O ciclo de juros altos, inflação pressionada e crescimento fraco deve se estender no Brasil ao menos até o ano que vem, projeta Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. O cenário para ele favorece a busca por investimentos considerados mais seguros na renda fixa e eleva a cautela de quem tem uma exposição maior ao risco em aplicações na renda variável. “Especialmente aquele investidor mais novo que entrou na Bolsa com a Selic em 2% ao ano e pode nunca ter passado antes por uma turbulência como a atual”, destaca Vale. “Precisa ter sangue frio para não se assustar e sair totalmente do mercado de ações. O momento é de estudar e pensar muito antes de tomar uma decisão de investimento”, acrescenta.
As incertezas eleitorais, a volatilidade do câmbio, a subida dos juros nos Estados Unidos e as preocupações relacionadas aos lockdowns na China para conter a covid-19 são outros fatores que contribuem para azedar mais o humor no mercado, observa o economista. “A Bolsa como um todo tende a sofrer”, diz Vale. “As companhias ligadas a commodities ainda podem ter um comportamento positivo. Estatais, por causa do contexto político, e empresas de consumo, com a renda menor da população, vão continuar demandando mais atenção”, avalia.
O que o Copom indica ao investidor?
Na ata divulgada nesta terça-feira (10), Sérgio Vale considera que o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) sinalizou que o ciclo de aperto monetário está perto de ser encerrado, mas não deixou definido qual vai o patamar final da taxa Selic. “Dada a volatilidade e o alto grau de incertezas, o Copom não quis se comprometer para as próximas reuniões. Apenas apontou que pretende fazer mais um ajuste de menor magnitude no encontro de junho. O consenso do mercado deve ser de uma nova alta de 0,50 percentual, com a Selic indo a 13,25% ao ano”, comenta. “Por conta da inflação resiliente, pode ser que o BC tenha que continuar subindo um pouco mais os juros. Nós trabalhamos com um cenário de duas altas de 0,50 ponto percentual, com a taxa indo a 13,75% ao ano”, relata.
Caso a inflação não apresente sinais de desaceleração, o economista-chefe da MB Associados admite que o aperto monetário pode ser maior. “O certo é que estamos chegando perto do final do processo, mas há viés de alta. O BC pode ter que continuar subindo um pouco mais os juros e não dá para descartar a Selic chegar a 14% ao ano”, sustenta. Vale cita o risco fiscal como motivo para isso. Ele vê com preocupação o movimento no Congresso para suspender os reajustes nas contas de luz que vêm sendo sucessivamente aprovados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). “É uma iniciativa eleitoreira que vai jogar mais inflação para 2023 e coloca mais incertezas para a política monetária”, explica. “O BC pode então ter que ser mais agressivo com os juros para reequilibrar as expectativas”, completa.