A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada nesta quarta-feira (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra que a taxa de desemprego no Brasil caiu para 13,2% no trimestre móvel encerrado em agosto. O resultado representa uma queda de 1,4 ponto percentual em relação ao trimestre fechado em maio (14,6%).
A boa notícia é que o número veio melhor que o esperado pelo mercado. Um levantamento feito pelo Valor Data, com 25 consultorias e instituições financeiras, sinalizava um recuo da taxa para 13,5%. O lado ruim é que 13,7 milhões de pessoas seguem na fila do emprego no país e a renda do trabalhador piorou.
Segundo o IBGE, o rendimento médio real no trimestre encerrado em agosto foi de R$ 2.489, o que corresponde a baixas de 4,3% contra o trimestre encerrado em agosto e de 10,2% frente ao mesmo período do ano passado. A explicação é que a recolocação das pessoas no mercado de trabalho está sendo puxada pela informalidade, com salários menores, e o peso da inflação, que em agosto ficou em 9,68% no acumulado em 12 meses.
Mas quais são as perspectivas para os próximos meses do ano, levando em consideração que os preços vão seguir pressionados e o Banco Central tende a acelerar a subida da taxa básica de juros. E a Selic mais alta tende a puxar o freio da atividade econômica e reduzir o ritmo das contratações.
“Juros para cima não são bons, pois há uma tendência dos empresários adiarem investimentos produtivos e migrarem para especulativos”, diz Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da corretora Órama e professor da Ibmec (RJ). “Desta forma, o emprego é afetado para pior, o que acaba levando a um menor crescimento econômico. Além disso, a inflação em alta prejudica as classes de rendas mais baixas”, acrescenta.
Alexandre avalia que a indústria e setores de atividades intensivas, que dependem mais de esforço, como a manufatureira, podem sentir um efeito maior do quadro econômico. Ele observa também que alguns trabalhadores estão preferindo ficar à margem do mercado formal – que na prática teria mais proteção. “O problema é que ali temos impostos, descontos e mais burocracias. Dessa forma, eles podem estar considerando essa outra opção (informalidade), onde o custo de trocas é bem menor, no caso de uma eventual melhora da economia”, explica.
No outro lado, o economista-chefe da Órama vê uma maior demanda para áreas mais afetadas pela pandemia e que estão reabrindo com maior consistência só agora, com o fim das regras sanitárias. São atividades como bares, restaurantes, turismo e que lidam diretamente no atendimento às famílias. “Pontualmente, espero ver alguma melhora no setor de serviços, com a vacinação chegando a praticamente toda a população na virada desse ano”.
Christopher Galvão, analista financeiro da Nord Research, também aponta uma retomada maior do setor de serviços neste final de ano. “Só que a recuperação pode permanecer tendo como base menores qualificações e salários mais baixos. E isso pesa no poder de compra das pessoas”, diz.
O economista Homero Guizzo, da corretora Guide Investimentos, lembra que o mercado ainda conta com o efeito do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), criado para amenizar os efeitos da pandemia e que permitiu a redução ou a suspensão de salários e jornada com o pagamento temporário de um auxílio. A estimativa oficial do governo é que mais de 11 milhões de trabalhadores teriam sido beneficiados desde que a iniciativa foi instituída no começo de 2021. “Milhões de empregos estão protegidos sob este guarda-chuva que será fechado em dezembro”, observa. “A grande dúvida vai ser como o mercado de trabalho vai se comportar à medida que o estímulo acabar”, completa Guizzo.