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FMI corta previsão para o crescimento global de 4,4% para 3,6% em 2022
A guerra na Ucrânia e as sanções ocidentais contra a Rússia pioraram significativamente a perspectiva para a economia global, com o crescimento desacelerando para 3,6% neste ano, segundo estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em janeiro, antes do início do conflito, o Fundo previa um crescimento de 4,4% em 2022.
Em seu mais recente “Panorama Econômico Global”, divulgado nesta terça-feira, o FMI diz que a crise atual provocada pela guerra atinge a economia global quando esta estava no caminho da retomada pós-covid, mas sem ter alcançado a plena recuperação. O conflito atrasará a retomada global e já tem grandes repercussões, afetando o mercado de commodities, o comércio internacional e canais financeiros.
Além disso, apesar da guerra reduzir o crescimento geral, a perspectiva para a inflação é de alta, com os preços de alimentos e combustíveis crescendo rapidamente, impactando particularmente países com populações de baixa renda.
“A crise causada pela guerra se desenrola ao mesmo tempo em que a economia global ainda não se recuperou totalmente da pandemia de covid-19”, diz o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, em artigo publicado no blog do Fundo junto com o relatório. “Mesmo antes da guerra, a inflação em muitos países estava subindo em razão de desequilíbrios de oferta e demanda, levando a apertos na política monetária”, afirma.
Seguindo Gourinchas, os últimos lockdowns na China para conter o surto de covid-19, impulsionado pela variante ômicron, devem causar novos gargalos nas cadeias de suprimentos globais.
“Neste contexto, além do impacto imediato e tragédia humanitária, a guerra vai desacelerar o crescimento econômico e aumentar a inflação. No geral, os riscos à perspectiva econômica aumentaram significativamente e as escolhas políticas se tornaram mais desafiadoras”, diz Gourinchas.
As taxas de juros devem aumentar à medida que os bancos centrais apertam a política monetária, exercendo mais pressão sobre o mercado de países emergentes e em desenvolvimento, indica o estudo. Além disso, muitos países limitaram espaço de política fiscal para amortecer o impacto da guerra e das sanções à Rússia sobre suas economias.
As consequências da guerra também ameaçam as estruturas antes baseadas em regras que facilitaram maior integração econômica global e ajudou a tirar milhões de pessoas da pobreza.
O FMI prevê que o crescimento global vai desacelerar para 3,6% tanto em 2022 quanto em 2023, uma queda de 0,8 e 0,2 pontos percentuais, respectivamente em relação às projeções de janeiro. Esta previsão leva em conta que o conflito permanecerá confinado à Ucrânia.
“A Rússia é um grande fornecedor de petróleo, gás e metais e, junto com a Ucrânia, de trigo e milho”, diz Gourinchas. “Importadores dessas commodities na Europa, no Cáucaso e Ásia Central, no Oriente Médio e Norte da África e na África Subsaariana são os mais afetados — mas o aumento generalizado de alimentos e combustíveis afetará as famílias de baixa renda em todo o mundo, inclusive nas Américas e no restante da Ásia.”
O relatório aponta que, com poucas exceções, o emprego e a produção tendem a permanecer abaixo das tendências pré-pandemia até 2026. Esses efeitos serão maiores nos países em desenvolvimento do que nas economias avançadas economias – refletindo o estímulo econômico mais limitado e a vacinação geralmente mais lenta nas nações mais pobres.
O FMI destaca ainda o alto grau de incerteza sobre um possível agravamento da guerra, a escalada das sanções à Rússia, e uma desaceleração mais acentuada do que o previsto na China, em razão de sua estratégia de covid-zero.
O FMI alerta ainda que a guerra na Ucrânia aumentou a probabilidade de tensões sociais por causa da alta dos preços de alimentos e energia, o que pode prejudicar ainda mais a perspectiva econômica global.
Sob sanções do Ocidente, em razão de ter invadido a Ucrânia, a Rússia deve ter a maior retração do PIB entre os países listados pelo FMI. Da expansão de 4,7% em 2021, a economia do país deve encolher 8,5% neste ano e sofrer um novo abalo, de -2,3%, em 2023.
Dois dos principais motores da economia mundial, EUA e China também devem crescer bem menos nos próximos dois anos. A economia americana deve desacelerar para 3,7% e 2,3%, em 2022 e 2023.
O FMI estima que a China deve crescer apenas 4,4% neste ano, 0,4 ponto abaixo da previsão de janeiro e bem abaixo da meta oficial de crescimento de cerca de 5,5% de Pequim.
“A combinação de variantes mais transmissíveis e a estratégia de covid-zero implica na perspectiva de lockdowns mais frequentes, com consequente efeito sobre o consumo privado. Além disso, a dura postura do governo em relação as incorporadoras altamente alavancadas significa que o investimento em imóveis continuará reprimido”, diz o FMI.
O Fundo melhorou a previsão de crescimento para o Brasil neste ano, para 0,8%, de 0,3% estimados em janeiro, mas sem elaborar os motivos da revisão. Para o grupo de países emergentes, no geral, o FMI cortou a previsão de crescimento para 2022 em 1 ponto percentual, para 3,8%.
As taxas de inflação devem permanecer elevada por mais tempo do que na previsão anterior do Fundo. Para 2022, a alta está projetada em 5,7% para economias avançadas e 8,7% para países emergentes e economias em desenvolvimento — um aumento de 1,8 e 2,8 pontos percentuais, respectivamente, em relação as projeções de janeiro.
“A inflação tornou-se um perigo claro e presente para muitos países e mesmo antes da guerra, ela cresceu devido aos preços crescentes das commodities e aos desequilíbrios entre oferta e demanda”, escreveu Gourinchas.
“As rupturas relacionadas à guerra amplificaram e, diante disso, projetamos que a inflação permanecerá elevada por muito mais tempo – até mesmo nos EUA e em alguns países europeus, onde os preços atingiram seu nível mais alto em quatro décadas”, acrescentou.
Se surgirem sinais de que a inflação será alta no médio prazo, os bancos centrais serão forçados a reagir mais rápido do que o previsto atualmente – elevando as taxas de juros e expondo vulnerabilidades da dívida, particularmente em mercados emergentes.
O relatório destaca que a guerra na Ucrânia acentuou o dilema entre agir para combater a inflação e salvaguardar o ritmo da recuperação ou manter o apoio a cidadãos e setores econômicos mais vulneráveis.
“Neste ambiente desfavorável, governos nacionais e esforços multilaterais desempenharão papel importante”, disse Gourinchas. “Os bancos centrais precisarão ajustar suas políticas decisivamente para garantir que
as expectativas de inflação de médio e longo prazo permaneçam ancoradas.”
O economista-chefe do FMI diz também que várias economias precisarão consolidar seus saldos fiscais, sem que isso impeça governos de fornecer apoio bem direcionado para populações vulneráveis, especialmente com os altos preços da energia e dos alimentos.
“Incorporar esses esforços em um quadro de médio prazo com um caminho claro e confiável para estabilizar a dívida pública pode ajudar a criar espaço para fornecer o suporte necessário”, conclui.
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