Ao consolidar balanço da BRF, Marfrig assume o controle de fato

Com isso, empresa de Marcos Molina se tornará uma gigante com faturamento anual de R$ 133 bilhões; a Marfrig reportou, ontem, o resultado de 2021, o melhor de sua história
Pontos-chave
  • A mudança vai ajudar o mercado a comparar a Marfrig às duas titãs multiproteínas (a JBS e a americana Tyson), que também produzem as carnes bovina, suína e frango

  • A Marfrig reportou ontem o resultado de 2021, o melhor de sua história

Se ainda restava alguma dúvida, o empresário Marcos Molina deixou claro hoje que assumiu o comando da BRF.

A Marfrig não vai indicar apenas o próximo conselho de administração da BRF (a eleição ocorre em 28 de março, em assembleia de acionistas), mas passará a consolidar o balanço da dona da Sadia a partir do segundo trimestre.

A informação foi divulgada hoje por Molina em teleconferência com acionistas.

A companhia de Molina vai exercer o poder de controle não a partir da maioria das ações, já que o grupo detém 33% da dona da Sadia, mas ao ditar os rumos da BRF com a maioria no conselho, o que é permitido pelas práticas contábeis.

Ainda não é uma fusão, mas poucos no mercado duvidam de que a direção é essa. Quando consolidar o balanço da BRF, a Marfrig será uma gigante de R$ 133 bilhões em faturamento anual.

A mudança, é claro, vai ajudar o mercado a comparar a Marfrig às duas titãs multiproteínas (a JBS e a americana Tyson), que também produzem as carnes bovina, suína e frango. Líder, a JBS fatura mais de R$ 300 bilhões, enquanto as vendas da Tyson equivalem a R$ 235 bilhões (US$ 47 bilhões).

Em valor de mercado, a distância ainda é grande. A Marfrig vale R$ 14 bilhões e a BRF, R$ 17,1 bilhões.
Enquanto isso, a companhia dos irmãos Batista está avaliada em R$ 83 bilhões. Nos EUA, o império de John Tyson vale US$ 33,4 bilhões (R$ 167 bilhões).

Resultado da Marfrig bateu recorde em 2021

No ano em que gerou caixa como nunca – beneficiando-se do momento excepcional no negócio de carne bovina nos EUA -, a Marfrig conseguiu conciliar retorno aos acionistas, pagamento de dívidas e um apetite bilionário para montar uma posição na BRF.

A companhia reportou ontem o resultado de 2021, o melhor de sua história. Com 95% da geração de caixa no mercado americano, a empresa lucrou R$ 4,3 bilhões, alta de 31,5%. No período, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) totalizou R$ 14,5 bilhões, o que representa um aumento de mais de 50% em relação a 2020.

Sustentada pelos EUA, a margem Ebitda atingiu um dos maiores níveis da história do grupo. Ao todo, a margem ficou em 17%, um aumento de 2,8 pontos em relação ao ano anterior. Na América do Norte, a margem Ebitda foi de 21,9%, pouco abaixo dos 23,4% de 2020, mas um nível bastante acima da média histórica da indústria frigorífica americana.

Com um fluxo de caixa livre que chegou a R$ 5 bilhões no ano, a Marfrig propôs o pagamento de mais R$ 380 milhões em dividendos, o que será ratificado em assembleia pelos acionistas. “Com essa distribuição, vamos a um total de R$ 2,2 bilhões em dividendos sobre os resultados de 2021”, disse Tang David, principal executivo de finanças da companhia, em entrevista a jornalistas. Os dividendos da Marfrig representam um “payout” de 58,7%, destacou o executivo. Além disso, a empresa brasileira também fez a recompra de mais de R$ 650 milhões em ações.

No ano, a Marfrig também bateu recorde de receita – o dólar valorizado e os preços mais altos da carne bovina nos EUA contribuíram. Em 2021, a receita líquida somou R$ 85,4 bilhões, aumento de 26,5%. Na operação da América do Norte, a receita cresceu 28,5%, para R$ 62,8 bilhões. Na América do Sul, o avanço foi de 21,4%, para R$ 22,5 bilhões.

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