumprir em termos de estrutura, capacidade e avaliação das empresas constantes desses portfólios.

“A maior transparência quanto aos objetivos dos fundos e a formalização dessa estratégia nos regulamentos deixa mais claro aos investidores os objetivos de cada fundo, e traz detalhes como o gestor buscará alcançar esses resultados”, completa ele.

Controvérsia no mercado

A controvérsia criada no mercado entre os que aplaudem a iniciativa da Anbima e entre os que a criticam não chegou a ser surpresa para Luzia Hirata, gerente ESG da Santander Asset, que participou dos grupos de trabalho organizados na associação. Segundo ela, houve uma certa confusão, porque há fundos que integram o ESG e outros que incluem alguns parâmetros.

“Mais importante do que o produto é avaliar as práticas que o gestor tem, como ele está se estruturando para absorver esse volume extremamente elevado de informações”, afirma a executiva.

Para ela, os gestores precisam investir cada vez mais em ferramentas, na formação de pessoas que possam atender as demandas dos investidores que querem saber quais são os critérios, as premissas para incluir um papel em seus investimentos.

“Ficar fiscalizando quem está fazendo greenwashing não é o papel da Anbima, neste momento. As críticas são sempre bem-vindas, ainda mais quando são construtivas”, acrescenta Luzia Hirata.

Na lista dos fundos IS estão produtos de gestoras como JGP, Schroders, Santander, BNP, BB e outros. Nos fundos com integração ESG estão Bocaina, Brasil Capital, Claritas e Fama.

Discussão sobre parâmetros

Ao Prática ESG, Carlos Takahashi, vice-presidente da Anbima e coordenador Grupo Consultivo de Sustentabilidade, explica que houve muita discussão com representantes da indústria em torna de quais seriam os parâmetros, com, inclusive, espaço para comentários na audiência pública, e webinar com centenas de pessoas para tirar dúvidas.

O grupo consultivo que ajudou na formulação, que teve como inspiração a da União Europeia, era composto por 16 pessoas.

“Quando constituímos o grupo de trabalho, tivemos o mesmo cuidado, para ter um nível de competência alto”, comenta o executivo.

Takahashi rebate críticas sobre terem entrado na lista fundos com nível intermediário de comprometimento com a agenda ESG dizendo que, apesar de entender que, em comparação com a Europa, por exemplo, o Brasil é um mercado menor e menos maduro na questão de sustentabilidade, “não colocou a barra baixa”.

“Colocamos a barra em uma altura apropriada para evitar desinformação e sempre no transcurso da norma e implementação”, afirma.

Para se chegar à lista, as gestoras precisaram fazer o cadastro dos produtos e submeter uma série de documentos exigidos. A equipe da Anbima, então, analisou os processos, métricas avaliadas pelas casas para cada fundo, tanto para os ISs quanto para os que pediam enquadramento na integração ESG – cada um com seu checklist próprio que envolve nomenclatura, objetivo, processos, métricas, transparência e governança.

Além dos 22 já divulgados, outros 45 fundos estão esperando ainda a análise, por questões de envio de documentos ou ajustes. Destes, 31 deram entrada para adotar o sufixo IS, enquanto 14 afirmam que integram questões ESG no processo.

Takahashi destaca que o cadastramento dos fundos é só o primeiro passo e não significa que a lista é definitiva, já que a área de supervisão da Anbima começa agora seu trabalho.

“A supervisão é quem analisa o nível de conformidade do fundo com aquilo que foi dito. É agora que a supervisão começa a agir e esse ciclo é dinâmico; caso encontre inconsistência, vai pedir informações e situações incontornáveis podem levar à perda do sufixo, termo ESG e outras implicações, dependendo do que se verificar do ponto de vista da supervisão”, explica, se referindo a regras que valem para outros produtos também.

Por fim, diz que a associação está aberta a ouvir os questionamentos e avaliar o fundamento.

“Estamos ouvindo e avaliando os pontos; os aperfeiçoamentos são dinâmicos. Não vamos determinar no calendário um período para revisar a norma, mas quando tivermos algo a melhorar, vamos fazer”, diz.

Por Eliane Sobral, Especial Para O Prática ESG; Naiara Bertão — São Paulo

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