Fed, Libra, Copom, eleição, Cyrela: 5 palavras explicam como foi setembro nos mercados
Em setembro, os investidores juntaram os diversos sinais surgidos nos meses anteriores para concluir que, de fato, uma grande mudança no cenário econômico global está em curso.
É o fim de uma era. Desde 2008, quando estourou uma monstruosa crise financeira a partir de calotes nos financiamentos imobiliários nos Estados Unidos, os governos de muitos países desenvolvidos vinham utilizando medidas de estímulo para manter a economia girando. Principalmente derrubaram os juros para os menores níveis na história e injetaram dinheiro no mercado comprando títulos de dívida ou outros ativos financeiros dos bancos.
Esses recursos inundaram o mundo. Além de serem usados para fomentar a atividade produtiva, passaram a ser aplicados no mercado de capitais, em investimentos cada vez mais arriscados. As startups, empresas de tecnologia embrionárias, foram bastante favorecidas por essa riqueza, por exemplo.
Mas aí veio a pandemia do novo coronavírus, rompendo cadeias produtivas e mudando para sempre os hábitos de consumo. Os preços de todo tipo de mercadoria subiram, de comida a equipamentos eletrônicos.
Nem bem o mundo começou a se recuperar da Covid-19, a Rússia invadiu a Ucrânia para tentar tomar posse de seu terrítório. O petróleo e o gás natural, fontes vitais de energia na Europa, dispararam. Grãos e cereais, que a Ucrânia produz em abundância, também avançaram, gerando a pior crise alimentar desde 2008. E inflação. A maior taxa em 40 anos na Zona do Euro e nos EUA, índices há muito não vistos no Brasil e em outras nações emergentes.
Os bancos centrais passaram, então, a fazer o movimento contrário ao dos anos anteriores, interrrompendo as compras de ativos financeiros e aumentando os juros.
Os principais eventos que mexeram com os mercados no mês de setembro estão relacionados com essa transformação.
Fed
Demorou um pouco para os investidores acreditarem que o arrocho é para valer. Porém, quando o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) anunciou, em 21 de setembro, o terceiro aumento consecutivo de 0,75 ponto percentual da taxa básica de juros, acabaram as dúvidas. Os juros nos EUA agora estão no intervalo 3%-3.25% ao ano, o mais alto desde meados de 2007, e os membros do comitê de política monetária do banco estão frisando que não descansarão até levar a inflação para a meta de 2% no ano – no acumulado de 12 meses até agosto, ficou em 8,3% ante igual intervalo de 2020. Os investidores saíram correndo dos ativos tidos como mais arriscados, a exemplo das ações de empresas negociadas na Bolsa de Valores, para se refugiar na renda fixa, notadamente nos títulos do Tesouro americano. Assim, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, sofreu perdas de 8,8% no mês, enquanto a Nasdaq, a Bolsa de tecnologia americana, desabou 10,5%.
Libra esterlina
Com medo de que a rápida elevação de juros pelo Banco da Inglaterra e a crise de energia leve o Reino Unido à recessão, a primeira-ministra Liz Truss, que acabou de assumir o cargo, anunciou um generoso pacote de corte de impostos. O aumento previsto do imposto de renda corporativo, que levaria a tributação de 19% para 25%, foi cancelado, assim como uma elevação do imposto sobre bebidas alcoólicas. Impostos sobre a compra de residências foram reduzidos, e a tributação da renda dos mais ricos foi cortada de 45% para 40%. O corte total é estimado em 45 bilhões de libras (R$ 264,9 bilhões pela taxa de câmbio atual) até 2026. Para cobrir esse rombo no orçamento, o governo britânico vai ter que se endividar. Com medo de que o país enfrente dificuldades nessa estratégia, os investidores abandonaram os ativos financeiros britânicos, fazendo a libra esterlina recuar 3,94% no acumulado de setembro, para US$ 1,1178 atualmente. No pior momento do mês, na segunda-feira (26), chegou a ficar abaixo de US$ 1.
Copom
O Brasil também está sofrendo com a inflação, porém começou a aumentar os juros praticamente um ano antes dos EUA e da Europa, em março de 2021, e agora está colhendo os frutos, vendo os preços desacelerar. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registrou em agosto a segunda deflação seguida, de 0,36% em relação a julho. Assim, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) parou em setembro de elevar a Selic após 12 altas consecutivas, que deixaram a taxa em 13,75% ao ano, o maior nível desde novembro de 2016. Os investidores estão apostando que a Selic continuará nesse nível ao menos até o final de 2022, conforme a inflação permaneça comportada.
Eleição
Diferentemente dos pleitos de 2014 e 2018, a eleição presidencial pouco afetou os preços dos ativos financeiros. Por dois motivos: primeiro, os líderes da corrida – o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o incumbente, Jair Bolsonaro (PL) – já são bem conhecidos dos investidores; segundo, a preocupação com os efeitos de longo prazo da crise mundial ofuscou as incertezas domésticas. Quando a eleição mexeu com o mercado local, foi de maneira positiva: o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, disparou 2,2% na sexta-feira (30) devido aos boatos de que o ex-presidente do Banco Central (2003-2011) e ex-ministro da Fazenda (2016-2018) Henrique Meirelles havia sido convidado para comandar a equipe econômica de um eventual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Meirelles negou, mas, a essa altura, o rumor já tinha ajudado o Ibovespa a terminar setembro com elevação acumulada de 0,5%.
Cyrela
Juros altos são inimigos de empresas cujos clientes dependem de financiamento para comprar, como as construtoras. No entanto, pior ainda é a incerteza de quanto tempo um ciclo de elevação da Selic vai durar. A expectativa de que a taxa básica atingiu seu pico e vai permanecer nesse patamar por algum tempo ajudou as empresas voltadas ao mercado interno em setembro, pois dessa maneira os consumidores conseguem se planejar para pagar as parcelas de um empréstimo sem sustos, mesmo que sejam mais caras do que antes. A companhia aberta mais beneficiada por esse otimismo foi a Cyrela, construtora de imóveis de alto padrão que atua principalmente em São Paulo, no Rio de Janeiro e na região Sul do país. Sua ação subiu 29,59% durante o mês, para R$ 18,35. Foi a maior alta entre as 120 empresas do Ibovespa, segundo levantamento do TC/Economática.
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