Veja o que fazer com os seus investimentos após a Selic avançar para 13,75% ao ano
Com o objetivo de conter o dragão da inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou a taxa básica de juros pela 12ª vez consecutiva nesta quarta-feira (3). Após uma alta de 0,5 ponto percentual, como indicado em junho, a Selic avançou para 13,75% ao ano.
A elevação causa dois impactos no cotidiano financeiro das pessoas: ela deixa o crédito mais caro, por um lado, e sobe o rendimento de investimentos de renda fixa, especialmente os atrelados à Selic e ao CDI, por outro. Assim, como consequência, a alta diminui a atratividade das aplicações financeiras de maior risco, como as ações.
Agora, o cenário é de bastante incerteza, conforme os especialistas em investimentos. Eles desconhecem até onde os bancos centrais ao redor do mundo devem aumentar juros para controlar a inflação e o quanto isso deve desacelerar as economias.
Fim do ciclo de alta dos juros?
No Brasil, os especialistas sabem que a Selic está bem perto do pico, mas ainda não sabem quando ela começará a cair. Eles esperam que demore alguns meses, no mínimo, mas alguns chegam a prever que isso acontecerá apenas em 2024. Ou seja, ainda dá para projetar um período de juro alto pela frente. Nesse cenário, ainda vale a pena comprar ações? Depende do seu perfil como investidor, afirmam.
“O prêmio para não tomar risco está muito alto e é natural que os investidores continuem apostando mais na realidade da renda fixa e menos no sonho da bolsa”, afirma Wilson Barcellos, presidente da gestora de patrimônio Azimut.
Considerando que a bolsa brasileira deve enfrentar muita volatilidade nos próximos meses, ainda mais antes da eleição, ele diz que não é hora de conservadores começarem a comprar bolsa, nem de moderados e agressivos aguardarem alta no curto prazo, porque as ações podem demorar mais tempo do que o esperado para se valorizarem. “Esteja exposto apenas a ativos nos quais você se sinta confortável se não conseguir deixar o dinheiro em bolsa por alguns anos”, aconselha.
Dan Kawa, diretor de investimentos da gestora de patrimônio Tag Investimentos, afirma que, apesar do consenso de mercado de que a bolsa está barata, não há convicção sobre quando ela começará a avançar. Ele concorda que quem aguardar alguns anos conseguirá acumular mais dinheiro do que na renda fixa, mas que é necessário estar preparado para aguentar a volatilidade.
A aqueles que tiverem estômago, Kawa indica diversificar os investimentos de mais risco entre fundos de ações de bons gestores e ETFs, fundos negociados em bolsa que acompanham um indicador de mercado. “Há meses em que os ETFs sobem e os fundos caem, e vice-versa. Essa mistura garante flexibilidade para o investidor sair dos ETFs, com mais liquidez, em momentos de alta, caso deseje”, explica.
Entre os fundos de ações, o diretor da Tag recomenda combinar fundos de ações clássicos com fundos long biased, que apostam não apenas na alta, mas também na baixa das ações em alguns cenários, o que pode ajudá-los a ganhar dinheiro agora. Já entre os ETFs, ele sugere incluir na carteira tanto atrelados ao Ibovespa quanto ao índice de small caps (companhias com menor valor de mercado).
Gabriela Mosmann, analista de investimentos da Suno Wealth, área de gestão de patrimônio do Grupo Suno, reforça que momentos de incerteza são ótimos para aproveitar as ações baratas, mas que isso não é para todo mundo. “A maioria das pessoas não vai se sentir bem de investir em bolsa agora. Essas devem aguardar e aprender como a bolsa funciona enquanto isso”, aconselha.
Renda fixa
A indicação dos especialistas é ser cauteloso com a bolsa, mas aproveitar as chances de ter bons rendimentos na renda fixa. Aí, a recomendação é diversificar os investimentos de acordo com os objetivos financeiros e o prazo para realizá-los.
Os títulos atrelados à inflação são um consenso entre os especialistas para realizar objetivos de longo prazo. Como a remuneração deles é o IPCA mais uma taxa prefixada, definida na hora da aplicação, eles protegem o investidor da alta dos preços. Dá para achar esses papéis no Tesouro Direto com rendimento de IPCA mais ao redor de 6% ao ano, com datas de vencimento entre 2026 e 2055. É uma ótima taxa, segundo os especialistas.
“Gosto muito dos títulos atrelados à inflação para a proteção do patrimônio, mesmo quando a inflação está baixa. Prefiro os papéis com prazo menor, porque a gente nunca sabe o que vai acontecer com o Brasil e a maioria das pessoas não consegue deixar o dinheiro parado por muito tempo”, sugere Mosmann, da Suno.
Lembre-se: antes da data de vencimento, esses títulos oscilam bastante e podem dar rendimento negativo. Por isso, é necessário estar disposto a resgatar o dinheiro apenas no final do prazo para ganhar o combinado.
Rodrigo Octavio Marques, sócio responsável pela estratégia macro da gestora de fundos de investimentos Nest, também aconselha aproveitar as altas taxas dos títulos atrelados à inflação. Apesar do esforço do Banco Central de aumentar juros para conter a inflação, ele acha que os preços não diminuirão tanto a ponto de atingirem o mesmo nível de antes da pandemia. A sua data de vencimento favorita é 2026, não muito além disso.
Marques afirma estar fugindo dos títulos prefixados, cuja remuneração é apenas uma taxa definida na hora da aplicação, porque, em sua análise, a inflação pode demorar para cair e, consequentemente, a Selic também. “Acho que a inflação ainda vai ficar alta. É benéfico comprar prefixados quando há expectativa de baixa de juros, mas esse não é o caso”, diz.
Entretanto, há especialistas que acham que agora é um bom momento para comprar títulos prefixados, antes que as taxas desses papéis caiam com a expectativa de baixa da Selic. Dá para achar esses papéis no Tesouro Direto com rendimento perto de 13% ao ano, com datas de vencimento entre 2025 e 2033.
Thomás Gibertoni, gestor de patrimônio da Portofino Multi Family Office, é desse grupo. “Gostamos mais dos papéis prefixados do que dos atrelados à inflação atualmente. O investidor tem que se antecipar e garantir os juros altos”, afirma. O título com prazo em 2025, o mais curto no Tesouro Direto, é o preferido dele.
É importante destacar dois pontos sobre os papéis prefixados. O primeiro é que eles são mais arriscados do que os atrelados à inflação, porque o Banco Central pode demorar a cortar juros e o comprador pode ficar preso em um título com rendimento abaixo da Selic. E o segundo é que também é necessário estar disposto a resgatar o dinheiro apenas na data de vencimento para ganhar o combinado.
Os únicos títulos de renda fixa que dão rendimento positivo independentemente da data de resgate são os atrelados à Selic, no Tesouro Direto, ou ao CDI, como CDBs, LCIs e LCAs, emitidos por bancos. É por isso que eles são aconselhados para formar a reserva de emergência ou para realizar objetivos de curto prazo. O rendimento desses papéis aumenta quando o juro avança, mas em geral, é abaixo dos atrelados à inflação e prefixados.
O risco de calote dos CDBs, LCIs e LCAs é maior, mas até o limite de R$ 250 mil por CPF por instituição financeira, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) devolve o dinheiro. Além disso, é comum que esses títulos não tenham liquidez diária, ou seja, que eles não possam ser resgatados a qualquer hora. Se for contar com eles para a reserva de emergência, é importante investir em mais de um e naqueles com liquidez diária.
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