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Após demissões, Me Poupe passa por ‘relançamento’ e vai virar app de finanças e investimentos
As demissões em massa nas empresas de tecnologia brasileiras pegaram muitos funcionários de surpresa. Uma, em especial, surpreendeu inclusive o mercado. O Me Poupe, companhia de educação financeira criada pela jornalista e influenciadora Nathália Arcuri, demitiu 60 pessoas no começo deste ano.
Muitas delas com pouco tempo de casa. O “layoff” (nome dado a demissões coletivas), no entanto, marca uma nova fase da empresa. O Me Poupe vai deixar de ser uma companhia de educação para se tornar um aplicativo de inteligência artificial que pretende não só ajudar as pessoas a investirem, como facilitar ao máximo esse processo.
Em conversa com o Valor Investe, Nathália Arcuri, criadora e presidente da empresa, não tem inibição em dizer que a companhia fez uma tentativa e falhou. Segundo a empresária, mesmo que os planos de mudar o principal negócio da Me Poupe já existissem, a ideia era fazer isso de forma mais “suave”.
Assim, as contratações foram feitas para atender aos projetos que ainda estavam rodando na empresa, como os cursos, um dos principais carros-chefes da Me Poupe.
Depois, a companhia percebeu que para fazer a mudança que pretendia, deveria encerrar algumas das atividades anteriores e enxugar o quadro. Segundo Nathália, o foco deveria ser total no novo negócio.
“O plano de migrar de educação para tecnologia começou a ser implementado em 2021, não era uma novidade para ninguém dentro da empresa. A novidade é a virada de chave mesmo. Porque no ano passado, a gente estava passando pela transição, mas ainda tinha muito aluno para servir e também tínhamos algo para crescer e aperfeiçoar. Trabalhamos no ano passado para fazer essa mudança de chave da forma mais suave possível. Essa era a tentativa e não funcionou”, conta a empreendedora.
Nathália faz questão de destacar que, embora a Me Poupe tenha uma marca forte (inclusive, citada como uma das 50 mais lembradas positivamente durante a pandemia), ela é uma empresa pequena. Por isso, algumas mudanças de rota exigem ações mais drásticas.
“Somos gigantes em marca e no impacto que causamos. Mas como negócio, ainda somos uma pequena empresa. Existe uma cobrança do lado de fora que tu esteja funcionando perfeitamente. E nenhuma startup é assim. Isso é algo de empresas médias, grandes, com 10, 20 anos e já consolidadas”, afirma.
As turmas que ainda estão finalizando seus cursos serão as últimas, segundo a empresária. Ela conta que no fim do ano passado a companhia fez seu planejamento e percebeu que era preciso romper com o que fazia até ali para concentrar seus esforços na mudança do “core business” com uma equipe mais enxuta, mas 100% focada no novo objetivo.
Para financiar toda essa reestruturação (também chamada pela empresária de “refundação”), Nathália colocou dinheiro no próprio bolso na companhia. Ela garante que, com o aporte, a empresa está capitalizada para o ano. As demais receitas virão das parcerias B2B2C (nome dado aos negócios feitos de empresa para empresa e aí para o consumidor final), em que companhias contratam os cursos da Me Poupe para seus funcionários.
Segundo Nathália, esse braço da empresa foi responsável por 6% do faturamento dela no ano passado e “é o suficiente para pagar suas contas” até que o modelo do novo aplicativo se torne sustentável.
A nova fase do Me Poupe
O aplicativo, segundo Nathália, está em desenvolvimento há um ano e já tem 400 mil pessoas “na fila” para usá-lo. Na atual versão, ainda em “fase beta” (nome dado a projetos que ainda estão em criação), são aproximadamente 1 mil usuários. O aplicativo deve ser lançado para o público geral ainda no primeiro semestre deste ano.
O que também deve crescer são os serviços e produtos oferecidos por ele. A ideia inicial é dar aos usuários opções de investimentos automatizados para cada meta. “O cliente consegue, sem fricção, os melhores investimentos do jeito mais simples. A pessoa não precisa mais estudar sobre investimentos, vamos tirar do cliente essa necessidade”, afirma.
A empreendedora ainda não confirma se o modelo de negócios será como os “robôs de investimento” (sistemas que cuidam do seu dinheiro automaticamente) ou uma gestora de recursos. O que ela garante é que será fácil e democrático, incluindo a possibilidade dos usuários agendarem aportes mensais.
Tudo será baseado em inteligência artificial. A ideia é que o sistema reconheça seu usuário e aprenda cada vez mais sobre ele, a partir de suas informações e também de suas ações dentro do app. A ideia, com isso, é oferecer produtos e serviços cada vez mais individuais e personalizados.
“Por que estou falando tanto sobre tecnologia? Porque com inteligência artificial, eu faço com que o plano daquela pessoa seja com a cara dela, de acordo com o objetivo dela, com aquilo que só faz sentido para ela. Porque não existem dois planos financeiros iguais no planeta”, afirma Nathalia.
Segundo a empresária, embora muitos dos seguidores das redes sociais e clientes dos produtos da Me Poupe mandem depoimentos contando o quanto a companhia os ajudou, o real resultado disso só era passível de ser mensurado com os participantes do treinamento batizado de “Jornada da Desfudência”. O objetivo é mapear o impacto da Me Poupe na vida de 1 milhão de pessoas. E isso acontecerá justamente por meio do aplicativo.
“Nós precisamos mensurar o impacto em todos os produtos e serviços. Para isso, preciso expandir, fazer com que aquilo seja controlável e ‘metrificável’. E como faço isso? Com uma plataforma transacional, que é para onde estamos migrando”, afirma. “Até agora, tivemos 80 mil clientes com resultados mensuráveis. A nossa meta é ter um milhão de pessoas com resultados mensuráveis até o fim deste ano”, completa.
O Me Poupe continuará com sua presença ativa no Instagram e Youtube. Segundo a executiva, o que muda é que a empresa vai “ampliar seu time de porta-vozes”, com novos especialistas em finanças, enquanto Nathália irá se dedicar principalmente à estratégia do negócio.
Nessa nova fase, Nathália contará com a ajuda do empresário Andreas Blazoudakis assume como co-CEO da companhia. O executivo assume o cargo sem um salário, mas trabalhando em um modelo comum nas startups: recebendo uma participação da empresa.
“O que fica do Me Poupe antigo é o legado e o inventário, além da marca e da essência. A essência não mudou nem um pouco, ela sempre foi a de levar o poder financeiro para o maior número possível de pessoas. E o conteúdo será responsável por criar conexões com uma base que nem existe”, conclui Nathália.
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