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A longa espera pelos balanços dos clubes de futebol
Chegamos enfim ao período de divulgação de demonstrações financeiras dos clubes brasileiros de futebol. Para quem não está acostumado ao tema, de acordo com a Lei Pelé, que rege o esporte o no Brasil, o dia 30 de abril (portanto, este domingo) é a data limite para que os clubes apresentem as demonstrações financeiras do ano anterior.
Uma aberração.
Não falo da publicação das demonstrações, fundamental para que torcedores, parceiros e todo ecossistema do futebol entenda a realidade financeira dos clubes.
Falo da data limite. Não é possível que tenhamos que esperar até o final de abril para sabermos o que se passou com os clubes no ano anterior!
Como são os balanços dos clubes de futebol?
Veja, o futebol é uma indústria peculiar.
Aliás, este é um negócio que tem começo, meio e fim todos os anos, cujas receitas e custos tem comportamentos diversos.
Além disso, eles geram enormes gaps de fluxo de caixa, pois as receitas são cada vez mais relacionadas a performance e altamente variáveis, com custos cada vez mais altos e com característica fixa e de longo prazo.
Ademais, o início do ano é um momento importante para que se faça a organização da temporada, com a formação dos elencos, contratações, negociações. Clubes de estruturam para a temporada corrente sem que ninguém saiba como foi a temporada anterior.
O ecossistema vive um voo às cegas.
Portanto, não há justificativa para que as demonstrações financeiras não sejam divulgadas no final de janeiro. Fechar a contabilidade e auditoria de um clube de futebol é bastante simples.
Portanto, não fosse pela benevolência como são tratados os clubes, que usam e abusam da ideia de que as informações precisam passar por uma série de aprovações internas antes de serem divulgadas. Bobagem. É só para aqueles em dificuldades ganharem tempo e não terem que se explicar.
Contudo, as empresas de capital aberto começaram a divulgar as demonstrações financeiras de 2022 no dia 26 de janeiro de 2023.
Várias divulgaram nos primeiros dias de fevereiro. No final de abril há empresas divulgando balancetes do primeiro trimestre. É surreal que os clubes sigam se escondendo até o final de abril.
Todavia, para fazer uma análise decente, onde possamos ler as notas explicativas, fazer ajustes de publicação, comparações, e termos uma visão ampla e realista do futebol, são necessários pelo menos 30 dias, considerando que na Série A são 20 clubes.
E não pense que as informações são padronizadas, as notas são claras. Já evoluímos muito desde que iniciei as análises sobre as finanças dos clubes pelo Itaú BBA em 2010. Mas não temos uma padronização e clareza completa até hoje.
Para piorar, tivemos uma oportunidade de resolver este problema com as discussões a respeito da Lei Geral do Esporte (LGE). Trata-se de um novo arcabouço legal do esporte no Brasil, que converge uma série de leis e define diretrizes para o esporte em todos os seus níveis.
Questão financeira
Logo, a ideia é ótima, há aspectos importantes relacionados ao comprometimento dos dirigentes em relação a gestão temerária, melhorias nas relações trabalhistas, entre outras. Mas na questão financeira ficou devendo.
A LGE manteve a data de 30 de abril como limite para publicação de demonstrações financeiras dos clubes! Para piorar, ainda criaram um artigo obrigando a implantação de sistemas de Fair Play Financeiro no esporte, jogado no meio de um longo arcabouço legal.
Aliás, cobrar Fair Play Financeiro – até o nome está em desuso no mundo, que passou a chamá-lo de Sustentabilidade Financeira – sem alterar a data de entrega das informações financeiras é tão eficaz quanto celebrar o feliz ano velho.
Evoluímos, mas…
Sendo assim, estamos evoluindo. SAF, liga, investimentos. Mas seguimos pecando numa análise mais ampla sobre a indústria, que permita a construção de algo completo. Seguimos ouvindo sempre as mesmas pessoas, aceitando sempre os mesmos defeitos.
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