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Libra despenca e banco central pode intervir; entenda crise na Inglaterra
A libra esterlina, moeda do Reino Unido, caiu para o menor valor em dólar da história na manhã desta segunda-feira (26), e as taxas de juros no mercado de renda fixa dispararam, evidenciando a crise de confiança dos investidores no governo britânico após a primeira-ministra Liz Truss anunciar, na semana passada, um pacote econômico com generosos cortes de impostos.
Na cotação mínima do dia, a libra chegou a ficar abaixo de US$ 1,04 e fechou o dia em US$ 1,06. Os títulos do Tesouro britânico de 10 anos estão oferecendo rendimentos (yield) de 4,215%, os maiores desde 2008. Quando ficam inseguros, os investidores pedem juros maiores para comprar esse tipo de papel e abandonam ativos vistos como mais arriscados, como a moeda inglesa, para se refugiar no dólar, que é considerado um porto seguro.
Na sexta-feira (23), o novo ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, indicado por Truss assim que ela assumiu a chefia do governo, em 6 de setembro, cancelou aumentos previstos do imposto de renda corporativo, que levaria a tributação de 19% para 25%, e do imposto sobre bebidas alcoólicas. Cortou impostos sobre a compra de residências e diminuiu o imposto nas maiores faixas de renda de 45% para 40%, entre outras medidas. O corte total é estimado em 45 bilhões de libras (R$ 256.7 bilhões pela taxa de câmbio atual) até 2026.
O novo pacote econômico inclui, ainda, 60 bilhões de libras para ajudar as famílias e as empresas a pagar suas contas de energia nos próximos seis meses. Toda a Europa está sofrendo uma crise energética depois que Vladimir Putin interrompeu o fornecimento de gás natural para o continente em resposta às sanções que a Rússia está sofrendo pela invasão à Ucrânia.
Para muitos analistas, o governo de Truss está aplicando um modelo de trickle-down economics como os já usados por Ronald Reagan (presidente dos Estados Unidos de 1981 a 1989) e Margaret Tatcher (primeira-ministra do Reino Unido entre 1979 e 1990). O trickle-down significa, de maneira simplificada, cortar os impostos dos mais ricos a fim de criar um efeito na economia que beneficie os mais pobres.
Entretanto, uma das críticas ao pacote é de que as medidas estão ajudando os ricos desproporcionalmente aos potenciais ganhos para os ingleses de menor renda.
Outra forte crítica é de que, para cobrir o déficit que o corte de impostos vai gerar no orçamento da Inglaterra, o governo pretende aumentar a sua dívida, emitindo mais títulos soberanos, a serem vendidos a investidores no mercado financeiro.
A alta dos yields dos títulos nesta segunda (26) indica também que os investidores estão apostando que o BoE (Banco da Inglaterra, o banco central britânico) vai aumentar mais as taxas de juros.
Em 22 de setembro, a autoridade monetária elevou as taxas em 0,5 ponto percentual, para 2,25% para tentar segurar a inflação, que está em 9,9% nos 12 meses até agosto – o maior patamar desde fevereiro de 1982. Com mais dinheiro sobrando na economia devido ao corte de impostos e ao auxílio para as contas de energia, a inflação deve continuar avançando. Na imprensa inglesa, economistas estão dizendo que a probabilidade de intervenção do banco, com um aumento de juros de emergência, é cada vez maior.
Em comunicado, o BoE afirmou que está acompanhando bem de perto os movimentos do mercado após as recentes quedas dos preços dos ativos. “O papel da política monetária é assegurar que a demanda não passe à frente da oferta de uma maneira que leve a mais inflação no médio prazo”, escreveu Andrew Bailey, presidente do BoE. Uma análise mais profunda da situação será feita na próxima reunião do banco, em novembro. “O comitê de política monetária não vai hesitar em alterar as taxas de juros como for necessário para levar a inflação de volta à meta de 2% no médio prazo, em linha com o seu mandato.”
(Com agências internacionais de notícias)
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