A quatro dias de divulgação de balanço, presidente da Petrobras faz palestra e fala em ‘lucros exorbitantes’

Jean Paul Prates ainda disse que a empresa fez cortes de despesas que não necessariamente trouxeram mais eficiência

O novo presidente da Petrobras (PETR3, PETR4), Jean Paul Prates, fez uma palestra na noite de sexta-feira passada, em evento da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), na qual classificou os lucros da estatal de “exorbitantes”.

Conforme antecipado pela colunista do jornal “O Globo” Malu Gaspar, o presidente comentou que “não poderia estar” fazendo palestra, pois estaria em “período de silêncio” – época em que os executivos normalmente evitam se manifestar em público sobre assuntos que envolvem a companhia, devido à proximidade de divulgação de balanço.

A Petrobras anuncia seu desempenho do quarto trimestre no dia 1º de março, após fechamento dos mercados.

“O pessoal de lá [da Petrobras] tem uma máquina de proibir coisas. E aí logo me proibiram, ‘não você não pode fazer palestra agora porque está no período de defeso’. Não é o período de ‘defeso’, é o período de silêncio do balanço”, disse.

“Eu não poderia realmente estar aqui, eu fiz uma negociação interna para dizer ‘olha não vou dizer nada novo, não vou dizer notícia nova, não vou dizer para onde a gente vai, necessariamente, mas aqui entre nós vamos falar um pouquinho sim, sem comprometer demais”, disse. “Se chegar a multa da CVM [Comissão de Valores Mobiliários] eu mando o Amaro dividir comigo”, completou, citando o presidente da Fiern, Amaro Sales.

Em sua fala no evento, ele fez uma apresentação mostrando números da Petrobras, com dados sobre empregados, investimentos, produção diária, reservas provadas, e lucro líquido. Na apresentação, ele menciona o lucro líquido da empresa de 2021, de R$ 107,75 bilhões. “Olha uma desproporção bastante interessante, né”, disse. “Quem olha para esse número fica pensando”, disse. “Eu vou aqui cuidar das minhas palavras. Tenho que ter cuidado, Amaro, porque semana que vem é o anúncio do balanço”, disse. “Mas há claramente, mesmo [para] quem não entende de números financeiros, uma discrepância muito grande” disse. “A quantidade é dez vezes maior de lucro líquido, distribuído, para o que está sendo dedicado a investimento”, disse, citando um valor de investimentos de US$ 9 bilhões ao ano, em slide de sua apresentação.

Prates comentou ainda que, em seu entendimento, a empresa fez ainda cortes de despesas que não necessariamente trouxeram mais eficiência à companhia. Ele citou que a empresa tem hoje cerca de 38 mil funcionários, mas que já foram em torno de 70 mil.

Em sua fala no evento, o executivo também citou administrações passadas da empresa. Em seu entendimento, a “Petrobras passou por um processo ruim” no passado. Nas palavras de Prates, a companhia passou por “processo de cooptação por cartéis, por empresas”, referindo-se indiretamente ao escândalo do “Petrolão”, esquema bilionário de corrupção descoberto na companhia há quase dez anos.

O executivo comentou ainda, em sua fala, sobre menor presença de Petrobras, no Estado do Rio Grande do Norte, nos últimos anos. “Nós vamos com certeza muito tempo juntos, a Petrobras fica no Rio Grande do Norte”, disse.

Prates comentou a empresa estava em vias de sair do Rio Grande do Norte, antes de sua administração, e que isso seria “repensado”. “Ela [a Petrobras] quer ficar, ela está entranhada na histórica econômica do Rio Grande do Norte”, disse.

Em sua fala no evento, o novo presidente da Petrobras não fez nenhuma menção a resultado futuro da companhia. Tampouco mencionou sobre as atuais discussões de retorno ou não de tributação em alíquotas para preços de combustíveis, atualmente em discussão pelo governo federal.

Segundo as regras da CVM, não existe período de silêncio pré-balanço. O período de silêncio de uma empresa refere-se a ofertas públicas, de forma geral. Por outro lado, se um administrador de companhia aberta fizer alguma declaração de informação relevante sem que a companhia tenha divulgado esse dado, ele pode ser questionado pela CVM. Ou seja, não existe uma regra específica, da autarquia, que obrigue a empresa a ficar em período de silêncio antes da divulgação de um balanço, mas qualquer informação relevante precisa ser comunicada oficialmente.

Já a companhia pode ter suas próprias regras e regimentos internos específicos sobre declarações públicas de executivos.

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