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Campos Neto diz que inflação medida pelo IPCA em março foi uma ‘surpresa’
A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em março foi uma surpresa, disse o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento promovido pelo Traders Club (TC) e pela consultoria política Arko Advice nesta segunda-feira (11).
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou na sexta (8) que o IPCA atingiu 1,62% no mês passado, o maior índice para o mês de março desde 1994. Campos Neto destacou as altas observadas nos preços dos combustíveis, vestuário, alimentação fora do domicílio. “Estamos analisando essas surpresas”, comentou. “Nossa inflação está muito alta, núcleos estão muito altos, temos comunicado com transparência”, afirmou.
Há fluxo de entrada de recursos no país, mas parte da melhora do câmbio ainda não está refletida nos preços e índices de inflação, avaliou. “A pergunta é se isso pode se interromper com movimento mais alto de juros nos EUA”, disse. “A resposta se dá mais na forma como isso for feito.”
Crédito tem apresentado melhora sustentável e o fiscal no curto prazo tem apresentado melhora, disse. O importante é que foi possível conter gastos em ambiente de inflação, afirmou.
A surpresa fiscal se reflete ao longo da curva, comentou. Campos Neto também disse que a parte longa da curva tem inflação, mas que “temos discutido bastante crescimento estrutural brasileiro”.
Real é a moeda que mais se valorizou no G-20
Câmbio teve apreciação e o real tem sido a melhor moeda do G-20 no acumulado do ano, disse Campos Neto. “Teve uma realocação saindo da China, entrando em outros países, não só no Brasil”, comentou. Ele destacou como vantagens do Brasil: a surpresa fiscal positiva, BC pró-ativo, nova realidade de inflação mundial e empresas brasileiras operam bem nesse ambiente inflacionário.
A guerra trouxe impactos diferentes sobre o país. Na parte de grãos, em real, o preço está estável ou caindo, disse. “Não gera pressão inflacionária, porque o câmbio mais do que compensa.” Por outro lado, o impacto da guerra sobre combustíveis é altista.
Ele comentou que a valorização do real ainda não entrou em algumas contas. “Olhando as estimativas que recebo do mercado de inflação, é que algumas casas ainda têm câmbio em R$ 5,25, R$ 5,30, R$ 5,35”, comentou. “Mesmo que fluxo não continue tão forte, não tem trajetória de reversão.” Pode haver impacto dos juros nos EUA, destacou.
Preços dos serviços
Houve uma fase em que os preços dos serviços eram o ponto mais relevante para a inflação, mas hoje a autoridade monetária olha para outras coisas, disse o presidente do Banco Central. “A difusão é das mais altas que já tivemos”, comentou.
“Achamos que parte do trabalho de juros que fizemos (elevação) vai ter forte impacto nos próximos trimestres”, disse. “Obviamente, estamos sempre reabertos para reavaliar cenário se identificarmos alguma coisa diferente do padrão.”
A surpresa observada no último IPCA ocorreu em outros países, informou. “Vamos analisar e comunicar no momento apropriado.”
Taxa no Brasil está mais restritiva
O encurtamento do ciclo de ajuste nas taxas de juros pode ocorrer no mundo emergente, disse o presidente do Banco Central. “Isso pode ter efeito no mundo emergente?”, questionou, referindo-se ao provável encurtamento do ciclo nos EUA. “Pode, principalmente se a inflação continuar surpreendendo para cima e crescimento para baixo.”
Recentemente, vários países emergentes subiram juros para próximo da taxa neutra ou pouco acima da neutra, disse. “O Brasil claramente está com uma taxa mais restritiva do que outros, é importante frisar isso”, afirmou.
A curva de juros mostra movimento de alta na parte curta, com curva mais plana nos médio e longo prazos, disse. As taxas de 10 anos refletem isso, caindo um pouco, embora tenha subido mais recentemente com surpresa inflacionária que tivemos [no Brasil], mas ainda abaixo do pico.
Pressão inflacionária em vários lugares do mundo
De forma geral, há bastante pressão inflacionária em vários lugares do mundo, segundo Campos Neto. Ele citou surpresas nas taxas de Chile, Colômbia, Chile. Comentou que países que vinham apresentando taxas de 0,10%, 0,15% estão com inflação rodando na casa de 1%.
“Todos os IPCs [índices de preços] estão subindo bastante”, disse. Nos Estados Unidos, o CPI (índice que mede a inflação nos EUA) tem subido muito, tanto a taxa cheia quanto o core (núcleo), comentou.
“E ainda tem algumas defasagens, tem uma inflação que parece encomendada”, comentou. Isso pode ser observado no preço dos imóveis e na expectativa dos consumidores sobre a inflação dois meses à frente, com mais inflação e um pico.
“O núcleo, o Brasil está um pouco mais na média”, disse. “Se estou fazendo um case que inflação é muito mais de demanda e muito mais persistente, o receituário diria que as taxas de juros iriam para campo restritivo.”
Sequência de choques
Roberto Campos Neto afirmou também que estamos vindo de uma sequência de choques no cenário internacional. Ao falar sobre a covid, comentou que o balanço do Fed trouxe uma expansão “nunca antes vista”, de aproximadamente 10% do PIB norte-americano.
Durante a pandemia, disse ele, o consumo de bens aumentou ao passo que o de serviços caiu. O fim da pandemia levou ao teste de uma tese que o aumento do consumo era um choque de oferta e, portanto, que havia um aumento temporário de inflação.
No entanto, vários itens estavam no máximo da produção, o que torna difícil falar em problema de oferta, comentou.
O deslocamento da oferta de bens levou a um deslocamento na demanda por energia, disse. O mundo passou a ter inflação de energia. Na Europa, isso foi agravado pela guerra.
Principal conversa nos círculos econômicos
As altas dos juros nos EUA levaram a taxa para perto da neutralidade, disse o presidente do Banco Central. Se achamos que o choque é persistente, que a inflação é de demanda e ainda por cima há o choque de oferta na Europa, o mercado não deveria estar precificando alta acima dos juros neutros?, questionou. “Essa é a principal conversa nos círculos econômicos”, comentou.
O que pode ser observado no mercado é uma probabilidade maior de os Estados Unidos fazerem um ciclo mais de curto prazo, com altas maiores do que 0,25%. “É importante entender se isso vai acontecer, qual a intensidade”, afirmou.
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