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Análise: popularidade será fiel da balança nas decisões do governo
O primeiro revés do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), na queda de braço com a ala política do Planalto mostra que as decisões do novo governo terão como norte a necessidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) preservar a popularidade no início da terceira gestão.
Sempre que houver um embate na área econômica sobre medidas de austeridade fiscal, a balança vai pender para o bloco que defende a governabilidade e o cumprimento das promessas eleitorais feitas pelo presidente durante a campanha.
O episódio da prorrogação da desoneração dos combustíveis, arbitrado por Lula em favor dos aliados do PT que temiam uma súbita elevação dos preços da gasolina e do diesel nas bombas, é pedagógico sobre o modo de agir do recém-empossado chefe do Executivo.
Lula deixou que Haddad conduzisse as tratativas sobre a prorrogação do corte de PIS/Cofins com a equipe de Paulo Guedes durante a transição, avalizando a suspensão definitiva da medida após ouvir os argumentos do seu novo ‘guru’ econômico.
Coube ao então nomeado ministro a exposição pública para anunciar a decisão, que ajudava os números do caixa da União para 2023, postergando a eventual edição de nova extensão da desoneração para um debate mais maduro dentro da nova administração.
Identificando o flanco aberto pelo PT, os auxiliares de Jair Bolsonaro se apressaram em avisar o eleitorado sobre a iminente subida dos preços logo na virada do ano, atribuindo a Lula o impacto amargo no bolso do contribuinte.
O contra-ataque veio dos petistas que hoje fazem a cabeça do presidente. A principal dirigente da sigla, a deputada federal Gleisi Hoffmann, em aliança com o ex-coordenador do programa de governo Aloizio Mercadante, agora à frente do BNDES, alertou Lula para os riscos de enfrentar uma crise logo na largada do mandato.
Na avaliação de ambos, caso se consolidasse a percepção de que a sua nova gestão estaria rompendo um ciclo de estabilidade nos preços, com efeito imediato na inflação, o presidente ficaria vulnerável a uma queda precoce nos índices de avaliação popular. E mais: engajaria ativistas alinhados ao ex-presidente, como os caminhoneiros, num movimento com potencial explosivo em tempos de polarização radicalizada e grupos ainda defendendo ruptura institucional na frente de quartéis e instalações militares.
Números
O diagnóstico não é subjetivo. Há dados disponíveis no entorno de Lula que indicam o tamanho do desafio que se apresenta ao petista.
Todas as pesquisas realizadas após a eleição mostram que o “Lula 3” nasce com menor taxa de expectativa de sucesso, ou seja, com menor torcida da população para que dê certo, desde a redemocratização. O consenso dos dados colhidos até aqui aponta que esse índice é, em média, de 50%, menor que os 57% alcançados por Bolsonaro no início de 2019 — menor marca até então.
Esse quadro capturado pelos institutos explica a insistência do Lula em potencializar a herança maldita, em falar do que chama de “desmonte do Estado” e das dificuldades orçamentárias.
Os grãopetistas admitem que Lula começa uma gestão, pela primeira vez, com um teto de popularidade. É bastante improvável, avaliam essas fontes, que ele consiga repetir os números robustos de aprovação que obteve outrora.
Dilema
Diante do cenário, Haddad está recebendo os primeiros indicativos da dimensão dos desafios de sua atuação à frente da Fazenda. O ministro abre sua passagem pela chefia da equipe econômica reforçando a imagem de “moderado” e até fiscalista, se levados em consideração os atores com quem vai disputar espaço político no coração do governo Lula.
A base de comparação o ajuda, mas ele não pode prescindir do vigor da sua caneta e não deve aceitar como naturais derrotas para players políticos com acesso franqueado ao presidente, sob pena de perder a autoridade e a legitimidade com os formadores de opinião no sistema financeiro, que hoje lhe conferem um voto de confiança.
FÁBIO ZAMBELI – Analista-chefe em São Paulo. Jornalista com 28 anos de experiência em cobertura política e dos Três Poderes em São Paulo e Brasília. Foi repórter e editor da Folha de S. Paulo e diretor de inteligência e atendimento na área pública da FSB Comunicação.
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