Em meio à grave crise econômica argentina, Fernández virá às pressas ao Brasil para reunião com Lula

Dois presidentes marcaram viagem do argentino a Brasília na próxima terça-feira; mecanismos para financiar importações brasileiras na Argentina estarão na pauta

Em meio à deterioração da situação econômica e financeira da Argentina, o presidente do país, Alberto Fernández, fará uma visita a Brasília na próxima terça-feira, combinada na conversa telefônica que manteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última quinta. Segundo confirmaram fontes do governo brasileiro, a agenda de assuntos a ser tratados pelos dois chefes de Estado incluirá a busca de mecanismos de financiamento para as exportações brasileiras para o mercado argentino, dada à escassez crítica de divisas no país.

Procurada, a Casa Rosada disse ainda não ter informação sobre a viagem de Fernández ao Brasil. Mas o governo brasileiro já trabalha para organizar uma visita que não estava prevista, que ocorre em momentos de aprofundamento da crise econômica, financeira, política e social no país vizinho.

Fernández tinha uma viagem programa a Brasília no final de junho, e é um dos chefes de Estado que já confirmaram sua presença na cúpula de presidentes sul-americanos que Lula está organizando para 30 de maio, em formato de ‘retiro’ — o que torna o encontro mais íntimo e flexível. Outros que já confirmaram foram o colombiano Gustavo Petro e o uruguaio Luis Lacalle Pou.

As dificuldades financeiras da Argentina — que tem suas reservas líquidas no Banco Central praticamente zeradas — foram discutidas por uma missão enviada pelo governo Fernández a Brasília no início de março. Participaram da viagem o secretário de Comércio, Matias Tombolini, e a secretária de Relações Econômicas Internacionais da chancelaria argentina, Cecilia Todesca.

Acompanhados pelo embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli, agora pré-candidato à Presidência do país, os enviados do governo argentino se reuniram com a secretária de Comércio Exterior do governo brasileiro, Tatiana Prazeres, e solicitaram justamente a ajuda do Brasil para financiar as exportações argentinas para o mercado brasileiro. A resposta do Brasil ainda não chegou, e a visita de Fernández reflete o estado crítico das finanças de seu país.

Nos primeiros dois meses do ano, as exportações brasileiras para a Argentina aumentaram quase 20% em comparação ao mesmo período do ano passado. A tendência preocupa a Casa Rosada, num cenário de dramática escassez de divisas para financiar as importações do país. Há muito tempo, os exportadores brasileiros se queixam pela demora em receber os pagamentos por suas vendas para a Argentina — em muitos casos de até 180 dias ou mais —, e atualmente a situação atingiu níveis muito complicados para ambos os lados.

Em março passado, fontes argentinas explicaram que uma das possibilidades cogitadas pelo país era um swap entre bancos centrais, similar ao que a Argentina tem com a China — país que, dadas às facilidades de financiamento que oferece para suas exportações, enfrenta menos restrições para que seus produtos entrem na Argentina. O swap com a China foi fechado em 2020, por um total de US$ 20 bilhões. O mecanismo prevê, em grandes termos, o envolvimento dos bancos centrais, onde ambos os países fazem um depósito em sua moeda local, que financia as exportações de cada lado. Assim, o exportador recebe o pagamento em sua moeda, sem atrasos.

Esta semana, o ministro da Economia, Sergio Massa, ampliou os acordos financeiros com a China, pelas mesmas razões que Fernández irá a Brasília em busca de uma solução que facilite o financiamento das importações de produtos brasileiros. A Argentina está desesperadamente em busca de financiamento. Massa esteve esta semana no Uruguai, onde selou um acordo com a Corporação Andina de Fomento (CAF), pelo qual a Argentina receberá, num prazo de 60 dias, US$ 690 milhões.

Segundo fontes brasileiras, Lula e Fernández também conversarão sobre o projeto de reativar a União de Nações Sul-americanas (Unasul), entre outros assuntos da pauta bilateral e regional.

Por Janaína Figueiredo

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