Por que a oferta de Elon Musk pelo Twitter não é uma maluquice

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Musk está oferecendo 30 vezes o fluxo de caixa livre estimado em 2025, o que, para uma empresa que ainda pode aumentar as receitas entre 15% e 20%, não está distante da realidade
Elon Musk ofereceu US$ 54,20 por ação para comprar o Twitter — e você não precisa fazer uma análise de fluxo de caixa descontado para saber como ele chegou a esse preço.
A partir do preço de fechamento do Twitter de US$ 45,85 na quarta-feira, US$ 54,20 é simplesmente o preço mais baixo que inclui “420”, uma referência favorita de Musk e uma alusão à cultura da maconha. Ela supostamente remonta ao início dos anos 1970 e a um grupo de estudantes do ensino médio da Califórnia que se reunia às 16h20 para fumar.
Você deve se lembrar de um aceno semelhante no tuíte de 2018 que colocou Musk na mira do xerife do mercado de capitais: “Estou pensando em fechar o capital da Tesla por US$ 420. Financiamento garantido”. Desta vez, Musk anunciou sua oferta por meio de uma carta mais tradicional ao conselho do Twitter, que foi publicada em um comunicado oficial.
E o financiamento, neste caso, parece bastante garantido. A oferta gira em torno de US$ 48 bilhões, e o patrimônio líquido de Musk recentemente superou US$ 250 bilhões.
Isso levanta a questão do por quê, e o que viria a seguir. Na carta de oferta, Musk chama a liberdade de expressão de “um imperativo social para uma democracia em funcionamento” e escreve que o Twitter “não prosperará nem servirá a esse imperativo social em sua forma atual”. Divida isso em duas partes: prosperar e servir.
O Twitter foi um fracasso no mercado de ações. Ele abriu seu capital em 2013 por US$ 26 e terminou seu primeiro dia de negociação perto de US$ 45. Antes da semana passada, quando as compras de ações de Musk vieram a público, eram negociadas a US$ 39 e uns trocados.
Mas a empresa está longe de ser um desastre financeiro. Um novo executivo tem um plano ambicioso para atingir US$ 7,5 bilhões em receita até 2023, uma duplicação em três anos. O fluxo de caixa livre é escasso agora, mas os otimistas acreditam que ele chegue a US$ 1 bilhão até 2024.
Numa conta de padeiro, assuma US$ 10,5 bilhões em receita até 2025, que está um pouco acima da estimativa de consenso atual, e uma margem de caixa livre melhor do que a trajetória atual do Twitter, para cerca de 11% até 2024, mas também bem aquém dos 21% estimados que a gigante do setor Meta Platforms deve alcançar no próximo ano. Digamos que seja 15%, o que daria US$ 1,6 bilhão em fluxo de caixa livre até 2025.
Isso significa que Musk está oferecendo 30 vezes o fluxo de caixa livre estimado em 2025, o que, para uma empresa que ainda pode aumentar as receitas entre 15% e 20%, não está distante da realidade. Há suposições cor-de-rosa embutidas aqui, incluindo que o Twitter irá reavivar o crescimento de usuários e lucrar mais plenamente com seu tráfego. Mas a questão é que a oferta de Musk está dentro das regras do capitalismo, não é apenas uma ação social.
O BofA Securities tem um preço-alvo de US$ 54 para o Twitter. Não há referência à cannabis nesse caso, mas está perto.
Quanto ao que vem a seguir, o Twitter provavelmente aceita o acordo ou pede mais dinheiro. A empresa carece de uma forte defesa contra aquisições, sem fundadores que possuam grandes quantidades de ações e sem ações com supervoto. Musk na proposta chama sua oferta de “melhor e final” e diz que “não está jogando o jogo de vaivém”.
A administração não está em uma posição firme para convencer os acionistas de que pode gerar um valor maior por conta própria. Quanto a outros concorrentes em potencial, os atores de mídia social não têm escala ou atrairiam o escrutínio dos reguladores. O executivo da Salesforce, Marc Benioff, considerou comprar o Twitter anos atrás, mas decidiu que não era uma boa opção.
Então, supondo que Cheech & Chong [dupla de comediantes que parodia a cultura hippie e sua adoração à maconha] não se unam a um investidor de private equity em uma oferta “spoiler” de US$ 64,20, o Twitter pode ter dificuldade em dizer não. “Esperamos muitas reviravoltas nas próximas semanas, à medida que o Twitter e Musk trilham esse caminho de de casamento”, escreveu o analista da Wedbush, Dan Ives, em uma nota de quinta-feira aos investidores.
Caso o Twitter aceite o acordo, os tuítes anteriores de Musk contêm algumas pistas para outras mudanças futuras. O Twitter certamente terá um botão de edição para as mensagens. Provavelmente haverá serviços expandidos para clientes pagantes do Twitter Blue, incluindo pular para a frente da fila para verificar o status, com o selo azul. A empresa pode transformar toda ou parte de sua sede em San Francisco em moradia para os sem-teto.
E — este é mais um palpite — um certo ex-presidente que foi expulso do Twitter pode já estar esquentando seus polegares.
Texto originalmente publicado Por Dow Jones Newswires — Nova York.
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