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Análise: Melhora no mercado de trabalho surpreende e governo eleva projeção
O governo trabalha com um crescimento de 9,5% no total de trabalhadores ocupados neste ano. A mais recente projeção do Ministério da Economia é um ponto percentual acima do que a pasta estimava há dois meses. E tem sido comum ouvir nos corredores do bloco P da Esplanada que o total de trabalhadores empregados vai chegar na marca de 100 milhões.
A revisão recente reflete muito mais o que já ocorreu ao longo deste ano. O ritmo de geração de vagas e a queda no índice de desemprego, que já se aproxima da média histórica, tem surpreendido até o governo, que vinha desde 2021 apontando que o mercado de trabalho teria um desempenho melhor que o esperado pelos analistas do sistema financeiro.
Nesse sentido, vale lembrar que o mercado, conforme a pesquisa Focus, do Banco Central, iniciou o ano projetando um desemprego de 11,8% no ano e agora está com 9,9% – número que já está em linha com os 9,8% apontados pelo IBGE no trimestre encerrado em maio (em torno de 9,5% com ajuste sazonal, aquele que retira os efeitos típicos de cada período). Há pouco mais de um ano, o IBGE mostrava uma desocupação de quase 15%, um quadro dramático legado pela pandemia.
Olhando para frente, a leitura na área econômica é que o ritmo de geração de postos deve seguir intenso ao longo dos próximos meses, ainda que em menor ritmo do que foi visto na primeira metade de 2022.
Uma fonte explica que o principal determinante para esse desempenho é o setor de serviços, impulsionado pela normalização das atividades pós-pandemia, processo que vem em curso desde o fim do ano passado. Esse interlocutor aponta que os números do mercado de trabalho são ao mesmo tempo causa e consequência do desempenho mais favorável da economia como um todo, que tem empurrado as projeções para o PIB para cima há várias semanas. O próprio governo elevou sua estimativa para o conjunto de riquezas produzidas no país para alta de 2%. E muitas casas no mercado financeiro estão indo na mesma direção.
O economista-sênior da LCA Consultores e pesquisador associado do Ibre, Braulio Borges, tem estudado com mais afinco essas surpresas do mercado de trabalho. Segundo ele, a composição do crescimento econômico recente, com maior peso de setores intensivos em mão de obra (como serviços), ajuda a entender o que está acontecendo. Mesmo assim, reconhece, o saldo é mais favorável do que se esperava para o nível de expansão do PIB brasileiro.
“De fato, 55,6% do fluxo de novas ocupações criadas nos últimos 12 meses (ou seja, 5,21 milhões de um total de 9,38 milhões, na comparação mai-mar/22 vs mai-mar/21) adveio dos segmentos de comércio, construção civil, outros serviços e serviços domésticos – que também são aqueles com as menores produtividades do trabalho e salários médios dentre os grandes setores. A título de comparação, no acumulado de 2017 a 2019 esses mesmos setores foram responsáveis por 49% do fluxo de novas ocupações geradas no Brasil”, disse Borges, em análise recente no blog do Ibre.
“Em 2013 (ano imediatamente anterior à recessão de 2014-16), tais setores responderam por 15% das ocupações criadas. Essa composição setorial do emprego desde meados de 2021 ajuda a compreender por que, a despeito da taxa de desemprego ter recuado quase 5 p.p. nesse ínterim, o rendimento médio real caiu expressivamente no mesmo período, atingindo os menores níveis desde 2012”, completou.
A partir desse comportamento surpreendente, o economista também provoca a discussão sobre qual seria a taxa natural de desemprego do país e se a economia doméstica já estaria encontrando esse nível. A taxa natural é aquela que não acelera a inflação. Ponderando com fatores como o rendimento real, Borges reestimou sua conta para esse indicador, apontando que ele estaria em 8,5% (antes ele trabalhava com 9,5%, que foi a média dos últimos 25 anos) da população economicamente ativa.
Assim, explica Borges, apesar de estar em alta, o mercado de trabalho ainda não seria um fator de pressão inflacionária e teria um espaço para continuar crescendo sem estimular reajustes de preços por algum tempo.
No governo, evita-se falar qual seria a taxa natural de desemprego. Mas também há uma avaliação de que ainda há ociosidade presente e esse não deve ser um fator a prejudicar o combate à inflação no curto prazo.
Na área econômica, apesar do cenário ser de continuidade de geração de bom número de vagas, admite-se que o principal risco para isso é um quadro recessivo agudo no mundo se materializar. Não é a expectativa central, mas é um risco que existe, dado os níveis insistentemente altos da inflação nos Estados Unidos e Europa.
(Por Fabio Graner, analista de economia do JOTA em Brasília)
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