- Home
- Mercado financeiro
- Política
- A expectativa do mercado para o 1º turno das eleições
A expectativa do mercado para o 1º turno das eleições
A dois dias da disputa do primeiro turno das eleições 2022, o mercado já se prepara para os cenários que podem configurar a disputa nas urnas. Com uma acirramento da corrida ao Planalto entre Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT), há o consenso de que ambos devem concentrar ainda mais os votos no domingo (2).
Mas economistas e chefes de agências de investimento entrevistados pela Inteligência Financeira sustentam que a disputa entre Bolsonaro e Lula será mais apertada do que mostram as pesquisas eleitorais mais recentes — algumas fornecem um cenário onde petista leva a eleição no primeiro turno.
Mercado prefere Bolsonaro
Para Rafael Bombini, assessor da DOM Investimentos, o mercado entende que será uma disputa “muito acirrada” entre Lula e Bolsonaro. Mas, no momento, especialistas citam uma preferência pela reeleição de Jair Bolsonaro.
“De maneira geral, o mercado prefere a certeza ruim do que a incerteza”, diz Bombini. Hoje, afirma o assessor, existe uma predileção para ter Bolsonaro ocupando o Planalto pela certeza sobre sua equipe econômica, que muito provavelmente terá Paulo Guedes, caso seja reeleito. “O mercado prefere ele [Bolsonaro] a Lula, porque nós não sabemos qual será sua equipe econômica e quais serão os ministros que ele vai trazer”, conclui.
O mercado também espera um risco maior caso Lula vença as eleições, e mesmo que a tendência imediata do Ibovespa seja de queda nesse caso, o índice deve subir no médio e no longo prazos, após as eleições. “Independentemente de quem ganhar, há uma margem grande para crescimento da bolsa”, explica Francisco Levy, estrategista-chefe da Empiricus Gestão.
Para o especialista, no entanto, essa margem para valorização da bolsa torna-se maior no caso de reeleição do presidente. O trunfo é a repetição do que chamou de “dobradinha Bolsonaro-Guedes”.
Vitória de Lula no 1º turno
Bombini, da DOM, descreve que a expectativa do mercado é de uma diferença baixa de votos válidos entre Lula e Bolsonaro no domingo. Levy também explica que economistas veem um aperto na votação entre os dois candidatos.
A pesquisa Exame/Idea divulgada nesta manhã aponta que Lula tem 47% das intenções de voto, contra 37% de Bolsonaro. A vantagem do petista subiu de 8 para 10 pontos percentuais.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, argumenta que ponto chave para o desfecho eleitoral no primeiro turno será a abstenção. As chances de encerramento do pleito no domingo variam com o grau de eleitores de Lula e Bolsonaro que não comparecerem às urnas.
“Estimamos que, se 20% de eleitores que tradicionalmente não comparecem ao pleito, menos de 40% votarem no Lula, eleva-se muito a chance de assistirmos a eleição acabar neste domingo”, afirma Sanchez. O cenário só é possível considerando que os eleitores de Bolsonaro e Lula têm a mesma pretensão de voto.
Já a última pesquisa Genial/Quaest mostra que ainda há margem de crescimento para o chamado voto útil entre eleitores de Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e outros candidatos. Dos que pensam em transferir o voto para Lula, 24% tomariam essa decisão para encerrar a eleição no primeiro turno. Cerca de 10% estão indecisos sobre a estratégia.
Bolsonaro contra Lula no 2º turno
O cenário de 2º turno é tido como mais provável pelos economistas consultados pela IF. A previsão do mercado é de que, nessa etapa do pleito, Lula detalhe melhor sua política econômica.
O candidato do PT pode, no segundo turno, definir a equipe econômica e o ministro da Fazenda. A aproximação dele com empresários durante um jantar na quarta-feira melhora a visão dos investidores mais céticos quanto a um possível terceiro mandato, o que, por sua vez, ajuda a aproximar o petista da Faria Lima.
“Lula tem sido muito enigmático sobre seu plano econômico. Ele tem ficado em cima do muro, e teve uma conversa bastante previsível com os empresários”, avalia Levy, da Empiricus Gestão.
Na avaliação do estrategista e gestor de investimentos, Bolsonaro terá um desafio caso passe para o segundo turno.
O presidente deve tentar frear sua rejeição — a maior entre os candidatos à Presidência. Para isso, é esperado ele se apoie em um cenário econômico cada vez mais favorável. A inflação registrou a terceira queda consecutiva em setembro, e Banco Central encerrou seu ciclo de alta nos juros — artifícios que o candidato do PL pode usar a seu favor.
“O segundo turno terá muito pano para a manga. Com a economia andando bem, Bolsonaro pode tentar superar a rejeição. Será, novamente, uma disputa acirrada”, diz Levy.
Incerteza fiscal
Com Lula ou Bolsonaro, o veneno que pode corroer os índice da bolsa é a incerteza fiscal que aguarda o próximo presidente. Com uma perspectiva de piora das contas públicas para o ano que vem e “bombas fiscais” armadas, a expectativa recai sobre novidades no arcabouço fiscal brasileiro e a condução da relação dívida/PIB, diz Alexandre Espírito Santo, economista chefe da Órama Investimentos.
“Independentemente do resultado, o que o mercado financeiro deseja é saber como ficará o lado fiscal do futuro governo. Não sinto que o mercado esteja preocupado com quem vencerá, se teremos ou não 2º turno, pois todos sabemos o que precisa ser feito. O pior que pode ocorrer são incertezas, ruídos, contestações. Aí não seria bom”, pontua Alexandre.
Leia a seguir