- Home
- Mercado financeiro
- Marca Daslu é leiloada por R$ 10,5 milhões
Marca Daslu é leiloada por R$ 10,5 milhões
A marca Daslu, sinônimo de luxo no país até entrar em dificuldades financeiras, foi leiloada nesta terça-feira por R$ 10,5 milhões, considerando também os 5% de comissão ao leiloeiro responsável, a empresa Sodré Santoro. O valor mínimo era de R$ 1,41 milhão e foi disputado por 32 lances no certame. O recurso vai para a massa falida da empresa. O processo foi encerrado e cabe agora ao comprador contactar a justiça e proceder com o pagamento. Ainda não há informações sobre o grupo vencedor no certame. Esta foi a segunda tentativa de vender a marca.
Por décadas, a Daslu foi sinônimo de luxo no Brasil, mas a varejista de roupas acabou trocando os editoriais de moda pelas páginas policiais. A marca que foi epicentro de um escândalo de sonegação de impostos — e nunca voltou a ser o frisson que era.
A história da Daslu começa no fim dos anos 1950 com as socialites Lucia Piva Albuquerque e Lourdes Aranha. Elas passavam as tardes com as amigas da alta sociedade conversando e tomando café em uma casa da Vila Nova Conceição, enquanto apreciavam as coleções mais exclusivas de marcas nacionais. Desses encontros surgiu a loja que se tornou referência no mercado de luxo.
Foi somente em 1990 que a Daslu passou a comercializar marcas estrangeiras, já sob a gestão de Eliana Piva de Albuquerque Tranchesi, que ficou à frente dos negócios após o falecimento de Lucia, sua mãe, na década de 1980. Tranchesi trazia para o país criações exclusivas de Paris e Milão, os polos da moda na Europa. No auge, a marca chegou a movimentar R$ 400 milhões por ano, segundo informações do blog Etiqueta Única.
Tranchesi também foi a responsável por criar a marca própria da Daslu, que contava com roupas, acessórios e sapatos, e por ampliar o leque de produtos vendidos no multimarcas: com cosméticos, lanchas e até helicópteros. Foi ela também que transformou a varejista em um suntuoso templo do luxo, em uma loja de 20 mil metros quadrados no bairro Vila Olímpia, em São Paulo. Na época, a obra custou R$ 100 milhões.
A reviravolta dessa história de luxo e poder aconteceu em 2005, quando a Polícia Federal, em parceria com a Receita Federal e o Ministério Público, deflagrou uma operação para apurar crimes de sonegação de impostos cometidos pelos proprietários da Daslu.
Tranchesi e seu irmão Antônio Carlos Piva, na época diretor financeiro da loja, foram detidos. Eles foram condenados a uma pena de 94 anos pelos crimes de formação de quadrilha, fraude em importações e falsificação de documentos. Ficou provado que por muito tempo os sócios subfaturaram notas fiscais dos produtos vendidos.
Apesar da sentença, a empresária deixou a penitenciária um dia depois de ser presa, pois fazia tratamento quimioterápico contra câncer. Ela faleceu em 2012 da doença.
Com o escândalo, a companhia entrou em recuperação judicial, com dívidas de R$ 80 milhões em 2010. No ano seguinte, a marca acabou sendo vendida por cerca de R$ 65 milhões para o investidor Marcus Elias, do fundo Laep Investments, que também foi dono da Parmalat no país.
A butique ainda atendeu os clientes até 2016 no Shopping JK Iguatemi, quando o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou o despejo da loja, devido a uma dívida de R$ 3 milhões em alugueis. Na época, o jornal Estado de S.Paulo chegou a noticiar que a empresa também estaria enfrentando dificuldades para pagar salários de funcionários e teria dívida superior a R$ 100 milhões.
No mesmo ano, o empresário Crezo Suerdieck, dono do DX Group, especialista na aquisição de ativos em dificuldades, tentou assumir a gestão da empresa com um aumento de capital de R$ 11 milhões. Mas a Justiça cancelou a operação.
No mais recente capítulo dessa história de império em ruínas, Antônio Carlos Piva de Albuquerque foi preso pela Polícia Militar, em São Paulo, na última segunda-feira (30 de maio), condenado a 7 anos e 8 meses de prisão, em regime fechado, por crimes contra a ordem tributária.
Leia a seguir