Ações do Bradesco (BBDC4) fecham em queda de 17% após balanço do 3º trimestre fraco
O lucro do Bradesco, que teve desempenho abaixo do esperado e puxou o valor das ações para baixo nesta quarta, deve continuar pressionado no curto prazo, com a inadimplência ainda em alta elevando as provisões para devedores duvidosos (PDD) e a margem com mercado demorando a se recuperar.
Analistas destacaram os resultados fracos do Bradesco no terceiro trimestre e dizem que o lucro deve continuar pressionado no curto prazo, com a inadimplência ainda em alta elevando as provisões para devedores duvidosos (PDD) e a margem com mercado demorando a se recuperar.
As ações PN do Bradesco (BBDC4) fecharam em queda de 17,65%, a R$ 15,30, e as ON (BBDC3) perderam 16,46%, a R$ 13,20, segundo números preliminares. São as maiores quedas em mais de dois anos.
O presidente, Octavio de Lazari Junior, disse que o Bradesco tem sofrido mais que alguns rivais com a inadimplência em função de uma maior exposição às classes C, D e E, que são mais afetadas pela inflação.
Questionado se poderia haver uma mudança estrutural em direção a classes mais altas de renda, ele negou e ressaltou que o banco sabe fazer dinheiro com as classes mais baixas. “Agora, em um momento de ciclo de crédito pior, nós sofremos um pouco mais, mas quando o ciclo melhor, somos beneficiados”.
Ele apontou que nos últimos anos o Bradesco aumentou bastante sua base de clientes e que, apesar de parte deles terem se mostrado clientes ruins (com mais inadimplência), outra parte é muito boa e vai começar a gerar mais receita com o tempo. “A maior parte dos clientes que entraram vai conseguir pagar, gera resultado mês após mês”.
Surpresas negativas
Para o UBS BB, os resultados do Bradesco foram bem ruins, com surpresas negativas na qualidade dos ativos, margem com mercado, resultado de seguros e receitas de tarifas, o que impactou diretamente o resultado das ações do banco.
“O ROE caiu para 13,5%, conforme as tendências operacionais gerais decepcionaram. O índice de inadimplência subiu 0,4 ponto porcentual (mesmo incluindo uma grande venda de créditos vencidos), perdas relevantes na margem com o mercado, e queda sequenciais em receitas de tarifas e seguros. Mesmo considerando a atraente avaliação, esperamos que as ações do Bradesco sejam pressionadas no curto prazo”.
Os analistas apontam que o novo guidance de PDD do Bradesco indica um volume de provisões de R$ 8,1 bilhões a R$ 10,1 bilhões no quarto trimestre, o que indicaria um lucro em 2022 de R$ 23 bilhões este ano, bem abaixo da previsão atual do UBS BB, de R$ 27 bilhões.
“No geral, dinâmicas piores foram vistas em todas as linhas. O ROE de 13% é o mais baixo que vimos para Bradesco em muito tempo, e provavelmente não há solução rápida. Nosso recente rebaixamento da recomendação para o Bradesco foi exatamente para refletir essa piora na qualidade do crédito e na dificuldade de extração de margem financeira. Este trimestre foi pior do que o esperado e provavelmente diminuirá as expectativas para 2023 também”, diz o Itaú BBA.
Além da margem com mercado, eles apontam que a margem com clientes foi beneficiada por um maior número de dias úteis no trimestre, mas que os spreads estão desacelerando. “A margem avançou 3% no trimestre, puxada principalmente por melhores volumes, mas também uma melhora de 0,1 ponto nos spreads, tanto na operação de crédito quanto na margem do passivo”
Exposição à baixa renda
O desempenho ruim das ações do banco nesta tarde é resultado direto do balanço ruim, impactado principalmente pela maior exposição do Bradesco a clientes de baixa renda, segundo o Citi. Isso explica a maior parte do desempenho mais fraco em relação ao mercado, já que esse perfil de clientes sofreu mais com inflação e taxas de juros altas.
No entanto, a deterioração da inadimplência no terceiro trimestre foi uma surpresa, levando o banco a aumentar as provisões. Apesar disso, o Bradesco acredita que deve conseguir retornar aos retornos passados, após o ajuste da carteira, o que deve levar algum tempo. No geral, vemos a rápida deterioração das expectativas por parte da administração como um ponto de preocupação, que deve pressionar o estoque dada a falta de visibilidade para resultados futuros.”
Venda de carteiras reduziu perdas
Na avaliação do Goldman Sachs, se não fosse a venda de carteiras vencidas, a inadimplência do Bradesco teria subido para 4,2%. Eles apontam que a despesa trimestral de PDD foir a maior desde o segundo trimestre de 2020, quando começou a pandemia, e que ainda assim o índice de cobertura caiu para 201%.
“Isso acende sinais amarelos para uma maior inadimplência e menores provisões, embora a inadimplência de curto prazo tenha ficado estável pelo segundo trimestre consecutivo”, diz o banco.
Projeções para 2023
O desempenho ruim das ações do banco podem se prolongar a depender das projeções para 2023. O presidente do Bradesco afirmou que o crescimento da carteira de crédito no ano que vem não vai ser muito diferente do que o observado neste ano.
“A carteira de crédito ano que vem tem uma expectativa melhor, de condições melhores para o mercado como um todo, com uma demanda maior de médias e grandes empresas. Ainda assim, não acho que vai ser muito diferente do que este ano, até porque as expectativas de PIB para o ano que vem são bem pequenas”, comentou Lazari.
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