Uma alavanca para o Investimento Responsável

O cenário de investimento responsável no mundo atingiu um total de US$ 35 trilhões, chegando à marca de 36% de todos os recursos geridos profissionalmente no mundo em 2020

- Ilustração: Marcelo Andreguetti
- Ilustração: Marcelo Andreguetti

O tema investimento responsável tem apresentado um crescimento relevante nos últimos anos. Investidores institucionais e de varejo tem buscado alternativas ESG para alinhar seus investimentos a essa temática. Reforçando essa tendência, o cenário de investimento responsável no mundo atingiu um total de US$ 35 trilhões, chegando à marca de 36% de todos os recursos geridos profissionalmente no mundo em 2020.

Mas sabemos que todo crescimento gera desafio e assim, ao longo dessa jornada, não devemos perder o Norte: manutenção entre o link da necessidade de investimento e a oportunidade de alinhar a propósitos específicos.

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Nesse contexto surgiram os títulos verdes (green bonds, em inglês), ainda em 2007, quando um grupo de fundos de pensão suecos buscava investir em projetos que contribuíssem positivamente com os já conhecidos desafios climáticos. Sua busca os levou ao Banco Europeu de Investimento e ao Banco Mundial, que estruturaram e emitiram o primeiro título verde no valor de USD 807 milhões e classificado como AAA.

Agenda 2030

Os títulos verdes fazem o link formal entre os recursos investidos e a utilização desses recursos com propósitos específicos pelas empresas. Ou seja, a empresa declara que os recursos captados serão necessariamente utilizados em projetos ou atividades que reduzem seu impacto ambiental, contribuindo positivamente com a agenda do investimento responsável. O uso dos recursos é auditado para garantir que sejam utilizados exclusivamente nas atividades indicadas. Apesar da inovação, o mercado de títulos verdes ainda esperaria até 2014 para começar a se desenvolver de forma mais espontânea.

Em 2015 as Nações Unidas lançaram a Agenda 2030, um plano de ação para prosperidade da sociedade e do meio ambiente. Uma agenda ambiciosa que prevê a atuação de governos, sociedade civil, setor privado, e claro, investidores. Para medir a evolução dessa trajetória, a ONU lançou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O Fórum Econômico Mundial divulgou os resultados de um estudo conduzido pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável e Empresarial, que estimou ser necessário fechar uma lacuna de investimento anual de US$ 2,5 trilhões para atingir os 17 objetivos.

O mercado de capitais desempenha um papel crucial no atingimento desses objetivos, mais especificamente por meio da oportunidade de alinhar investimentos com o propósito de avançar na agenda dos ODS. Esse alinhamento pode se dar pelo desenvolvimento de novos instrumentos financeiros, que possuem potencial para destravar um volume relevante de recursos.

Mercado global de títulos verdes

Assim, em 2015 o mercado global de títulos verdes atingiu a marca histórica de USD 100 bilhões, chegando à marca de USD 1 trilhão em 2020, consolidando esses títulos como ativos tradicionais no mercado.

Neste ano, países e empresas atingidos pela crise da Covid19 enfrentaram dificuldades de caixa e a necessidade de se financiar em meio a um cenário incerto. Estes desafios levaram empresas e governos a buscar formas inovadoras de captar recursos. Essa necessidade levou a emissão de títulos e instrumentos financeiros cujos recursos foram utilizados para endereçar diretamente os desafios da COVID-19.

Esses títulos ficaram conhecidos como Corona bonds ou social bonds, e são títulos emitidos com o objetivo de endereçar diretamente os desafios da COVID-19. Buscam originar recursos para a recuperação econômica pós-COVID-19 para diferentes temas como obtenção de recursos médico-hospitalares, apoio a pequenos e médio empreendedores e mesmo para a recuperação da economia de forma mais ampla.

Outro desenvolvimento importante nesse período foram os sustainability linked bondsSLB (ou títulos atrelados a sustentabilidade), onde a empresa emissora estabelece metas ESG no momento da emissão. Caso essas metas não sejam atingidas em determinado prazo causam um aumento da taxa dos títulos (step up) a serem pagos pela empresa aos investidores. Os SLBs tem sido emitidos por empresas em diferentes setores e com diferentes objetivos socioambientais, e em pouco tempo se firmaram como mais uma categoria importante dentro do tema mais amplo que os títulos verdes se tornaram.

Títulos de renda fixa verdes

Apesar de extremamente positivo, o desenvolvimento de um mercado de títulos de renda fixa verdes também requer atenção. Os compromissos, projetos e metas apresentados pelas empresas demandam uma avaliação minuciosa sobre os almejados benefícios e devem ainda fazer sentido para o planejamento estratégico dos emissores.

Iniciativas como a “Climate Bonds Initiative” ajudam nessa frente com a normatização dos diferentes indicadores de desempenho socioambiental para empresas de diferentes setores com o objetivo de manter a coerência e alinhamento das emissões de títulos com seu propósito original.

Assim, títulos verdes, climáticos, sociais ou SLBs podem ser a ponte para o futuro que buscamos, impulsionando o investimento responsável para finalmente se tornar parte relevante do mercado de capitais tradicional. Esperamos que esses instrumentos sigam crescendo de forma responsável auxiliando no atingimento dos ODS e da agenda 2030.

Artigo escrito com a colaboração de Alexandre Gazzotti, ESG Analyst at Itaú Asset Management.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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