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Deflação de julho: Por que carne e gasolina estão mais baratas?
A deflação do IPCA-15, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta terça-feira (25), mostrou que a economia brasileira vem desacelerando. Os preços da carne, assim como da gasolina, estão mais barato, conforme a pesquisa do instituto.
A cesta de proteínas vem colaborando para o saldo mensal negativo do IPCA-15. No ano, a carne ficou quase 7% mais barata, desconto que aumenta para 7,61% em 12 meses. A queda de preços tem peso significativo na cesta do IPCA-15, dizem economistas, já que carnes correspondem pelo maior gasto da cesta básica. A sequência de quedas nos preços, contudo, pode ser interrompida em breve.
Carne e gasolina estão mais baratas
Os itens de Alimentação e Bebidas tem o maior peso na cesta de produtos medidos pelo IPCA-15. No ano, o grupo, que inclui frutas, verduras, proteínas e bebidas alcóolicas e não alcóolicas apresentou aumento de 1,21%. Mas esse aumento poderia ser maior ainda se não fossem os cortes na inflação na carne.
Fora a deflação da carne no acumulado do ano, outros itens de alimentação registraram aumentos nos preços. Em 12 meses, o grupo formado por Cereais, Leguminosas e Oleaginosas, o que inclui alimentos como feijão e arroz, aumentou 4,93%. A inflação de Hortaliças e Verduras teve alta de 4,3%, enquanto os preços de frutas tiveram a maior alta, de 12,13%.
Além das Carnes, Óleos e gorduras tiveram redução de 20% nos preços. Contudo, o peso destes produtos tem um impacto bem menor na deflação.
Além das proteínas, o gás de cozinha e a gasolina também ficaram mais baratos no último ano, o que respinga em outros produtos.
Por outro lado, o preço do gás de botijão, mais utilizado entre brasileiros de baixa renda, se desvalorizou em 6,44% nos últimos 12 meses. A gasolina, de alto impacto na cesta da inflação, ficou 21,4% mais barata na base anual.
Por que o preço da carne está mais barato?
Economistas ouvidos pela Inteligência Financeira afirmam que a chamada supersafra do agronegócio está por trás da redução na cesta de Alimentação e Bebidas. Por trás do corte da carne está a redução do custo de ração para animais e a colheita superavitária de soja, afirma a coordenadora de Economia do Insper, Juliana Inhasz.
A melhoria das safras para os agricultores estimulou a injeção de mais produtos dentro do varejo nacional e, por consequência, barateou os preços de alimentos. “Na carne, a redução vem pela baixa no custo de produtos correlatos, como redução da ração para bovinos e suínos a partir da proteína de soja”, argumenta a economista. Segundo ela, a produção superavitária no campo também permitiu que o agronegócio realizasse um “reajuste” de inventário da pecuária.
O gás de cozinha, por sua vez, é um dos principais responsáveis pela queda no IPCA-15 entre junho e julho. No ano, o gás de cozinha tem deflação de 6,13%, que vai a 6,44% em 12 meses. A redução na conta de energia elétrica para o consumidor também pesa a favor da deflação, na avaliação de João Boaventura Matos, economista da ESPM-Rio.
De acordo com Matos, os juros altos no Brasil também vem desempenhando papel importante para controlar a demanda, com efeitos na economia. “O juro faz com que as pessoas consumam menos porque elas não tem acesso à instrumentos de crédito”, explica. Ele aponta que houve uma queda verificada do índice de difusão do IPCA-15. Ou seja, mais da metade dos produtos medidos registrou deflação em julho.
Já a conta de luz, destaque na deflação de julho, caiu pelo bônus de produção da Usina de Itaipu Binacional, diz o IBGE. O reajuste foi repassado para as faturas de concessionárias de energia elétrica em Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo.
O consumidor vai sentir os efeitos da deflação?
O consumidor brasileiro pode sentir os efeitos da deflação na prateleira dos supermercados, diz o economista e professor da FIA Business School, Paulo Feldmann.
De acordo com ele, apesar da alta concentração de produtos em número pequeno de supermercados, a carne mais barata pode chegar nas redes menores ou locais. Isso levaria empresas de maior porte a competirem com preços mais acessíveis.
“Ao contrário de muitos países do mundo, o Brasil tem cinco ou seis redes de supermercado que dominam 60% do faturamento total do setor. Isso apresenta problema porque grandes supermercados não reduzem preços da mesma forma que compram os produtos”, afirma Feldmann.
Somado ao programa Desenrola Brasil e à perspectiva de alívio do orçamento de famílias com dívidas, o economista acredita “que teremos um segundo semestre bastante positivo” na economia.
Contudo, Juliana Inhasz, do Insper, afirma que o consumidor “mal deve sentir mudanças nos preços”. Ela afirma que a queda no custo de alimentos, como o feijão ou a carne, deve ser usada por produtores do campo para “reduzir perdas anteriores”.
Juliana aposta que os preços ao consumidor devem se estabilizar nos próximos meses. “Eu não apostaria nem em queda de preços tão fortes e nem em quedas drásticas.”
Mas, para o consumidor brasileiro, ela comenta, pode haver uma alta no preço de Serviços devido à reforma tributária.
Deflação vai continuar nos próximos meses?
O consenso entre economistas é de que a deflação tem pernas curtas. A queda dos preços no varejo não deve prosseguir pelos próximos meses, até porque à medida em que o IPCA-15 avança, ele deixa para trás os meses que antecederam as eleições de 2022. A isenção dos combustíveis aplicada pelo governo Bolsonaro fica para trás e, com ela, as deflações em agosto e setembro.
Matos, economista da ESPM, diz que “deixando os números de agosto e setembro para trás”, o índice da inflação deve subir. “Muito provavelmente teremos uma inflação de 5% (até dezembro)”, comenta.
Até porque, se a deflação continuar “é ruim para o país”, conclui Paulo Feldmann.
“A deflação é um problema sério na economia, se é uma deflação permanente, as pessoas seguram compras para o mês seguinte, sempre esperando uma queda subsequente.”
Paulo Feldmann, da FIA Business School
Ou seja, a carne mais barata, assim como a gasolina, o botijão de gás, a energia elétrica e o feijão – todos destaques para a deflação de julho – devem aumentar nos próximos meses. A alta será, ainda, acentuada pelo corte da Selic.
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